Moradora de Esteio com câncer reclama de diagnóstico tardio

Moradora de Esteio com câncer reclama de diagnóstico tardio

Os resultados dos exames feitos nos últimos anos na rede pública deram negativo

Fernanda Bassôa

Carla já está no estágio III da doença

publicidade

Moradora de Esteio, a empresária Carla Kotik, 41 anos, teve a rotina alterada depois de ser diagnosticada tardiamente com câncer de colo do útero. Ela conta que a confirmação foi em junho deste ano e que soube que estava com neoplasia invasiva já no estágio III, depois de ter fortes dores abdominais e sangramento e se submeter a uma biópsia particular. Carla relata que fez os exames na UBS Planalto, em Esteio. “Em 2015 e 2016, os resultados foram negativos para neoplasia. Em 2017, eu acabei não fazendo. Neste ano, fiz novamente na mesma unidade de saúde. O resultado saiu depois que eu já havia sido diagnosticada e iniciado meu tratamento. Para meu espanto, novamente o resultado deu negativo. Isso é grave.”

A paciente, que já se submeteu a dez sessões de quimioterapia e precisa tomar 15 comprimidos diários, notou que algo estava errado em 2017. “Em janeiro deste ano, eu tive certeza que não estava bem porque as dores eram muito fortes, mas, ao consultar na rede do município, a fala era sempre a mesma: disfunção hormonal, fungo e infecção urinária.”
O diagnóstico positivo partiu de uma clínica particular de Canoas, depois que a empresária teve uma crise hemorrágica e foi parar no Hospital Universitário da cidade. “Com a doença diagnosticada em estado avançado, ela se torna inoperável. Por isso, faço um tratamento bem agressivo, com sessões de quimioterapia e uma série de restrições alimentares e mudanças de hábitos.” Em janeiro, Carla inicia as sessões de radioterapia. “A minha revolta é que estou doente há muito tempo. É preciso que as mulheres refaçam seus exames. Quantas mais estão doentes e sequer sabem?”

A secretária de Saúde de Esteio, Ana Boll, informa que, como não há laboratório na cidade para análises deste tipo, os exames são regulados e autorizados pelo Estado. “Somente a coleta é feita na unidade de saúde. O material é direcionado à Secretaria da Saúde do Estado, que faz o encaminhamento para o laboratório credenciado, que fica em Porto Alegre. Tivemos conhecimento deste caso e enviamos documentação à pasta estadual pedindo providências. Também foi enviado ofício para o laboratório. Estamos aguardando retornos.” Ela afirma que, caso seja constatado erro grave ou fraude, pedirá imediatamente a troca de laboratório. O Ministério Público informa que recebeu a reclamação, ouviu a paciente e pediu esclarecimentos à prefeitura no início de dezembro. A Secretaria Estadual da Saúde diz que não cabe à pasta uma manifestação.

O proprietário do Centro Ginecológico de Citologia, responsável pela análise dos exames realizados em Esteio, Cláudio Vieira, informou que faz parte dos resultados o chamado “falso negativo”. “Existe a possibilidade de 6% a 68% dos exames não corresponderem à realidade. Por isso, é necessário realizá-lo anualmente. O falso negativo faz parte do exame tanto em razão da forma com que a coleta foi feita ou como por eventual interpretação de análise.” Vieira diz que já tem conhecimento do caso de Carla e que se reuniu com integrantes da secretaria estadual, quando ficou decidido que os exames seriam reavaliados.  

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895