Dólar avança 0,89% e fecha a R$ 5,42

Dólar avança 0,89% e fecha a R$ 5,42

Moeda norte-americana operou na máxima de R$ 5,45 durante a sessão

AE

Dólar subiu durante toda a sessão nesta quinta-feira

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Temores de desaceleração mais forte da economia chinesa, em meio ao avanço da variante Delta, e a expectativa de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos, após a divulgação na quarta-feira, da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), provocaram uma onda global de corrida à moeda dos EUA e forte recuo dos preços das commodities nesta quinta-feira.

Já pressionado pelas questões domésticas - fiscais e político-institucionais - o real não encontrou forças para se livrar dos ventos contrários vindos de fora, embora não tenha, desta vez, liderado as perdas entre divisas emergentes - papel que coube ao rand sul-africano. Afora alívios pontuais ao longo do pregão, fruto de fluxos esporádicos de recursos de exportadores e pausas para realização de lucros, o dólar trabalhou a maior parte do dia acima da casa de R$ 5,40.

Já nas primeiras horas dos negócios, a moeda norte-americana correu até a máxima de R$ 5,4565, na esteira do mau humor externo e sob impacto da queda do tombo do preço do minério de ferro na China para o menor nível desde novembro de 2020. Segundo motor da economia global, o gigante chinês dá sinais claros de perda de dinamismo.

Também ecoava nas mesas de operação a perspectiva de diminuição da liquidez global, após a ata do Federal Reserve revelar que parte dos dirigentes da instituição quer começar a reduzir a compra mensal de títulos - da ordem de US$ 120 bilhões - ainda neste ano.

No meio da tarde, o dólar deu uma arrefecida e desceu até a mínima de R$ R$ 5,3808, acompanhando a leve melhora do desempenho dos demais ativos domésticos, com a Bolsa virando para o terreno positivo. O alívio foi efêmero e o dólar voltou, rapidamente, a ser negociado acima de R$ 4,42, com o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana ante seis divisas fortes - renovando máximas, na casa de R$ 93,500 pontos.

Em relatório, o estrategista de moedas do banco Brown Brothers Harriman (BBH), Ilan Solot, afirma que o número de integrantes do Banco Central norte-americano a favor de redução dos estímulos neste ano "vai continuar a crescer" daqui para a frente, elevando as chances de uma postura a mais "hawkish" do Fed em setembro. "Os próximos alvos do DXY são 94,302, de novembro de 2020, e 94,742, de setembro de 2020", escreve Solot.

Por aqui, no fim do dia, o dólar à vista avançava 0,89, a R$ 5,4228. Com isso, a moeda norte-americana sobe 3,29% na semana e acumula valorização de 4,09% em agosto. O giro do contrato de dólar futuro para setembro, termômetro do apetite por negócios, foi robusto, na casa de US$ 19 bilhões.

Sócio e gestor da Galapagos Capital, Sergio Zanini ressalta que o desempenho do real nesta quinta-feira foi "igual ou até melhor" que o de outras divisas emergentes e de países exportadores de commodities. "Parece que essa perspectiva de aumento da Selic está servindo de colchão para o real. Existe essa tentativa de controlar um pouco essa volatilidade do câmbio e as pressões inflacionárias, em meio a esses ruídos e sinalizações preocupantes do lado fiscal", afirma Zanini, ressaltando, porém, que o custo econômico do aperto monetário é grande. "Vemos um mundo crescendo moderadamente e vamos ter de pisar no freio via taxa de juros de novo".

Em webinar promovido pelo Council of the Americas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu nesta quinta que o BC "fará o necessário" para atingir a meta de inflação. O objetivo é ancorar as expectativas inflacionárias levando a taxa de juros para acima do nível neutro, o que abala as expectativas de crescimento em 2022.

Campos Neto argumentou que o governo "precisa passar uma mensagem muito responsável de como o caminho fiscal continuará a partir daqui", com explicações como o Auxílio Brasil, novo nome do Bolsa Família, vai funcionar e de onde virá o dinheiro.

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a PEC dos Precatórios, argumentando que, sem o parcelamento do pagamento das dívidas judiciais, vai falar dinheiro "até para pagamentos de salários". Em audiência pública no Senado a respeito do Mercosul, Guedes disse que é "inexequível pagar precatórios de R$ 90 bilhões com leis vigentes".

Para Zanini, da Galapagos, o programa de redução do Estado do governo Jair Bolsonaro, que garantiria juro estrutural mais baixo, ruiu com a pandemia - e o Brasil volta a ter uma "situação fiscal complicada". Embora o País tenha reservas internacionais elevadas e contas externas saudáveis, a taxa de câmbio real (ajustada pela inflação) está atualmente nos mesmos níveis de 2002, época de forte aversão ao risco por causa da perspectiva, na ocasião, de vitória do ex-presidente Lula e de fragilidade das contas externas. "Temos hoje uma situação de estresse no mercado comparável à de 2002. As tentativas de ir por uma rota mais saudável foram dinamitadas pela pandemia e pelas decisões de usar muito o fiscal para sustentar a economia", afirma Zanini. "Isso resulta em juros altos para tentar conter o processo inflacionário e a desvalorização da moeda."

Juros

Os juros futuros fecharam a quinta-feira em queda, na falta de novos gatilhos negativos no noticiário fiscal e político e pela decisão do Tesouro de colocar uma oferta mínima de títulos prefixados, ajudando a retirar pressão da curva. As taxas curtas fecharam perto da estabilidade e as demais, em baixa, configurando perda de inclinação, após uma disparada de quase 30 pontos-base na abertura. Nas mesas de operação, profissionais dizem que os aspectos mais técnicos foram destaque, mas não se aposta em movimento de devolução de prêmios consistente diante do cenário preocupante das contas públicas e crise política.

Do exterior, a contribuição para a queda das taxas veio das commodities, apesar da alta do dólar, com recuo nos preços de petróleo e minério de ferro, que podem dar um respiro ao cenário de preços por aqui.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou estável em 6,73% e a do DI para janeiro de 2023 passou de 8,50% para 8,49%. O DI para janeiro de 2025, que no pico de estresse da sessão chegou aos dois dígitos (10,13%), fechou em 9,72%, de 9,876% na quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 10,324% para 10,17%. O DI para janeiro de 2031, após tocar máxima nos 11,04%, terminou em 10,66% (10,822% na quarta-feira).

Em sequência à pressão vista na quarta-feira na etapa estendida, as taxas tiveram abertura fortemente pressionada, mas a trajetória perdeu fôlego com a decisão do Tesouro de antecipar o anúncio do edital do leilão, pouco antes das 9 horas, para ajudar o mercado na abertura. E optou por ofertar lotes mínimos de títulos prefixados.

"Foi muito pequeno. Tesouro só fez leilão para não ter de cancelar", diz um operador, lembrando que as suspensões de ofertas emitem um sinal muito negativo ao mercado e só ocorrem em cenários mais extremos.

Ainda assim, só vendeu as 50 mil LTN ofertadas para 1/7/2023, rejeitando propostas para 50 mil LTN 1/10/2022 e 50 mil para 1/1/2025. Também rejeitou todas as propostas para as 20 mil NTN-F (10 mil 2027 e 10 mil 2031).

"O Tesouro operou não operando, o que ajudou a curva a fechar", avaliou o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, sobre a reduzida oferta de prefixados. No seu entender, o dia foi fraco no noticiário e as "não notícias" ultimamente têm sido fator de alívio.

Bolsa

Apesar da grande pressão nas ações de commodities, em reação a queda de 3% no petróleo Brent e superior a 13% no minério de ferro negociado na China - agora no menor nível desde 30 de novembro -, o Ibovespa encontrou algum fôlego ainda no começo da tarde para interromper a sequência de três perdas que o havia retirado dos 121,1 mil pontos, no fechamento da semana passada, para 116,6 mil no de quarta-feira, em perda de 4.551 pontos no intervalo. Nesta quinta-feira, obteve leve recuperação, em alta de 0,45%, a 117.164,69 pontos, entre mínima de 114.801,00, menor nível intradia desde 29 de março, e máxima de 117.453,34, com giro financeiro reforçado a R$ 43,7 bilhões nesta véspera de vencimento de opções sobre ações.

"Em função de enquadramento de risco e da alta volatilidade, teve muito fundo multimercado zerando posição, o que contribuiu para essa forte correção vista no Ibovespa, abrindo caminho, pelo preço, para retomada de fluxo estrangeiro, que vê oportunidade em Brasil também com a expectativa de Selic mais alta até o fim do ano", diz Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual. "Ações como as de Vale, Gerdau e Usiminas tendem a continuar voláteis, com a possibilidade de o minério continuar caindo, mas setores descontados, como bancos e a própria Petrobras, podem recompor, assim como varejo", acrescenta a operadora, chamando atenção para avaliação do JPMorgan de que o Ibovespa pode encerrar o ano aos 130 mil pontos.

Tendo fechado a sessão anterior no menor nível desde 1º de abril, o índice da B3 acumula na semana perda de 3,32% e, em agosto, de 3,81%, colocando o ajuste negativo do ano a 1,56%. Sem muitas novidades da quarta para a quinta-feira, para corrigir eventuais excessos, os investidores buscaram em especial ações ligadas à demanda doméstica, como as do setor de serviços, que pode apresentar recuperação mais forte à medida que o ano se aproxima do fim, com a normalização das atividades - na quarta, o governador de São Paulo, João Doria, declarou que a quarentena terminou no Estado.

Assim, o desempenho de CVC (+7,91%), Locaweb (+7,79%), Totvs (+5,78%) e Localiza (+5,31%), na ponta do Ibovespa, contribuiu para mitigar o efeito negativo de pesos-pesados como Vale (ON -5,71%, segunda maior perda do índice), CSN (ON -5,78%, maior queda do dia no Ibov) e Petrobras (ON -0,95%, PN -0,56%). E o Ibovespa conseguiu carregar a tímida recuperação desta tarde ao fechamento, mesmo com os índices de Nova York chegando a reverter ao negativo no intervalo - ao final, S&P 500 e Nasdaq mostravam avanço, aliviando um pouco mais a referência da B3. O câmbio também esteve pressionado nesta quinta-feira, embora a meio caminho entre a mínima (R$ 5,3808) e a máxima (R$ 5,4565) do dia, em alta de 0,89%, a R$ 5,4228 no fechamento.

"Foi o segundo pregão com forte volatilidade e bastante alta no mercado de dólar, que segue puxado também pelo embate entre os Poderes e pelo acompanhamento do fiscal, com possível risco, que o mercado vê, de modificações 'criativas' em cima do teto de gastos", diz Rafael Ramos, especialista em câmbio da Valor Investimentos.

A incerteza sobre o fiscal, no momento em que o governo tenta impulsionar benefícios sociais e reconhece dificuldade para pagar precatórios, é agravada agora pela perspectiva de menos liquidez a partir da maior economia do mundo, sinal reforçado na quarta na ata do Fed: uma combinação que dificulta recuperação sustentada do Ibovespa. Tal sinalização tem se refletido de maneira mais visível também nos preços de commodities, como o petróleo, a que a B3 tem grande exposição, apontam analistas.

 


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