Esteio encerra operação de acolhida a venezuelanos com "sensação de missão cumprida"

Esteio encerra operação de acolhida a venezuelanos com "sensação de missão cumprida"

Pioneiro convênio da prefeitura com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados terminou neste domingo

Christian Bueller

Edgar Salazar e as filhas foram alguns dos beneficiados pelo programa

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A vida de Edgar Salazar não foi fácil. Depois de trabalhar 25 anos em uma petroleira na Venezuela, uma demissão resultou na intenção de buscar um contexto melhor para a família. Seu destino foi um estado de Roraima hospitaleiro, mas de poucas oportunidades. Após sete meses de indefinições e sapatos que costurava para sustentar esposa e filhas, surgiu a chance de uma guinada no sul país. Mais precisamente em Esteio. Desde setembro de 2018 o município gaúcho iniciou um processo de interiorização de refugiados, a Operação Venezuela, encerrada oficialmente neste domingo, em uma cerimônia emocionada.

Um convênio da prefeitura de Esteio com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur/ONU) foi firmado para a abrigagem das pessoas trazidas pela chamada Operação Acolhida. O processo, coordenado pelo então Ministério do Desenvolvimento Social (hoje ligado ao Ministério da Cidadania), tinha um prazo de seis meses, completados em março. “Somos a primeira prefeitura cidade do Brasil a participar de um projeto como este. Normalmente, é liderado por entidades, associações. Não imaginávamos como poderia ser. Mas demos conta do recado”, conta o prefeito de Esteio Leonardo Pascoal. Dois sentimentos tomavam conta da secretária municipal de Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo (SMCTE), Tatiana Tanara. “Sensação de missão cumprida, mas também de vazio”, revela, olhando para um dos abrigos que se tornaram lar dos venezuelanos.

Passados os seis meses, a Acnur não repassará mais, como fez desde setembro do ano passado, os valores para o pagamento do aluguel dos dois prédios onde Edgar e outros 220 compatriotas foram alojados desde a sua chegada. Mas, o término do contrato não significa, no entanto, que os refugiados deixarão de ser acompanhados pela Prefeitura. “O cuidado social, que recebe recursos do convênio com o Ministério da Cidadania, continuará sendo realizado, com medidas que envolvem, por exemplo, o atendimento na rede de assistência social do município, apoio à inserção no mercado de trabalho e aulas de português”, diz Tatiane. “Pude trazer, há um mês, minha esposa e minhas gêmeas, Paola e Paulina”, sorri Edgar. O ex-petroleiro e sapateiro hoje mora em uma casa alugada com o auxílio da prefeitura de Esteio.

Outro que parecia se sentir à vontade, apesar da timidez, era Victor Alfonso. Aos 26 anos, já pode dizer que passou fome, quando morava em seu país. Hoje, a situação é diferente. “Não esqueço jamais o dia em que cheguei aqui. Fui muito recebido. Na Venezuela, era ruim, violência e dificuldade para procurar alimento. Atualmente, trabalho na construção”, diz, no idioma português que aprendeu quando chegou no Brasil.


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