Com arrancada no final, dólar fecha cotado a R$ 5,14

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Moeda norte-americana avançou 0,21% na sessão desta quarta-feira

AE

Moeda norte-americana foi influenciada pelo cenário externo e perspectiva de recursos no Brasil

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Após esboçar uma queda mais aguda pela manhã e passar a maior parte da sessão desta quarta-feira, em baixa, o dólar à vista ganhou força na última hora de negócios e acabou encerrando o dia em leve alta de 0,21%, a R$ 5,1446. Esse movimento se deu em meio a uma deterioração das Bolsas em Nova York, que chegaram a subir mais cedo, e à recuperação de terreno da moeda americana frente a pares fortes no exterior.

Pela manhã, a divisa chegou até a romper o piso de R$ 5,10 e registrou mínima a R$ 5,0935, na esteira da valorização das commodities metálicas e agrícolas, após notícia de diminuição em 50,7% de casos de covid-19 em Xangai nas últimas 24 horas. A possibilidade de relaxamento de <i>lockdown</i> ameniza as preocupações com enfraquecimento da atividade no gigante asiático e, por tabela, da economia global.

"O dólar amanheceu com uma tendência de baixa no mundo, com os números da China, que pode, talvez, acelerar a atividade industrial, o que é bom para commodities e para as exportações brasileiras", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

O contraponto ao alívio vindo da China foi a divulgação do índice de inflação ao consumidor acima do esperado nos Estados Unidos. O CPI subiu 0,3% em abril, ante expectativa de 0,2%. Na comparação anual, o CPI avançou 8,3%, também além do esperado (8,1%), mas marcou a primeira desaceleração desde agosto do ano passado.

Embora tenha esfriado a aposta em alta de 75 pontos-base na reunião do BC americano em junho, a perspectiva ainda é de ajuste monetário rápido nos EUA. Espera-se que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantenha o discurso duro contra a inflação e que promova elevações seguidas da taxa básica em 50 pontos-base por reunião.

À tarde, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse que pode apoiar subir os juros nos EUA a um patamar que restrinja o crescimento econômico, caso a alta inflação persista após os Fed funds atingirem um nível neutro. Ele defendeu que o BC americano promova altas seguidas de 50 pontos-base até que a taxa básica chegue ao nível neutro, estimado em cerca de 2,4%.

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - chegou a operar em queda firme, registrando mínima aos 103,372 pontos, mas se recuperou e, quando o mercado doméstico fechou, marcava 104,011 pontos, alta de 0,9%.

O especialista em renda fixa da Blue3, Nicolas Giacometti, ressalta que, além da recuperação das commodities com arrefecimento do covid na China, o mercado se apoiou no afastamento da alta de 75 pontos-base da taxa básica americana para recompor posições em ativos de risco pela manhã. "A inflação americana é alta, mas mostrou desaceleração anual. Talvez o Fed não tenha que subir assim tanto os juros para a inflação começar a perder força e, com isso, não machuque tanto a economia americana", diz Giacometti, ressaltando, contudo, que o ambiente ainda é de muita incerteza, o que mantém os ativos sem tendência firme.

Por aqui, o IPCA de 1,06% em abril, acima da mediana de Projeções Broadcast (1%), deu vazão a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha que estender o ciclo de aperto monetário para além de junho e levar a Selic para perto de 14%. Em tese, quanto maior a taxa doméstica, melhor para a moeda brasileira.

Profissionais do mercado alertam que a baixa visibilidade diante das incertezas domésticas e externas, sobretudo em relação ao ajuste monetário nos Estados Unidos, aumenta muito a volatilidade e diminui o apetite pelo <i>carry trade</i> (operação que explora diferencial de juros entre países).

Em participação no Broadcast ao Vivo desta quarta-feira, a economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, afirmou que o dólar deve subir até o patamar de R$ 5,20 com a aproximação das eleições presidências. Também contribui para pressionar o câmbio, segundo a economista, uma política monetária mais contracionista nos Estados Unidos e na zona do euro.

Taxas de juros

A surpresa negativa com a inflação no Brasil e nos Estados Unidos pressionou para cima a curva de juros durante toda a quarta-feira, dia também de correção nas commodities, adicionando mais cautela para o cenário de preços.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,33%, de 13,274% na terça-feira no ajuste, mas o mais líquido hoje foi o DI para janeiro de 2024, cuja taxa voltou a 13%, encerrando em 13,045%, de 12,866%. A do DI para janeiro de 2025 terminou em 12,445%, de 12,299%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou a 12,305%, de 12,185%.

O mercado esperava uma desaceleração mais forte do IPCA de abril, para 1,0%, segundo a mediana das estimativas, ante a taxa de 1,62% em março. Porém, subiu 1,06%, pico para o mês desde 1996 (1,26%), acumulando alta de 12,13% em 12 meses. Não só o índice cheio decepcionou, como também os preços de abertura superaram as medianas, com exceção de administrados em função do efeito do fim da cobrança da tarifa hídrica de energia.

A reação dos DIs foi imediata e piorando ao longo da manhã, na medida em que os Departamentos Econômicos anunciavam revisões para cima para índice em 2022 e 2023, elevando o desafio do Banco Central de recolocar a inflação na trajetória das metas. No começo da tarde, as taxas chegaram a subir mais de 20 pontos-base, nas máximas.

Para o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o desvio do índice cheio nem foi tão forte assim e o que mais pesou na reação dos agentes foi a parte qualitativa muito ruim. "O mercado está à flor da pele, tentando precificar o que significa esta inflação para o aperto monetário", disse. Ele acredita que a partir de maio a inflação em 12 meses vai desacelerar, pela base de comparação que é muito alta. Com isso, acredita que o Copom guarda apenas mais um aumento da Selic, de 0,5 ponto, com a taxa terminal em 13,25%. "No Copom de junho, a situação da inflação deve estar mais acomodada", disse.

Em junho, o plano de voo do Federal Reserve, segundo o economista, também pode estar mais definido. O núcleo do CPI (0,6%), que justamente exclui itens mais voláteis, veio bem pior do que o índice cheio (0,3%), ambos superando as estimativas de 0,4% e 0,2%. Em março, o CPI tinha subido 1,2% e o núcleo, 0,3%.

Completando o quadro de apreensão, os preços do petróleo subiram nesta quarta entre 5% e 6%, e houve avanço firme de outras matérias-primas como grãos e metais, o que só piora a percepção sobre os preços.

Na curva do DI, a aposta de alta de 0,5 ponto porcentual da Selic em junho segue majoritária, com 70% de probabilidade, mas na terça superava 80%. As de aumento de 0,75 ponto cresceram para 30%, de cerca de 20% na terça. Além disso, para o Copom de agosto, a precificação já é de 30 pontos, o que mostra apostas já de 0,5 ponto. Os cálculos são do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

Bolsa

Com uma das grandes pressões que têm assombrado a bolsa brasileira suavizada hoje, o 'risco China', o Ibovespa encontrou espaço para recuperar parte das perdas dos últimos dias. Ancorado sobretudo num avanço forte das commodities, que respondem a um alívio do investidor com dados melhores dos casos de covid no país asiático, o índice brasileiro escalou de volta aos 104 mil pontos e teve alta sólida nesta quarta-feira, a primeira desde a última quarta-feira.

Assim, o Ibovespa terminou o dia em alta de 1,25%, aos 104.396,90 pontos. Com isso, reduziu a queda na semana a 0,70% e, no ano, a 0,41%. Os 11 primeiros dias do mês de maio, contudo, ainda acumulam um recuo grande, de 3,23%.

Com petróleo e minério em dia forte, a Bolsa brasileira foi favorecida nesta quarta por avanços robustos sobretudo de duas das principais empresas listadas, Petrobras e Vale. O barril do Brent subiu 4,93% e o minério saltou 4,92% no porto de Qingdao, na China. Isso garantiu um avanço de 5,04% nas ações ordinárias da Petrobras e de 4,17% nos papéis da Vale.

"O que vemos é um desempenho positivo de papéis intensivos em commodities, notadamente Vale e Petrobras. Esses dois papéis por si só já acabam ajudando bastante no movimento da Bolsa", aponta o economista-chefe do banco Modal, Felipe Sichel.

Uma recuperação sólida das siderúrgicas, após a queda de terça-feira, e do setor financeiro também ajudaram a sustentar o índice no positivo. Depois de terem visto os papéis derreterem com a notícia de que o governo estudava redução do Imposto de Importação (II) sobre o aço, o setor respondeu bem ao anúncio de fato da medida, nesta quarta à tarde. A redução, na verdade, se aplica apenas a vergalhões para a construção civil, uma redução de 10,8% para 4%.

A medida também abrange uma série de alimentos, incluindo carne de boi, de frango e trigo, numa tentativa do governo de diminuir a pressão sobre a inflação. Ainda que tenha sido colocado de lado pelos investidores de ações nesta quarta, o dado de inflação acima de 1% e surpresa no índice de preços nos Estados Unidos, com o CPI subindo 0,3%, indicam que o segundo fator de pressão que tem derrubado a Bolsa nos últimos dias - o aperto global da política monetária - deve voltar a assombrar nos próximos dias.

Os ativos de risco têm tido performance negativa globalmente nos últimos dias diante da perspectiva de que a inflação persistente deixe os juros mais altos no mundo todo - mais destacadamente nos Estados Unidos. Além de prejudicarem o crescimento global, os juros mais altos tiram atratividade de ativos com mais risco e, ainda mais intensamente, de bolsas emergentes.

"O cenário não é inspirador para a Bolsa, por conta de taxa de juros subindo tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Mas nossa bolsa tem um lado positivo, é recheada de commodities. O que faz com que o Ibovespa esteja avançando mais do que as outras no mundo", aponta João Abdouni, analista da Inv. Lá fora, os principais índices americanos terminaram o dia em queda, com Dow Jones e S&P500 caindo 1,01% e 1,64%.

 


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