Acompanhando o exterior, dólar termina terça-feira em queda, a R$ 5,28

Acompanhando o exterior, dólar termina terça-feira em queda, a R$ 5,28

Bolsa limitou perdas e fechou em baixa de 1,57%, aos 101.215,87 pontos

AE

No exterior, a divisa dos EUA teve dia de queda, ainda influenciada pelo crescimento de casos de Covid-19 no país

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O dólar teve novo dia volátil, mas firmou queda no final da tarde, acompanhando o exterior. A moeda norte-americana, nesta terça-feira, ora devolveu parte da forte valorização de ontem, ora operou pressionada pelo temor de mais piora fiscal no Brasil e ainda de novos cortes de juros. No exterior, a divisa dos Estados Unidos teve dia de queda, ainda influenciada pelo crescimento de casos de coronavírus no país e o impasse para a aprovação de uma novo pacote fiscal em Washington, ainda sem acordo, mas com sinalização dos democratas de que está avançando. Houve ainda relatos de fluxo de entrada de capital externo.

O dólar à vista terminou a terça-feira em queda de 0,53%, cotado em R$ 5,2857. No mercado futuro, o dólar para setembro operava em baixa de 0,67%, a R$ 5,2935 às 17h50.

O temor sobre as contas fiscais brasileiras, já muito deterioradas, aumentou com a discussão em Brasília para a extensão do auxílio emergencial até dezembro, ajudando a pressionar o câmbio. "Os riscos de curto prazo pendem em direção a mais deterioração nas contas fiscais", alertam os estrategistas do banco americano Citi. No longo prazo, o risco é a extensão do estado de calamidade até o final 2021, o que abre espaço para mais gastos públicos, conforme revelado pelo <b>Broadcast Político</b>. Essa seria uma das principais "bandeiras vermelhas", alerta o Citi.

Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, o aumento do risco fiscal vem ganhando corpo nos últimos dias e uma das mostra é a depreciação recente do real, a queda do Ibovespa e o aumento da inclinação da curva de juros. O gestor observa que tem visto "sinais preocupantes" no ambiente político em tentar utilizar a pandemia como "desculpa" ou como um "caminho" mais fácil para aumentar gastos públicos.

O mercado, avalia Kawa, ainda deve dar o benefício da dúvida ao governo e ao Congresso, esperando que após a pandemia, o País volte a adotar uma postura de austeridade fiscal. Se esta esperança for perdida, pode haver forte pressão nos ativos locais e o comportamento dos últimos dias é uma prova do que pode vir. Na máxima hoje, o dólar encostou nos R$ 5,38.

Ibovespa

Pelo segundo dia o Ibovespa seguiu rumo próprio, dissociado do exterior, dando sinais de fraqueza após ter reconquistado o nível dos 105 mil pontos na semana passada, e que fora conservado em dois fechamentos seguidos, em 29 e 30 de julho. Nesta terça, 4, o principal índice da B3 limitou as perdas em direção ao fechamento, em baixa de 1,57%, a 101.215,67 pontos, ainda assim no menor nível desde 16 de julho (100.553,27), permanecendo em terreno negativo em oito das últimas 11 sessões, desde o dia 21 de julho, e nestas duas primeiras de agosto - a desta terça-feira foi a quarta perda consecutiva.

Em certo momento do começo da tarde, nenhuma ação do Ibovespa conseguia sustentar ganhos na sessão, mas ao final algumas conseguiram se destacar, em especial Vale (+0,73%), MRV (+0,65%) e Hypera (+0,58%). No lado oposto do índice, Itaú cedeu 5,83%, seguido por Cogna (-5,73%), CVC (-5,40%) e Cielo (-5,00%), com o setor financeiro entre os mais pressionados do dia, após balanços com lucros declinantes em razão de aumento de provisões para inadimplência e, sobretudo, a expectativa de que o Senado coloque em votação proposta de tabelamento de juros do cheque especial e do cartão de crédito.

No pior momento do dia, o Ibovespa ameaçou ceder o importante suporte de 100 mil pontos, rondando o ponto de apoio importante no atual momento do ciclo de retomada - nível que, uma vez rompido, tenderia a acentuar as perdas da sessão, com o disparo de ordens de "stop loss", aponta um operador. Hoje, o índice tocou a marca de 100.004,50 pontos, em queda de 2,75% na mínima do dia, em flutuação de mais de 3 mil pontos em relação à máxima, de 103.011,50, saindo de 102.825,55 pontos na abertura da sessão.

O giro financeiro, a R$ 40,1 bilhões, foi reforçado pelo início da operação de venda de ações da Vale detidas pelo BNDES. A redução da participação do banco de fomento na mineradora foi iniciada nesta terça-feira com a venda de mais de 135,6 mil ações em circulação, o que representa 2,56% do capital social total da Vale. Tendo oscilado entre ganhos e perdas ao longo do dia, Vale ON acabou encerrando a sessão em alta de 0,73%, na ponta do Ibovespa.

"Esta volatilidade observada na ação da Vale refletiu o ruído de que o Senado tomou interesse pelo leilão de ações em poder do BNDES, que pode se resumir apenas a uma busca por informações, mas, no limite, pode haver uma interferência política em operação que é muito bem-vista pelo mercado, que teme então um passo atrás", aponta Rodrigo Franchini, sócio e head de Produtos na Monte Bravo Investimentos.

Ele chama atenção também para outro desdobramento político, que contribuiu para a queda nesta terça-feira das ações de bancos, setor de maior peso na composição do Ibovespa e ainda muito atrasado no ano. "Houve tuíte do senador Álvaro Dias indicando votação em comissão, no dia 6, de projeto que propõe o tabelamento de juros do cartão de crédito", diz Franchini, referindo-se a um fator que, ora parecendo a caminho do engavetamento, ora sendo ressuscitado, sempre traz danos às ações do setor.

"A votação do projeto do 'teto de juros', elaborado pelo senador Álvaro Dias, que prevê, até o fim de dezembro, que os bancos restrinjam a 30% a cobrança de juros do cheque especial e do cartão de crédito, é uma notícia negativa, na medida em que impacta bastante o nível de receita. Mas se espera uma forte resistência na Câmara dos Deputados", ressalva Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Na semana, as perdas do Ibovespa chegam agora a 1,65% e, no ano, voltam a escalar a 12,48%, após terem sido limitadas à casa de 8% na semana passada, quando o Ibovespa emendava dois fechamentos na faixa de 105 mil pontos, em seu melhor momento desde o pior ponto da curva, em 23 de março, data em que fechou aos 63.569,62 pontos, tendo chegado a 62.161,38 na mínima daquele dia.

Além da queda pronunciada das ações de bancos, com ItaúUnibanco ainda à frente no fechamento - após o balanço com queda de 40% no lucro em razão de aumento de provisões, além da sinalização sobre inadimplência apontada pela instituição para 2021 -, as ações de commodities retiraram parte do suporte que haviam proporcionado mais cedo ao Ibovespa, quando tanto Petrobras como Vale operavam em alta. Ao final, Petrobras PN apontava leve perda de 0,09%, com a ON em baixa de 0,13%.


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