Dólar cai para R$ 4,70 com expectativa de Selic mais alta após IPCA de março

Dólar cai para R$ 4,70 com expectativa de Selic mais alta após IPCA de março

Moeda norte-americana voltou a reduzir ganhos após três sessões de forte alta

AE

Dólar avançou 0,57% nesta quinta-feira

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Após três pregões consecutivos de ganhos firmes, em que experimentou uma valorização de 2,88% e ameaçou romper o patamar R$ 4,75, o dólar voltou a cair no mercado doméstico de câmbio na sessão desta sexta-feira esboçando se situar novamente abaixo de R$ 4,70. O principal indutor do tombo da moeda americana por aqui foi uma onda de redução de posições defensivas no mercado futuro, insuflada pela expectativa de que a taxa Selic ultrapasse 13% e, quiçá, atinja 14% nos próximos meses.

A aposta é que a leitura de 1,62% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em março, acima do teto de Projeções Broadcast (1,44%), impedirá o Banco Central de encerrar o aperto monetário em maio, com alta final da Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano. Uma taxa Selic ainda mais elevada encarece o custo de manutenção de proteções cambais (hedge), desestimula apostas mais contundentes contra o real e estimula o carry trade (operações que exploram diferencial de juros entre países).

A trajetória de queda do dólar, contudo, não foi linear. A taxa de câmbio experimentou algumas trocas de sinal durante o pregão, sobretudo pela manhã. Após cair sob o impacto do IPCA de março, o dólar ganhou força com a aceleração da alta do índice DXY (termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes), que chegou a atingir os 100 pontos, maior patamar desde maio de 2020. A taxas dos Treasuries subiram em bloco, com mercado incorporando aos preços a expectativa de uma ação mais enérgica do Federal Reserve, diante da percepção de aumento dos riscos inflacionários com o prolongamento da guerra na Ucrânia, novas sanções ocidentais à Rússia e lockdown em Xangai, na China, para combater a Covid-19.

Ao longo da tarde, com certa moderação da alta do DXY, que passou a trabalhar na casa dos 99,800 pontos, e aumento da pressão vendedora no mercado futuro, o dólar se firmou em terreno negativo. Note-se que moedas emergentes pares do real, com o peso mexicano e o rand sul-africano, também ganharam força nesta sexta.

Com oscilação de cerca de nove centavos entre a máxima (R$ 4,7939) e a mínima (R$ 4,7010), o dólar à vista encerrou a sessão a R$ 4,7089, em baixa de 0,67%. Apesar do recuo desta sexta, o divisa encerra a semana com valorização de 0,89%. No mês, ainda perde 1,10%. Em 2022, a desvalorização acumulada é de 15,55%

O gerente da mesa de derivativos financeiros da H.Commcor, Cleber Alessie, ressalta que o dólar, após a forte desvalorização no primeiro trimestre, havia apresentado uma recuperação significativa nos últimos dias com a postura mais dura do Federal Reserve, explicitada tanto na ata quando em declarações de dirigentes do BC americano. Além da piora dos ativos de risco lá fora, houve uma moderação do fluxo de recurso para o Brasil.

"O real já teve uma correção importante. Hoje, parece que volta a ensaiar uma melhora com o IPCA desfiando o posicionamento do BC de encerrar o ajuste de alta da Selic em maio, com alta de 100 pontos-base", diz Alessie, ressaltando a possibilidade de manutenção de diferencial de juros elevado, mesmo que o Fed acelere o passo e aumento a taxa básica americana em 0,50 ponto. "Isso traz uma dinâmica baixista para o dólar no curto prazo. Mas a volatilidade deve continuar alta com essa mudança da política monetária nos países desenvolvidos."

Após o IPCA de março, casas como Itaú, JP Morgan e Bank of America, revisaram para cima a projeção de inflação neste ano e em 2023. O Itaú manteve projeção de taxa Selic em 13,75%, com alta de 1 ponto porcentual em maio e elevações de 0,50 ponto em junho e agosto.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê necessidade de taxa Selic superior a 13,5% para garantir a continuidade do movimento de queda do dólar, que pode se situar abaixo de R$ 4,50, contribuindo para mitigar as pressões inflacionárias. "Nossa previsão do IPCA foi reestimada de 7,3% para 7,84%. Teremos mais inércia para 2023", afirma Velho, em relatório. "Isso reforça nosso cenário de Selic mais elevada, na faixa de 13,5% a 13,75%."

Juros

Os juros futuros fecharam a sexta-feira em alta, pressionados desde o começo dos negócios pelo IPCA acima do esperado e consequentes revisões para cima nas projeções de inflação de 2022 e 2023, que desafiam o plano de voo do Banco Central BC de aplicar apenas mais uma alta na Selic, em maio. As taxas curtas e intermediárias foram as mais afetadas, capturando o reforço nas apostas de elevação do juro básico nas próximas reuniões do Copom, mas as longas também subiram, em dia de novo avanço nos yields dos Treasuries.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 voltou a flertar com os 13%, fechando a sessão regular em 12,96%, de 12,756% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,156% para 12,43% e a do DI para janeiro de 2025, de 11,53% para 11,77%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,50%, de 11,30%.

O IPCA de março, de 1,62%, não somente veio bem acima da previsão mais pessimista coletada na pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,44%, como superou com larga folga a estimativa do BC trazida no Relatório de Inflação (RTI), de 1,02%. Em fevereiro, havia subido 1,01%. Mesmo com pressões destacadas em combustíveis e alimentos puxando o índice cheio, a leitura dos preços de abertura foi considerada muito ruim, elevando o pessimismo dos agentes sobre a convergência da inflação para a meta no ritmo esperado pelo BC.

A surpresa negativa desencadeou uma bateria de revisões para cima no IPCA anual. O Itaú Unibanco agora espera taxa de 7,5%, de 6,5% anteriormente, para 2022 e colocou a estimativa de 2023 em 3,7%, de 3,5%. Para a Selic, manteve a expectativa de 13,75% no fim do ciclo. Algumas casas já trabalham com taxa acima de 8% este ano, caso do BNP Paribas, que projeta 8,5%, com Selic terminal de 14,25% no fim de agosto.

"O Copom fica mais pressionado a prolongar o ciclo de alta da Selic, o que explica a forte alta dos DIs e alguma oscilação do real. Nosso cenário já incluía a Selic em 13,25% até o fim do ano", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

O gestor de renda fixa da Kínitro Capital, Mauricio Ferraz, diz que o IPCA pressionou não somente os DIs mas também as taxas de inflação implícita das NTN-B e que, em função do índice, cerca de 30 pontos-base de alta da Selic este ano foram adicionados à precificação da curva. "No fechamento de ontem, a precificação de taxa terminal era de cerca de 12,90% e hoje foi para 13,20%", disse.

Para ele, o ajuste não foi tão forte porque o mercado entende que vários inputs desinflacionários tendem a aliviar a inflação nos próximos meses, como a melhora do câmbio. Ainda segundo Ferraz, a curva também apagou as chances, que na quinta-feira já eram residuais, de início do ciclo de cortes este ano, sob a percepção de que a taxa deve manter-se elevada por um período prolongado.

A melhora do câmbio no meio da tarde - o dólar passou a cair para fechar novamente perto de R$ 4,70 - não conseguiu alterar a rota ascendente das taxas, até porque, além do IPCA, outro fator de pressão sobre a curva foi o comportamento dos Treasuries. A taxa da T-Note de 10 anos teve avanço firme, superando os 2,70%, em meio à percepção de que a política monetária do Federal Reserve será mais agressiva.

Bolsa

Mesmo com inversão do sinal do dólar ao longo da tarde desta sexta-feira, o Ibovespa não encontrou força para zerar as perdas do dia e também da semana, contido desde cedo pela leitura acima do esperado para o IPCA em março, no maior nível para o mês em 28 anos. A referência da B3 fechou a sessão em baixa de 0,45%, a 118.322,26 pontos, acumulando perda de 2,67% na semana, após ganhos nas três anteriores entre 2% e 3,2%. Nesta sexta, oscilou entre mínima de 117.486,61 e máxima de 118.868,33, saindo de abertura aos 118.861,49 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 29,7 bilhões nesta sexta-feira. No mês, o Ibovespa cede 1,40%, mas avança 12,88% no ano.

A leitura pior do que o antecipado para o índice oficial de inflação levou o mercado a reavaliar o ciclo de alta de juros, em um contexto local e externo já menos favorável à expansão econômica em 2022, punindo em especial as ações ligadas ao consumo doméstico, como Via (-7,93%), Americanas ON (-7,72%) e Magazine Luiza (-6,55%), na ponta negativa do Ibovespa na sessão.

No lado oposto, destaque para Eletrobras ON (+5,30%), Eneva (+4,05%) e Eletrobras PNB (+4,00%). O dia foi misto para as ações de grandes bancos (Bradesco PN +1,13%, Unit do Santander -2,64%) e para as de commodities (Petrobras ON +1,09%, Vale ON -2,04%).

"O IPCA de 1,62% em março corresponde quase à metade da meta para o ano, o que preocupa. A perspectiva é de juros em patamares maiores e por mais tempo, com reflexo para o câmbio, que deve se valorizar. Será difícil para o BC concluir o ciclo de alta de juros em maio", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

"O comportamento da inflação nesses primeiros meses lembra mais o do ano passado do que o histórico do País, em que costuma ser mais alta a princípio, com desaceleração no meio e retomada no final do ano. Agora, parece se estabilizar mais uma vez em nível alto, com inflação importada: China de novo em lockdown o que traz depois aumento de frete, além do efeito da guerra no Leste Europeu sobre safras e preços agrícolas", acrescenta o estrategista, destacando a elevada "difusão" em março, em alta ante fevereiro. "O índice de difusão, que já passa dos 70%, preocupa bastante. O BC terá um trabalho enorme para tentar controlar essa inflação, boa parte dela importada e pelo lado da oferta", diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. "Para maio, deveremos ter um efeito menor, derivado da redução das tarifas de energia (elétrica), mas por outro lado sobem o dólar, a gasolina, os produtos agrícolas, com fertilizantes também mais caros", acrescenta.

"Os preços ainda não mostram desaceleração, o cenário é de pressão, mesmo com os aumentos de juros já feitos. Com a inflação como está, não há como se ter fortalecimento da economia com o poder de compra das pessoas sendo desgastado, alcançando tanto a economia real como os mercados", diz Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, chamando atenção também para o efeito da guerra sobre parte das cadeias de suprimentos.

Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, destaca que, em março, as maiores pressões vieram dos preços administrados (combustíveis e energia elétrica) e do grupo alimentação e bebidas. "A escalada nos preços das commodities tem contribuído para a pressão nos preços internos, via repasse. Com isso, o IPCA acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses e confirma a hipótese de que o Banco Central deve promover mais um aumento de 100 pontos na Selic em maio."


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