Preço do boi sobe em SP e recua no Rio Grande do Sul

Preço do boi sobe em SP e recua no Rio Grande do Sul

Demanda internacional sustenta preços em outras regiões, mas não no Sul, mais voltado aos mercados regionais e pressionado pela estiagem

Patrícia Feiten

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A restrita oferta de animais para abate e a forte demanda internacional pela carne bovina brasileira vêm sustentando a arroba do boi gordo em níveis acima de R$ 330 no estado de São Paulo desde o início do ano, segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No Rio Grande do Sul, apesar da retração nos abates, os preços do quilo vivo estão em queda e refletem impactos da estiagem e da perda de renda do consumidor de carnes, avaliam especialistas do setor agropecuário.

Na última quinta-feira (17), o indicador do Cepea avançou para R$ 345,90. Depois, na sexta-feira, recuou para R$ 340,90. Focado no mercado gaúcho, o levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro) mostra redução de 0,22% – para R$ 10,92 – do valor do boi gordo expresso em quilo vivo na semana passada frente à semana anterior. O quilo vivo da fêmea também teve variação negativa, de 0,56%, saindo de R$ 9,98 para R$ 9,92.

O professor Júlio Barcellos, coordenador do NESPro, observa que no ano passado houve queda de 16,5% no número de animais abatidos no Estado ante 2020. Com a retomada das exportações de carne bovina, principalmente para a China, Egito e Estados Unidos, a cotação do boi no Brasil Central aumentou mais que no Sul do país, afirma Barcellos. “No Rio Grande do Sul, há menos exportação, o destino da carne são mercados regionais, e há uma queda do poder aquisitivo que se reflete no consumo”, explica.

Segundo o coordenador do NESPro, a estiagem no Estado vem obrigando os pecuaristas a destinar mais animais para o abate, na tentativa de compensar parte dos prejuízos com a safra agrícola. “Aquilo que chega numa condição mínima para o frigorífico o pecuarista está vendendo, isso aumenta a oferta e derruba preços”, analisa.

Além da estiagem, o diretor do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Farias, destaca a pressão dos custos de insumos agropecuários – como o milho das rações animais e fertilizantes usados em pastagens. O que mantém os preços nos níveis atuais, afirma, são os cortes destinados à exportação – especialmente para a China – originados de animais jovens, com no máximo quatro dentes ou 2,5 anos de idade. “Os originados de animais adultos são inteiramente para o mercado interno e têm uma precificação bem inferior”, avalia.

Para o vice-presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), João Francisco Wolf, o fato de o Rio Grande do Sul produzir uma única grande safra por ano gera desvantagens em relação ao resto do país. “Antigamente faltava comida (para o gado) no inverno, hoje falta no verão”, compara o produtor. 


Correio do Povo
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