Produtor retém oferta de soja para vender melhor

Produtor retém oferta de soja para vender melhor

Expectativa do setor é que as cotações subam nos próximos meses

Patrícia Feiten

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Apesar dos preços firmes da soja, os produtores brasileiros estão segurando as vendas do grão no mercado interno, de acordo com consultores de agronegócio. Com a recuperação do dólar nas últimas semanas, a expectativa do setor é que as cotações subam nos próximos meses, em meio à oferta global apertada e às incertezas com relação ao desempenho da safra dos Estados Unidos, que começa a ser plantada. No mercado à vista (spot) nacional, o Indicador Esalq/BM&F Bovespa da soja com base no porto paranaense de Paranaguá avançou 1,38% entre os dias 22 e 29 de abril, chegando a R$ 195,24 a saca de 60 quilos. No mesmo período, o Indicador Cepea/Esalq – Paraná aumentou 2,43%, fechando a R$ 191,16.

O analista Luiz Fernando Gutierrez, da consultoria Safras & Mercado, diz que a redução da oferta em razão da quebra da safra brasileira de soja vem turbinando os prêmios de exportação do grão, garantindo um suporte aos preços. “A briga pela soja no Brasil está muito forte. Isso está mantendo os prêmios elevados e deve continuar assim pelo resto do ano”, avalia. Segundo Gutierrez, as atenções agora estão focadas na safra americana e nos preços dos contratos futuros negociados na Bolsa de Chicago. O Departamento de Agricultura do país (USDA, na sigla em inglês) projeta o plantio de cerca de 38 milhões de hectares de soja neste ano, um aumento de 4,4% em relação à área semeada em 2021. “Se tiver problemas climáticos, o preço vai ficar mais forte; se não tiver, é possível que caia”, afirma Gutierrez.

A economista Sílvia Bampi, da consultoria StoneX, observa que, no período pré-colheita, as cotações da soja chegaram a ultrapassar R$ 200 a saca no Brasil, mas perderam força com o recuo do câmbio, que também reduziu os prêmios de exportação. “O dólar voltou ao patamar de R$ 5 nos últimos 15 dias, o preço (da soja) começou a acompanhar esse movimento, e isso está fazendo com que o produtor se retraia mais”, explica Sílvia. Para a economista, os temores de um efeito negativo dos lockdowns na China no crescimento econômico global e na demanda por commodities agrícolas trazem incertezas quanto ao comportamento dos preços no segundo semestre. “O produto dever ter cautela, escalonando a comercialização, porque daqui a pouco vamos deixar passar algumas boas oportunidades”, alerta.


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