Comunidade abraça salvamento de prédio histórico em Rio Pardo

Comunidade abraça salvamento de prédio histórico em Rio Pardo

Local está fechado para visitação desde o final de 2016

Otto Tesche

Construído em 1790, prédio está com infiltrações e outros problemas estruturais

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Um grupo de pessoas da comunidade ou com laços familiares com Rio Pardo decidiu unir-se para garantir a preservação do prédio mais antigo da cidade. A Associação de Amigos do Solar do Almirante (Aasa), fundada em 17 de janeiro deste ano, receberá nesta quinta-feira do prefeito Rafael Reis Barros as chaves do prédio que abrigou durante muitos anos o Museu Municipal Barão de Santo Ângelo. O ato ocorre na frente do prédio, mas em caso de chuva será no gabinete do prefeito. No dia 5 de novembro, a entidade já obteve a cessão de uso provisória do imóvel da Superintendência do Patrimônio Histórico da União.

Construído em 1790, o Solar Almirante Alexandrino de Alencar não recebe mais pessoas para visitação desde o final de 2016, quando foi brevemente reaberto após a inauguração das obras de reforma. No entanto, em consequência das infiltrações e outros problemas estruturais, o prédio pouco depois voltou a ser fechado, com a transferência de parte do acervo do museu para o Centro Regional de Cultura Rio Pardo. Preocupada com a manutenção e conservação do patrimônio arquitetônico, histórico e cultural que sofre com o abandono e a deterioração em Rio Pardo, a Aasa pretende, inicialmente, dar prioridade ao solar.

A presidente da entidade, Patricia Boeira da Fontoura, afirma que possui paixão pela história de Rio Pardo e do Rio Grande do Sul. A preocupação com o solar surgiu ao ver um vídeo no ano passado sobre as condições internas do prédio. Ao conversar com amigos, em pouco tempo surgiu a articulação de um grupo de 12 mulheres e começou o primeiro passo para a formação da associação, com a elaboração do estatuto. “A preocupação principal da entidade é tomar iniciativas que produzam riquezas, cultura e vida social para Rio Pardo”, destaca Patricia.

Por meio de indicações, o grupo envolveu pessoas com conhecimento na área do patrimônio histórico para traçar os objetivos do restauro. Patricia explica que havia conhecimento que a cessão de uso do prédio não pertencia mais ao município de Rio Pardo. Diante disso, houve contatos com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e o Ministério Público Federal, com o encaminhamento de toda a documentação para obter a cessão do solar.

Patricia afirma que a associação pretende atualizar a patologia da construção e a estimativa do valor necessário para manter a estrutura de pé. A ideia, conforme a advogada, é chamar a comunidade para colaborar, fazer vaquinhas, eventos e outros projetos para obter recursos. “O objetivo da Aasa é restaurar o prédio em etapas, contando com o apoio da iniciativa público e privada, para que possa se tornar um espaço autossustentável, em condições de abrigar atividades culturais e artísticas”, diz Patricia. As intervenções mais urgentes são no telhado e nas paredes externas para estancar as infiltrações. A ideia é transformar o local em um centro cultural, onde “a comunidade se sinta o dono”. O retorno do acervo do museu ao local está descartado.

O prédio, na rua Almirante Alexandrino, esquina com a rua São Francisco, se configura como um típico sobrado do século 18, reunindo soluções funcionais, construtivas e estéticas, representativas do período colonial da história brasileira. Desta forma, a construção é considerada como um dos mais significativos remanescentes desta fase da arquitetura brasileira no Estado. O pavimento térreo serviu como ala comercial e de serviços, com área construída de 120,61 metros quadrados. O pavimento intermediário abrigava a cozinha doméstica, com 53,13 metros quadrados, enquanto a parte superior ou sobrada era a ala residencial, com 120,61 metros quadrados.

A construção do prédio ocorreu em 1790, por Mateus Simões Pires, um dos primeiros açorianos a chegar em Rio Pardo. O sobrado, de arquitetura colonial, foi erguido em barro e madeira dois metros acima do nível da rua. Inicialmente era um prédio comercial, composto de 12 salas e uma senzala em dois pavimentos. Alexandrino de Alencar nasceu no local em 2 de outubro de 1848. Ele teve importante papel na política e na Marinha, fez propaganda republicana, participou da revolta de Saldanha da Gama, serviu na esquadra brasileira em operações no Paraguai combatendo sob as ordens de Tamandaré e Barroso, foi senador, ministro do Supremo Tribunal Militar e ministro da Marinha. Casou com Amália Murray Simões e Santos e teve duas filhas e um filho.


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