Dólar cai a R$ 4,66, o menor valor em dois anos

Dólar cai a R$ 4,66, o menor valor em dois anos

Dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 1,97%

AE

Dólar encerrou ano em alta

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O mercado doméstico de câmbio inicia abril na mesma toada em que encerrou o primeiro trimestre: jogando o dólar para baixo. Em queda desde a abertura dos negócios e na contramão do exterior, a moeda americana acelerou as perdas ao longo da tarde, em meio à divulgação de resultado forte da balança comercial em março, e fechou abaixo de R$ 4,70 pela primeira vez desde 10 de março de 2020.

Segundo operadores, o fluxo estrangeiro para ativos locais continua firme, com investidores alocando em bolsa, insuflada pela alta das commodities, e montando operações de carry trade. A alta das taxas dos Treasuries de dois anos, após a leitura do relatório de emprego (payroll) nos EUA em março sustentar a perspectiva de intensificação do processo de alta de juros pelo Federal Reserve, não abalou o apetite pelo real.

Exportadores também estariam antecipando fechamento de câmbio para aplicar nos juros domésticos. Diversas casas mantém a previsão de que a taxa Selic possa encerrar o ciclo de aperto monetário acima de 13%, embora o BC tenha enfatizado que pretende promover apenas mais uma elevação da taxa, em 1 ponto porcentual na reunião de maio, para 12,75%.

Com mínima a R$ 4,6628 (-2,07%), registrada no meio da tarde com ordens de stop loss (limitação de perdas), o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 1,97%, a R$ 4,6673 - menor valor de fechamento desde 10 de março de 2020 (R$ 4,647). Com isso, a desvalorização acumulada no ano atingiu 16,30%.

À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, divulgou que a balança comercial registrou superávit de US$ 7,383 bilhões em março, 19% maior que em igual período do ano passado e o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica. No ano, a balança comercial acumula superávit de US$ 11,313 bilhões, crescimento de 37,6% na comparação anual.

Após o resultado de março, a Secex aumentou a previsão para o saldo comercial neste ano de US$ 79,4 bilhões para US$ 111,6 bilhões, com a expectativa para as exportações passando de US$ 284,3 bilhões para US$ 348,8 bilhões. Em 2021, o resultado foi positivo em US$ 61,4 bilhões.

O especialista em renda fixa da Blue3, Nicolas Giacometti, ressalta que as commodities já vinham pressionadas pela recuperação da atividade global com arrefecimento da pandemia do novo coronavírus e subiram ainda mais com o advento da guerra na Ucrânia.

"O Brasil tem muitas empresa produtoras e exportadoras de commodities. Isso traz mais dólares e também atrai o investidor estrangeiro para ações de companhias que estavam muito descontadas", diz Giacometti, ressaltando que com a perspectiva de alta de juros nos EUA, investidores estão migrando para setores mais tradicionais, que não vão sofrer tanto com o aperto monetário. "Somando esse cenário aos juros domésticos elevados, que atrai capital externo, temos uma pressão forte do dólar para baixo".

Mesmo que haja um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia (que realizaram nova rodada de negociações hoje), a perspectiva é a de que as commodities seguirão em patamares elevados. Além disso, investidores devem continuar a evitar ativos russos e moedas do leste europeu, dando preferência a outros emergentes, como o Brasil.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou em alta ao longo de todo o dia, tocando máxima na casa de 98,700 pontos. A curva de juros americana se inverteu, com a taxa da T-note de 10 anos abaixo de 2,40%, enquanto o retorno do título de dois anos, em forte alta, girava ao redor de 2,44%.

O payroll mostrou criação de 431 mil empregos nos EUA em março, abaixo das expectativas (490 mil). Em contrapartida, a taxa de desemprego caiu de 3,8% para 3,6%, enquanto o consenso de mercado era de 3,7%. Houve revisão dos números de geração de vagas em fevereiro (de 678 mil para 750 mil) e janeiro (de 481 mil para 504 mil).

Na esteira do payroll, cresceram as apostas em postura mais ativa do Federal Reserve ao longo deste ano. Segundo a plataforma FedWatch do CME Group, a possibilidade de que a taxa básica - hoje entre 0,25% e 0,50% - suba à faixa entre 2,75% a 3,00% até dezembro aumentou de 13% ontem para 29%. É amplamente majoritária a aposta de que o BC americano vai acelerar o passo e elevar a taxa básica em 0,50 ponto porcentual em maio.

Por aqui, o mercado deixa de lado, por ora, ruídos políticos e temores de deterioração fiscal, em meio a corte de impostos e à novela em torno do reajuste do funcionalismo público. A paralisação dos servidores do Banco Central não tem influenciado a formação da taxa de câmbio.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, observa que o "o ambiente interno segue confuso", com greve em segmentos do serviço público e as articulações para a campanha presidencial, mas que isso não abala o real. "Nossa taxa de câmbio deixou de responder à conjuntura local. Está mais ligada a questões técnicas e à alta liquidez no cenário externo", afirma.

A Porto Seguro Investimentos reduziu de R$ 5,50 para R$ 5,00 a projeção para a taxa de câmbio no fim de 2022, observando que a melhora dos temores de troca e o aumento do fluxo externo, em meio ao diferencial de juros elevado, prevalecem sobre o risco fiscal. "Se essa projeção se materializar, o real será um grande aliado da Selic para conter a inflação", afirma a instituição, em relatório.

Ibovespa

Em sessão de abertura de mês espremida junto ao fim de semana, o Ibovespa subiu um degrau a mais, agora aos 121 mil pontos, marca não vista desde meados de agosto passado. Desde a manhã, a referência da B3 manteve o sinal positivo apesar da cautela em Nova York (que, ao final, virou e fechou em alta) e também no petróleo, em meio à liberação de reservas estratégicas para conter a escalada da commodity. Neste 1º de abril, o Ibovespa subiu 1,31%, aos 121.570,15 pontos, melhor nível de encerramento desde 11 de agosto, então aos 122.056,34 pontos. No intradia, chegou hoje a 121.578,84, o maior patamar desde 12 de agosto (122.095,40), saindo de abertura hoje a 120.001,02, correspondente à mínima da sessão.

O giro financeiro ficou em R$ 32,6 bilhões nesta sexta-feira e, na semana, o índice acumulou alta de 2,09%, o terceiro avanço consecutivo, vindo de ganhos de 3,27% e de 3,22% nos intervalos anteriores. Trata-se da melhor sequência desde os cinco ganhos seguidos observados de janeiro a fevereiro, iniciado com um avanço de 4,10% na primeira semana do ano.

O desempenho de Vale (ON +1,42%) e de empresas de consumo e serviços voltados à economia doméstica, como Méliuz (+9,37%), Cielo (+8,04%), Banco Inter (+7,78%) e Cogna (+7,77%), na ponta do Ibovespa, foram o contraponto ao dia negativo para Petrobras (ON -0,03%, PN -1,32%) e misto para os grandes bancos (Bradesco PN -1,08%, Itaú PN +0,29%). Entre as maiores perdas na sessão, destaque para Suzano (-1,70%), Klabin (-1,62%) e Usiminas (-1,43%).

A Agência Internacional de Energia (AIE) informou hoje em comunicado que houve um acordo entre seus 31 membros para uma nova liberação de reservas de petróleo, "em resposta à turbulência no mercado causada pela invasão russa da Ucrânia". A entidade diz que detalhes sobre essa liberação serão tornados públicos apenas no início da próxima semana.

Nesta sexta-feira, a B3 divulgou a primeira prévia, do total de três, para a próxima carteira de ações que irá compor o Ibovespa a partir do dia 2 de maio, com entrada de SLC Agrícola (SLCE3), e nenhuma remoção de nomes, o que elevaria de 92 para 93 papéis a composição da carteira do índice, aponta a XP Investimentos em relatório.

O mercado está com expectativa mais conservadora para o comportamento das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. A percepção de que a próxima semana será de ganhos, porém, continua sendo majoritária entre os participantes. A pesquisa mostra fatia de 46,15% dos que esperam ganhos para o Ibovespa no período entre 4 e 8 de abril, porcentual bem aquém dos 61,54% da semana passada. Os que preveem variação neutra são 30,77% (23,08% na última sondagem), enquanto a parcela que espera queda subiu de 15,38% para 23,08%.

Hoje, as ações tiveram, a princípio, um início de trimestre "sem brilho" nos Estados Unidos, observa em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova York, em dia de divulgação de nova leitura sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, com criação de 431 mil vagas, ainda intensa embora abaixo da expectativa de consenso, de 490 mil para o mês de março.

"O mercado de trabalho continua forte e os empregadores estão progredindo no preenchimento de vagas. O relatório de manufatura da ISM também divulgado nesta sexta-feira confirmou a grande história contada sobre o emprego, mas mostrou que a inflação está ficando pior e a atividade está diminuindo, à medida que os problemas da cadeia de suprimentos persistem", acrescenta o analista.

"Mais uma demonstração de força, hoje, do mercado de trabalho americano, com queda da taxa de desemprego, agora a 3,6%, em recuperação espalhada por vários grupos da população, desde os mais aos menos escolarizados. O que se reflete também nos ganhos salariais, em aceleração, mês a mês, o que representa também inflação para o Fed considerar. Vale lembrar que a taxa de desemprego estava a 6% um ano atrás", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, que acredita em acentuação do ritmo de alta da taxa de juros nos Estados Unidos, de 0,25 ponto para 0,50 ponto porcentual.

"Aqui, a balança comercial com superávit (recorde para o mês, de US$ 7,383 bilhões em março), por mais que tenha vindo um pouco abaixo do que esperava o mercado, retrata bem o que o estrangeiro está enxergando no Brasil desde janeiro, como um país 'net' exportador (exportador líquido), favorecido por commodities em níveis mais elevados, e por tempo prolongado. Brasil é uma das escolhas do estrangeiro, embora haja uma discussão grande quanto a esse fluxo, se é muito especulativo ou não, e por quanto tempo permanecerá", acrescenta Cruz.

Juros

Os juros tombaram nesta sexta-feira, 1º, alinhados ao câmbio, principalmente, e ao recuo dos preços do petróleo. Fatores internos, como a paralisação de funcionários do Banco Central e Tesouro e os dados da produção industrial, ficaram em segundo plano. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024, hoje o mais negociado, encerrou a 11,84%, de 12,056%% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 12,731% para 12,62%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,16%, de 11,42%. Pela primeira vez abaixo do nível de 11% desde 3 de fevereiro (10,96%), a taxa do DI para janeiro de 2027 terminou a 10,98%, de 11,22% ontem.

O sinal de baixa prevaleceu nas taxas desde a abertura e foi se acentuando ao longo do dia, sempre com o câmbio como principal referência, num momento de grande preocupação com o efeito inflacionário da escalada das commodities em função do conflito na Ucrânia. "Como o dólar furou R$ 4,70, ajudou bastante a tirar prêmio da curva pela percepção de que pode ajudar a mitigar o cenário inflacionário", explica Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, lembrando que o petróleo hoje também se desvalorizou.

Após alguma volatilidade inicial, a commodity se firmou em queda à tarde, em meio à liberação de reservas estratégicas da Agência Internacional de Energia (AIE) e aperto nas restrições de circulação na China por causa da nova onda de Covid.

Para o Bradesco, os efeitos da guerra na Ucrânia para as commodities são ambíguos para a economia brasileira. O menor crescimento global, a elevação da inflação e os potenciais problemas na importação de fertilizantes sugerem menor crescimento e preços mais elevados no médio prazo. Por outro lado, o ganho nos termos de troca favorece o real, a melhora das contas públicas e uma menor aversão ao risco, que atuam na direção de maior crescimento e mitigação de riscos inflacionários. "Nesse contexto, o efeito líquido deve ser mais crescimento, inflação e juros", concluem os economistas.

No fechamento dos negócios, o dólar estava em R$ 4,6673, baixa de 1,97%, prevalecendo sobre qualquer preocupação com possíveis impactos da paralisação de servidores. Sem sucesso nas negociações em defesa da reestruturação de carreira e recomposição salarial, funcionários do BC entraram em greve por tempo indeterminado a partir de hoje. No Tesouro, servidores pararam hoje e vão cruzar os braços também na terça (5).

Na agenda, enquanto o payroll de março era destaque nos Estados Unidos, aqui o IBGE divulgou a produção industrial de fevereiro, que subiu 0,7% ante janeiro. A alta veio acima do consenso de crescimento de 0,4%, mas não alterou a percepção negativa para a indústria nos próximos meses. "O diagnóstico ainda é delicado, pelos juros e custos de produção elevados e cadeias de produção global em desequilíbrio", afirma Abdelmalack.


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