Dólar fecha a R$ 4,35, em novo nível recorde

Dólar fecha a R$ 4,35, em novo nível recorde

Em dia de impacto negativo por coronavírus, Ibovespa ameniza queda no fim

AE

Índice Bovespa encerrou o pregão em queda de 0,29%, aos 114.977,29 pontos

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O dólar voltou a fechar em nível recorde, em novo dia de fortalecimento generalizado da moeda americana no mercado internacional. As preocupações com o coronavírus se ampliaram após a gigante de tecnologia Apple alertar que não vai conseguir cumprir metas de vendas por conta dos efeitos na cadeia produtiva de tecnologia. Bancos seguiram cortando projeções de crescimento este ano da China, da economia mundial e do Brasil. No mercado à vista, o dólar fechou com valorização de 0,65%, a R$ 4,3574. Na máxima, foi a R$ 4,3613.

Em 12 sessões de fevereiro, o dólar caiu somente em quatro, duas delas com leilões extraordinários do Banco Central. Hoje a instituição fez somente o leilão de rolagem de swap, vendendo o lote integral de 13 mil contratos. "O dólar se fortaleceu quase no mundo todo", justificou no final da tarde o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacando que a desvalorização cambial não foi acompanhada de piora da percepção do Brasil, como ocorreu em outros momentos.

O chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressalta que o quadro atual na economia brasileira e mundial não favorece o mercado de câmbio: incerteza com os efeitos do coronavírus, juros historicamente baixos e projeções de crescimento do Brasil sendo revisadas para baixo. "Nossa relação risco retorno está cada vez menos atrativa para o investidor estrangeiro", disse ele. Nesse ambiente, ele destaca que o mercado fica testando o BC, para ver se ele atua.

Velloni acha que um dólar perto de R$ 4,05 mais seria mais condizente com os fundamentos macroeconômicos do Brasil, mas neste momento de incerteza alta, a moeda não deve voltar para este nível. Hoje, o banco francês BNP Paribas reduziu a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para apenas 1,5% este ano e vê a taxa básica de juros caindo para 3,50%. O Citi cortou a estimativa do PIB de 2,2% para 2%.

Os economistas do Citi para o Brasil, Leonardo Porto e Paulo Lopes, afirmam que o impacto mais imediato do coronavírus na atividade brasileira é via redução das exportações. Mas eles não descartam uma potencial redução nos fluxos de capital para os mercados emergentes. Menos recursos externos e preços mais baixos das commodities devem manter o câmbio pressionado no mercado doméstico, com o dólar devendo terminar o ano em R$ 4,14, prevê o banco americano. "A epidemia do coronavírus pode ter implicações relevantes para o cenário econômico do Brasil."

No mercado internacional de moedas, divisas fortes e emergentes seguiram testando mínimas em vários meses ante o dólar. O euro era negociado a 1,07 por dólar no final da tarde, voltando aos menores níveis desde abril de 2017. A moeda australiana atingiu o menor valor em dez anos. O diretor em Nova York de estratégia de moedas da BK Asset Management Boris Schlossberg observa que o alerta da Apple provocou uma onda de aversão ao risco, penalizando as moedas na Ásia, Europa e demais emergentes.

Ibovespa

O alerta da Apple sobre o impacto do coronavírus no seu resultado concretizou temores e foi o condutor da aversão a risco global. O Ibovespa amargou perdas durante toda a sessão com uma oscilação de quase 2 mil pontos entre a máxima, de 115.309,22, e a mínima 113.532,04 pontos. O principal índice à vista da B3 encerrou o pregão em queda de 0,29%, aos 114.977,29 pontos.

Após uma segunda-feira de ganhos conduzidos principalmente pelas empresas ligadas às commodities, foram elas que devolveram parcela dos ganhos da véspera. Vale ON, por exemplo, encerrou o dia com queda de 1,14%. Já os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras, que divulga seu balanço amanhã, registraram alta de 1,33% e 0,76%, respectivamente. Hoje, em comunicado interno, a petroleira direcionou a responsabilidade pelo fim da greve aos empregados e não mais aos sindicatos. "Agora, a decisão é de cada um dos funcionários", afirmou em documento ao qual o Broadcast teve acesso. No texto, reitera que continuará descontando os dias não trabalhados dos salários de quem aderiu ao movimento.

Nem mesmo as declarações pró-reformas feitas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foram suficientes para barrar o mau humor dos investidores durante o dia. Nesta tarde, em evento do BTG Pactual, ele disse estar confiante na aprovação das reformas tributária e administrativa até o fim do primeiro semestre, antes, portanto, das eleições municipais. Mas foram as declarações dele sobre o quão madura está a votação para a capitalização da Eletrobras que animaram a compra e levaram a ação ordinária a fechar em alta de 5,95%.

Para Nicolas Balafas, operador da Atuação Investimentos, não será fácil o governo entregar as reformas, mas é o preço que se tem de pagar para que o Brasil de um salto de qualidade e consiga voltar a atrair investimentos.

Sobre a conjuntura, disse acreditar que haverá um hiato de crescimento, criando um primeiro trimestre quase morto por causa do coronavírus. Os efeitos dessa desaceleração interferem na atividade econômica local, disse, com o Produto Interno Bruto (PIB) reagindo em uma velocidade abaixo da esperada.

Juros

A nova escalada do dólar para nova máxima nominal histórica (R$ 4,3574) nesta terça-feira, 18, não assustou os juros futuros, que oscilaram ao redor da estabilidade durante toda a sessão. No momento mais crítico do dia, quando a moeda rompeu R$ 4,36 perto das 16 horas, os longos bateram máximas, mas sem se afastar dos ajustes anteriores e nada que pudesse ser lido como tendência clara para a curva. O mercado esteve sujeito a um "jogo de forças" que limitou a oscilação das taxas: de um lado, o crescimento da aversão ao risco vinda do exterior e o novo aumento do dólar; de outro, mais uma safra de revisões em baixa para o PIB e aumento da percepção de que a Selic pode voltar a cair antes de subir.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,215% (regular) e 4,225% (estendida), de 4,220% ontem no ajuste, e a do DI para 2022 ficou estável em 4,71% (regular) e subiu levemente para 4,720% (estendida). O DI para janeiro de 2025 passou de 5,972% para 6,00% (regular e estendida) e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 6,371% para 6,39% (regular) e 6,40% (estendida, na máxima).

"O mercado está num momento delicado. A sinalização do BC é de que a barreira para novos cortes da Selic está alta e o dólar voltou a subir. Ao mesmo tempo, há receio com os impactos do coronavírus, que se recusa a ser pagina virada, e com a fraqueza da atividade", resumiu o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.

A terça-feira trouxe outra rodada de revisões para baixo para PIB, inflação e Selic, pelas instituições financeiras que, em tese, poderiam ser estímulo para montagem de posições vendidas, mas não o suficiente para a tomada de risco. Já há instituições acreditando que o crescimento do País este ano ficará abaixo de 2%, caso do BNP Paribas, que reviu sua já baixa projeção de 2% para 1,5%. O banco também agora espera juro básico de 3,5% no fim do ano. O Citi (2,2% para 2%) e o Banco MUFG Brasil (2,8% para 2,2%) igualmente alteraram seus números. Por outro lado, lembra Caramaschi, "a vulnerabilidade do real diante do cenário externo sugere certa cautela".

O pessimismo com o crescimento aumentou depois do alerta da Apple, de que não cumprirá suas projeções para o trimestre em função dos impactos do surto para a economia e as cadeias de produção, lido como o primeiro sinal concreto dos impactos do vírus. "O câmbio está estressado, a aversão ao risco é global depois da Apple, mas se o impacto chegou numa empresa americana pode haver recessão global", disse o gerente da Mesa de Reais da CM Capital, Jefferson Lima. Ele acrescenta que se houver queda de demanda por commodities "é mais juro baixo e por isso os DIs não andam".


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