Câmara de Campo Bom aprova o relatório de CPI

Câmara de Campo Bom aprova o relatório de CPI

Foi apurada a ocorrência de seis mortes em março após interrupção no fornecimento de oxigênio em hospital

Stephany Sander

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Foi aprovado por unanimidade, em sessão nessa terça-feira, na Câmara Municipal de Vereadores de Campo Bom, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada com o objetivo de esclarecer o que ocorreu nas dependências do Hospital Dr. Lauro Reus, na manhã do dia 19 de março, quando a falta de oxigênio levou seis pacientes a óbito.

Segundo o relatório, ficou comprovado que o oxigênio do Hospital Dr. Lauro Réus é fornecido de forma exclusiva pela empresa Air Liquide e a mesma foi ineficaz na leitura e operação do próprio sistema de telemetria. Segundo os relatórios, o sistema é eficiente e, se acompanhado, permitiria programar as recargas necessárias com segurança, o que não ocorreu.

O texto ainda aponta que na manhã do dia 18 de março, um dia antes das mortes, às 7h20min, os níveis de oxigênio do Hospital já estavam em 39.59%, sendo que abaixo de 40% já é situação de reabastecimento e abaixo de 30% situação de emergência. O consumo de oxigênio passava pelo seu pico, e de acordo com o relatório da telemetria, pouco após às 5h33min da manhã do dia 19 de março, a primeira bateria reserva teria entrado em funcionamento, pois o percentual disponível no tanque de oxigênio líquido era de 5,07%.

O tanque principal zerou o oxigênio por volta das 7h30min, quando houve a primeira instabilidade no sistema, na UTI e Emergência, que passou a trabalhar apenas com a bateria reserva, que entrou automaticamente duas horas antes, mas que não possuía sozinha, a pressão necessária para atender equipamentos sofisticados que necessitam de mais pressão, como os respiradores. A primeira bateria reserva acabou pouco antes das 8h da manhã e a segunda bateria reserva precisava ser acionada de forma manual, não havendo profissional de manutenção habilitado para fazê-lo. A equipe de manutenção havia mudado há quatro dias e o antigo profissional, que encerrou suas atividades no dia 14 de março, foi chamado para fazer o acionamento, que ocorreu apenas por volta das 08h40, e com auxílio remoto de técnicos da Air Liquide. Ainda conforme o relatório, a falta de oxigênio ocorreu no horário da troca de turno dos enfermeiros da UTI, fato que de certa forma amenizou a situação, pois havia um maior número de profissionais no local, que logo se mobilizaram em ambuzar manualmente os pacientes até a chegada dos cilindros de oxigênio de transporte, que foram sendo disponibilizados aos pacientes, individualmente.

A empresa de manutenção DPG, contratada pela Associação Beneficente São Miguel, também apresentou falhas, pois deveria ter sido mais incisiva junto a Air Liquide, no dia anterior, exigindo o reabastecimento imediato, devido ao estado crítico em que se encontravam. Também falhou ao não permanecer no Hospital e não estar nas dependências no dia seguinte, pois tinha ciência do baixo nível de oxigênio disponível no tanque.

Segundo o relatório, a Associação Beneficente São Miguel, empresa mantenedora do Hospital, deveria ter profissional habilitado para operar o Backup, também deveria, como gestora, garantir uma eficiente transição de trabalho entre empresas, quando ocorresse a substituição. Falhou ainda, ao não reportar a Air Liquide, de imediato, sobre o aviso sonoro de baixa de pressão do tanque. Ciente do risco de falta, no dia anterior, falhou também ao não ter criado protocolos que amenizassem a possível ocorrência. Agora, a comissão, remeterá uma cópia integral de todo o trabalho realizado pela CPI, acompanhada de todos os documentos que a instruem, ao Ministério Público, Polícia Civil e Executivo Municipal. Fará ainda, os apontamentos pertinentes à Associação Beneficente São Miguel.

Os vereadores ainda sugerem as seguintes ações: que ocorram, ao menos três leituras diárias, inclusive aos finais de semana, junto ao tanque de oxigênio líquido; que pelo menos um profissional de cada turno seja treinado para operar o sistema de baterias reserva; que se estabeleça um canal de contato rápido, junto a empresa fornecedora do insumo, para situações de emergência; que sejam disponibilizadas placas informativas dentro da Central Backup, afim de facilitar o acionamento das baterias; que sejam disponibilizadas placas informativas junto aos alarmes internos do hospital, solicitando que se reporte imediatamente a empresa responsável pelos gases e a equipe de manutenção, em caso de emergência; que seja efetuado plano de contingência, para casos de falta de oxigênio e se tenha um estoque de ambus e cilindros, de fácil acesso aos colaboradores e todos estes colaboradores, tanto da manutenção, técnicos, enfermeiros e médicos, sejam treinados de como operar o plano de contingência que deverá ser criado.

Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Lauro Reus, a direção da gestora e do Hospital não irão se manifestar neste momento. Reiteram que se mantém à disposição da justiça e das instituições e que continuam a colaborar para o andamento das investigações o quanto for necessário.

A Air Liquide se manifestará somente após ter acesso ao relatório final da CPI e analisá-lo, o que ainda não ocorreu. Reitera, no entanto, sua postura de total colaboração com as autoridades e investigações em curso, bem como sua total confiança de que ficará demonstrado que não teve qualquer responsabilidade nos eventos objeto do procedimento.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895