"Nunca tínhamos passado por uma seca assim antes", afirma produtor rural de Porto Alegre

"Nunca tínhamos passado por uma seca assim antes", afirma produtor rural de Porto Alegre

Prefeitura decretou ontem situação de emergência nas áreas de produção primária após perdas de R$ 4,1 milhões

Felipe Faleiro

publicidade

A estiagem que segue assolando o Rio Grande do Sul nesta quarta-feira apresentou mais um capítulo tórrido, com temperaturas próximas dos 40 graus em muitos locais. Em Porto Alegre, o prefeito em exercício, Ricardo Gomes, decretou nessa terça-feira situação de emergência por conta da seca nas regiões de produção primária, a fim de agilizar possíveis recursos dos governos estadual e federal em prol de auxiliar os muitos agricultores afetados. O produtor Eduardo Gonçalves, que atua no Extremo Sul da Capital, relatou um pouco da situação que tem enfrentado por conta da falta de chuva. “Nunca tínhamos passado por esta situação antes. Nossa sorte é que a soja não está na fase de enchimento de grão. Se estivéssemos, o problema seria ainda maior”, afirma, acrescentando que, caso a estiagem siga, será preciso acionar o seguro.

Gonçalves, que é morador de Viamão, mas trabalha entre os bairros Extrema e Lami, explicou que planta duas variedades de soja em duas propriedades que, somadas, têm 120 hectares. Em meio ao verde, há diversos exemplares secos do grão, buscando algum resquício de água no solo para seu desenvolvimento. Eduardo cuida do plantio com seu pai, Adilon Gonçalves, e o “irmão emprestado” Lucas Fraga. 

De acordo com a Secretaria Municipal de Governança Local e Coordenação Política (SMGOV), os cultivos de hortaliças, flores, frutas e grãos são os mais afetados na Capital. Estima-se que 120 famílias estejam entre as mais prejudicadas. O milho já perdeu 80% da produção, e houve ainda mais de 31% de perdas na soja, 50% em olerícolas como abóboras, morangas, pepino, tomate, berinjela, couve, brócolis, alface e rúcula, e 30% nas safras de melão, melancia e figo.

Gonçalves faz planos para o futuro apesar dos efeitos da estiagem. “Tenho um agrônomo que me fornece assistência. Para calcular as perdas, só mesmo no momento em que a máquina entrar na lavoura”. Ele afirma, porém, que 10% da produção está perdida, número que pode ampliar, dependendo do clima. Hoje, 30% da propriedade é irrigada, mas a expectativa para o ano seguinte é investir em um sistema em uma área cultivada maior.

Foto: Guilherme Almeida 

Porto Alegre tem uma das maiores produtividades de soja do Rio Grande do Sul, com média de 55 sacas por hectares, contra 30 sacas no Estado em 2022, por conta da estiagem. Ao contrário deste ano, em que os prejuízos já somam R$ 4,1 milhões, ainda conforme a SMGOV, na seca anterior a cidade não sofreu tantos prejuízos. O presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre, Cleber Vieira, avalia que o decreto municipal em questão vai auxiliar o produtor prejudicado. 

“Temos muitos problemas na zona rural de Porto Alegre. Há muito tempo, ela foi esquecida por alguns governos. E 37 graus em cima de qualquer leguminosa, aliada à falta d’água e de umidade no solo, também agravam o problema”, comenta ele. Mesmo que muitos agricultores utilizem formas de irrigação, Vieira avalia que os níveis dos açudes estão baixos ou secos, o que impede eles de serem usados. 

Foto: Guilherme Almeida 

“Nas hortaliças, por exemplo, algumas delas precisam ser irrigadas duas a três vezes por dia, mas os agricultores só estão fazendo uma vez. Nosso trabalho será o de prevenir, porque já estamos no quinto ano de seca no Rio Grande do Sul. E a situação não vai melhorar, somente piorar”, lamenta o presidente do Sindicato Rural da Capital. “Temos que ajudar o produtor a se manter na zona rural, que é o pulmão de Porto Alegre”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895