Índios mantêm ocupação na Floresta Nacional em Canela

Índios mantêm ocupação na Floresta Nacional em Canela

Caingangues pedem estudo antropológico para comprovar que seus ancestrais habitaram o local <br />

Halder Ramos

Indícios arqueológicos comprovariam que a área foi habitada por caingangues

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O impasse envolvendo a Floresta Nacional (Flona) de Canela continua. Um grupo de 30 caingangues ocupa parte da área desde 16 de julho. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) entrou com pedido de reintegração de posse do espaço, que tem por objetivo o manejo florestal sustentável e a pesquisa científica. Em decisão da 3ª Vara Federal de Caxias do Sul, os índios foram notificados a desocupar após audiência conciliatória. O prazo se encerrava à meia-noite da última quarta-feira. No entanto, o grupo pretende permanecer até que um estudo antropológico seja feito.

Na audiência, a ação acabou extinta sem resolução do mérito e foi determinada a expedição de mandado para verificação da desocupação voluntária, cumprido na manhã de ontem. Conforme a assessoria do Judiciário, o oficial de Justiça deve relatar a situação que presenciou no local e juntar as informações ao processo. Não há prazo estabelecido para cumprimento da decisão.

O principal argumento dos caingangues para ficar é que a área foi ocupada por ancestrais. O grupo descende do cacique Zílio Salvador, que faleceu há um ano e pleiteava a permanência. “Esperamos que a Justiça faça um levantamento antropológico. Queremos viver na terra que sempre foi nossa. Vamos permanecer até a conclusão do estudo”, afirma Eduardo Daniel Salles, um dos representantes. Conforme ele, existem indícios arqueológicos que comprovam que a área foi habitada por caingangues no passado. Em incursões pelo local, eles dizem ter encontrado evidências dessa tese, como peças de argila esculpidas artesanalmente e a existência de cavernas em meio à mata. “Nossos antepassados moravam nessas cavernas.”

Salles diz que os ancestrais habitavam o espaço antes de ser Floresta Nacional. “Para o índio, está provado que a terra é nossa. Se a Justiça entende que não, deve determinar que seja feito o estudo antropológico.” Segundo ele, o grupo não tem para onde ir.  

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895