Dólar cai 6% na semana com possível vitória de Biden e termina em R$ 5,39

Dólar cai 6% na semana com possível vitória de Biden e termina em R$ 5,39

Valorização anual do dólar baixou para 34%, ainda deixando a moeda brasileira entre os piores desempenhos este ano

AE

Dólar comercial encerrou esta sexta vendido a R$ 5,304, com alta de R$ 0,095

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A expectativa de vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos derrubou o dólar esta semana no mundo e também no Brasil. No exterior, o dólar caiu ao menor patamar desde agosto ante divisas fortes. No mercado doméstico, acumulou queda de 6% na semana, a maior desde maio. Com isso, a valorização anual do dólar baixou para 34%, ainda deixando a moeda brasileira entre os piores desempenhos este ano, junto com peso argentino e lira turca.

Nesta sexta-feira, além do exterior favorável, a promessa do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de voltar com a agenda de reformas já na semana que vem ajudou a retirar pressão do câmbio, fazendo o dólar cair abaixo de R$ 5,40, o que não acontecia desde 22 de setembro.

O dólar terminou a sexta-feira em R$ 5,3937, em queda de 2,74%. No mercado futuro, o dólar para liquidação em dezembro fechou em R$ 5,3700, em queda de 2,93%.

Com a apuração ainda em andamento nos Estados Unidos, a notícia mais cedo de que Biden liderava em dois Estados essenciais na atual disputa, Pensilvânia e Georgia, animou os mercados. "O real conseguiu se apreciar fortemente contra o dólar nesta semana, em linha com outras moedas emergentes", observa a analista de mercados emergentes do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. Ela ressalta que este movimento de valorização das divisas de emergentes é dominado por um sentimento geral dos mercados com a possível vitória de Biden, mais do que questões domésticas.

No Brasil, a analista do Commerzbank menciona que o relacionamento de Jair Bolsonaro é muito mais próximo a Donald Trump. Assim, Biden na Casa Branca pode não necessariamente ser benefício para o Brasil, pois ele pode pressionar em questões como o clima e meio ambiente. 

Ao mesmo tempo, a possibilidade de um Congresso dividido em Washington ajuda a reduzir o temor de um governo democrata clássico, ou seja, que pressiona por alta de impostos para empresas e busca mudanças regulatórias, além de tornar a agenda ambiental menos ambiciosa. No cenário do banco alemão, Biden vencendo é negativo para o dólar e positivo para ativos de risco.

"As perdas do dólar se aceleraram hoje no mundo", destaca o analista sênior de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, ressaltando que a divisa dos EUA atingiu picos de baixa ante euro, iene, dólar canadense, dólar australiano e divisas dos emergentes. Assim, o relatório de emprego de outubro, o payroll, surpreendeu, com criação de vagas acima do previsto, mas acabou ficando em segundo plano, com Wall Street monitorando mais de perto as telas de apuração.

No mercado brasileiro, declarações de Maia e Guedes agradaram. "Estão emergindo de volta as reformas", disse o ministro no período da tarde, em evento do Itaú, ressaltando que pretende "derrubar" a dívida pública. Já Maia prometeu retomar a agenda na próxima semana e que, se houver interesse do governo, pode votar a reforma tributária "rapidamente".

Bolsa

Surfando a onda de bem-estar no exterior, o Ibovespa acumulou ganho de 7,42% nestas últimas quatro sessões, o melhor desempenho semanal para o índice da B3 desde o intervalo entre 1º e 5 de junho, quando havia avançado 8,28%. Com o salto neste começo de mês, o Ibovespa recuperou-se da perda de 7,22% acumulada na semana anterior.

Pela segunda sessão, o índice conseguiu sustentar os seis dígitos no encerramento, ao fechar nesta sexta-feira em alta de 0,17%, a 100.925,11 pontos, não muito distante da máxima do dia, de 101.104,29 (+0,35%), renovada na reta final, saindo de mínima a 99.837,04, com abertura a 100.750,59 pontos.

O giro financeiro desta sexta ficou em R$ 27,1 bilhões e, com o desempenho desta primeira semana de novembro, o Ibovespa limita as perdas do ano a 12,73%. No fechamento, o índice da B3 manteve o melhor nível desde o encerramento de 26 de outubro. Com a virada de sinal no fim da sessão desta sexta, o Ibovespa emendou o quarto ganho diário, ainda sem revés neste início de novembro.

Os esforços do presidente Trump de colocar em questão as urnas têm resultado em incômodo entre líderes republicanos, o que minimiza a chance de reviravolta nos Estados Unidos. O último caminho alternativo, de judicializar a disputa a ponto de levar a definição para a Suprema Corte, ficou ainda mais longo e improvável nas últimas horas.

"Os maiores vencedores da eleição americana são as grandes democracias do mundo, como União Europeia e Japão, e o enfraquecimento do dólar contribui positivamente para emergentes, como o Brasil. A perspectiva é de mais crescimento global, especialmente do comércio, em um ambiente de dólar mais fraco - nos últimos dois dias, o real foi a melhor moeda entre os emergentes", aponta Roberto Attuch, CEO da Omninvest. "Se for pragmático, ajustando sem demora sua política externa e ambiental, o Brasil tem como se beneficiar muito, especialmente se não houver barbeiragem no teto de gastos - é preciso, logo após a eleição municipal, sentar e definir o Renda Cidadã dentro do limite."

"Nossa análise é de que este cenário que está se consolidando possivelmente é o melhor para emergentes, incluindo o Brasil. Mais do que a eleição de Biden em si, é o equilíbrio de poder (com o Congresso ainda dividido entre democratas e republicanos), que tende a favorecer a parte boa do futuro presidente - visão multilateral do comércio, atitude global mais previsível e construtiva -, restringindo o lado negativo - busca por mais regulação e impostos", diz Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset. 

A moderação no volume do pacote de estímulos fiscais originalmente pretendido pelos democratas, por um lado, impõe limite à intensidade da reação que de outra forma a economia teria no curto prazo, mas, por outro, impede deterioração fiscal adicional. "A gente pode ter um cenário de crescimento bom, mas não tão bom; dólar mais fraco, o que ajuda os emergentes, e sem inflação (externa), o que assegura espaço para política monetária afrouxada por mais tempo, fornecendo liquidez global. Juros baixos por período longo são algo muito bom também para os emergentes", acrescenta o gestor. 

Ele observa, contudo, que o "presente" que chega de fora, com "águas mais calmas" desde o exterior, precisa ser aproveitado especialmente em Brasília, passada a eleição municipal. "É preciso retomar a discussão sobre o fiscal, ter mais clareza sobre isso", concorda Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset. "O cenário de forma geral tende a ser favorável aos emergentes, com dólar mais fraco e, se fizermos também a nossa parte, devolução de prêmios de risco na curva de juros. Precisamos aproveitar a oportunidade", acrescenta.

Para Orefice, mesmo sem maioria no Congresso dos EUA, os democratas conseguirão aprovar novo pacote fiscal. "Todos entendem que será preciso e, ontem, o Powell (presidente do Federal Reserve) foi muito claro, mais uma vez, sobre a necessidade de apoio pelo lado fiscal", acrescenta. "Na Bolsa, os múltiplos daqui estão mais favoráveis se comparados a alguns meses atrás, com resultados do terceiro trimestre que ajudam, amparando a visão de recuperação, que dependerá também da forma como Brasília lidará com o lado fiscal."

Nesta sexta-feira, as ações de commodities tiveram desempenho misto, com Vale ON em alta de 1,02% e as da Petrobras em baixa (PN -0,70% e ON -0,35%), mas todas acumulando ganhos acima de 4% na semana, que também foi positiva para outro setor de peso, bancos, onde o avanço no período chegou a 8,90%, para Itaú PN. Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, Hypera subiu 6,02%, à frente de Braskem (+5,40%) e Iguatemi (+5,10%). No lado oposto, Rumo cedeu 3,27%, Suzano, 2,73%, e Fleury, 2,17%.

Juros

Os juros futuros fecharam a sexta-feira em queda firme, iniciada à tarde, após operarem em alta pela manhã. Na primeira etapa, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro levemente acima da mediana das estimativas e a leitura ruim dos preços de abertura estimularam uma realização de lucros, também influenciada pela demora no desfecho da apuração dos votos na eleição americana. No fim da manhã, porém, os juros zeraram a alta e passaram a recuar na medida em que o dólar se firmava em baixa e Joe Biden ampliava sua vantagem ante Donald Trump em Estados-chave e, por aqui, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizava retomada da agenda de reformas na Casa na próxima semana.

Ao longo da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, endossou a fala do deputado sobre a pauta econômica e, com o dólar acentuando as perdas, as taxas renovaram mínimas. A despeito da inflação em 12 meses já estar bem próxima da meta de 4% para este ano, a curva precifica aposta levemente majoritária na manutenção da Selic em 2% no Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro.

No fechamento da sessão regular, todas as taxas estavam nas mínimas, mas parte delas voltou na sessão estendida. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a estendida em 3,31%, na mínima, de 3,455% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 4,86%, de 5,036% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 6,51% (6,665% na quinta) e a do DI para janeiro de 2027 passou de 7,424% para 7,25%. 

O mercado abriu testando uma realização de lucros já ensaiada desde a sessão estendida de quinta-feira, mas que teve pouco fôlego nesta sexta. "O IPCA pouco acima da mediana, num ambiente de cautela lá fora pela espera da apuração, acabou chamando uma correção", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. Depois, comentou, veio o payroll com vagas de emprego acima do esperado nos EUA e Biden assumindo a liderança na contagem dos votos na Geórgia e Pensilvânia, o que lhe aproximava muito de vencer o pleito, o que começou a tirar pressão dos DIs.

Nas mesas, profissionais afirmam também que a curva nesta sexta-feira teve maior sensibilidade ao câmbio, que andou bem mais do que em outros emergentes, também porque, de acordo com eles, o dólar aqui teve uma "puxada" vista como exagerada, mesmo para um ambiente fiscal negativo. "O real mais apreciado implica em inflação menor e mais tranquilidade no pré. Hoje a moeda se valoriza mais de 2% e o resto não chega a 1%", disse um gestor.

O IPCA de outubro (0,86%) ficou acima da mediana estimada (0,84%) e com surpresa negativa na abertura - o indicador de difusão foi a 68,17%, segundo o Banco BV. Em 12 meses, a taxa acumulada já chega a 3,92%, perto da meta de 4% para 2020. Porém, e a despeito das várias revisões em alta para o índice fechado no ano, os analistas, de maneira geral, seguem avaliando que trata-se de um choque temporário e que não vai exigir atuação imediata do BC.

À tarde, as taxas aprofundaram a queda inicialmente com Maia sinalizando a retomada das votações de pautas relacionadas a reformas e ajuste fiscal no curto prazo. Depois, veio Guedes reforçando o viés otimista sobre a agenda liberal, o que sempre agrada ao mercado, ainda mais num dia em que o investidor está disposto a tomar risco. Na avaliação do ministro, o governo e o Congresso precisam aprovar o mais rápido possível o Pacto Federativo e, na medida do possível, outras reformas estruturais ainda em 2020.


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