Dólar fecha dia em queda de 0,32% apesar de fortalecimento da moeda no exterior

Dólar fecha dia em queda de 0,32% apesar de fortalecimento da moeda no exterior

Apesar da perda de fôlego no fim do dia, o real foi uma das duas únicas moedas emergentes

AE

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A piora do apetite por risco no exterior ao longo da tarde, com queda das bolsas em Nova York e aceleração dos ganhos da moeda norte-americana frente a divisas fortes e emergentes, acabou respingando no mercado doméstico de câmbio. Depois de furar o piso de R$ 5,40 pela manhã e tocar no patamar de R$ 5,35 - em meio a relatos de fluxo estrangeiro (para Bolsa e renda fixa) e provável internalização de recursos de emissões externas -, o dólar à vista diminuiu bastante o ritmo de queda e fechou na casa de R$ 5,42 nesta quinta-feira.

Apesar da perda de fôlego no fim do dia, o real foi uma das duas únicas moedas emergentes que se apreciaram na sessão desta quinta-feira. A outra foi o rublo, beneficiado pelo arrefecimento das tensões geopolíticas envolvendo a Ucrânia, após autoridades da Rússia se mostrarem abertas a diálogo com os Estados Unidos.

No dia seguinte à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e à fala dura do presidente da instituição, Jerome Powell, que ratificou a aposta de alta de juros em março, o mercado absorveu a alta de 5,7% do PIB dos EUA em 2021 - o maior ritmo de crescimento desde 1984. Isso deve levar parte dos investidores a ousar pôr suas fichas na possibilidade de que o Fed promova uma elevação inicial de 0,50 ponto porcentual.

A resultante foi uma rodada de apreciação do dólar frente a divisas fortes, sobretudo o euro - o que levou o índice DXY a uma escalada até o patamar dos 97,200 pontos. Além do real e do rublo, outras moedas emergentes até esboçaram uma alta pela manhã, mas acabaram sucumbindo ao longo da tarde.

Por aqui, o dólar até se fortaleceu e tocou R$ 5,43, mas não conseguiu virar o jogo contra o real. Com mínima a R$ 5,3541 (menor valor intraday desde 1º de outubro) e máxima a R$ 5,4354, a divisa fechou a R$ 5,4238, em queda de 0,32% - o que leva a perda acumulada em janeiro a 2,73%.

Analistas atribuem a resiliência do real ao fato de o Banco Central brasileiro liderar o movimento de aperto monetário entre economias emergentes, levando o Brasil a ter um dos maiores juros reais do mundo. Após a divulgação na quarta do IPCA-15 de janeiro acima do esperado, cresceu a aposta não apenas em nova alta de 1,50 ponto porcentual da Selic na reunião do Copom na semana que vem, para 10,75%, como de taxa básica terminal acima de 12%.

 MB Associados, por exemplo aumentou a projeção de alta do IPCA de 2022 de 4,70% para 5,80%, acima do teto da meta do ano (5,0%). Com a mudança, a consultoria elevou também a estimativa de taxa Selic no fim do ciclo, de 11,75% para 12,25%.

Também joga a favor da moeda brasileira o movimento de rotação internacional de carteiras, com investidores reduzindo posições em ações americanas para alocar e mercados emergentes cujos preços são vistos como depreciados, caso da bolsa brasileira.

O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, observa que, além do fluxo estrangeiro, o real é beneficiado por uma reversão do posicionamento do investidor local, que vinha carregando posições pesadas a favor do dólar. "Esse movimento foi capitaneado pelo gringo, mas tem muito local que teve que 'stopar' (emitir ordem para liquidar posição)", afirma Vieira, acrescentando que o real, após ter ficado muito para trás em relação a outras divisas emergentes, agora se recupera e é até utilizado como opção de hedge.

Embora descarte a possibilidade de que a taxa Selic suba até 12% e destoe do consenso ao prever alta de 1,25 ponto no Copom da próxima semana, Vieira vê o Brasil como muito atraente para as operações de carry trade (que exploram diferencial de juros), uma vez que as taxas brasileiras são bem mais elevadas em comparação com outros mercados.

Para o economista da Infinity, o real destoa, por ora, do fortalecimento global do dólar porque, além dos juros locais elevados, estava muito depreciado em relação a outras divisas emergentes. "Não é uma questão de fundamentos. Vamos ver até quando essa posição do estrangeiro em Brasil vai se manter e de certa forma isolar o real desse dólar mais forte no mundo", diz.

"As contas externas demonstram que está havendo retorno dos investidores brasileiros que remeteram para comprar ativos financeiros no exterior", afirma, no Twitter, o sócio-fundador e CEO da Armor Capital, Alfredo Menezes, que vê o dólar a R$ 5,35 como valor bem próximo do que considera o ponto de equilíbrio (em torno de R$ 5,30).

Taxas de juros

O discurso mais 'hawkish' do presidente do Federal Reserve impulsionou as taxas de juros domésticas nesta quinta-feira, com alguns contratos subindo mais de 30 pontos-base. O cenário interno de inflação resiliente e de dilema fiscal são problemas adicionais, que fazem com que a curva brasileira fique ainda mais premiada. Dessa forma, em termos de precificação, os DIs apontavam para uma Selic ao fim do ano mais próxima de 12,50%.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 12,027% no ajuste anterior a 12,22% (regular) e 12,235% (estendida). O janeiro 2024 saltou de 11,43% para 11,755% (regular) e 11,785% (estendida). O janeiro 2025 avançou de 11,043% para 11,315% (regular e estendida). O janeiro 2027 passou de 11,092% para 11,325% (regular, na máxima) e 11,29% (estendida). E o janeiro de 2029 foi de 11,261% a 11,46% (regular) e 11,42% (estendida).

Na quarta-feira, Powell praticamente confirmou a elevação de juros nos Estados Unidos em março e deu ainda pistas sobre o formato do ajuste monetário a ser implementado pela instituição depois do primeiro trimestre.

O presidente do BC dos EUA não descartou elevação sequencial de juros nem negou que possa haver aumentos em todas as reuniões de 2022. E mesmo sem dar muitos detalhes, Powell fez questão de dizer que o cenário de ajuste monetário anterior (iniciado em 2015) é muito distinto do visto agora, com a inflação em nível muito alto, e que "essas diferenças provavelmente terão implicações importantes para o ritmo apropriado dos ajustes de política".

Os efeitos de uma taxa americana mais alta impulsionaram a curva doméstica nesta quinta. No mercado de juros, a curva projetava uma Selic de 12,39% no fim de 2022, ou seja, com 56% de chance de taxa a 12,50% e 44%, de 12,25%. No ajuste de quarta, a taxa implícita era de 12,21%, ou 84% de aposta em 12,25% e 16% em 12,00%.

Já no levantamento do Projeções Broadcast divulgado nesta quinta-feira, o mercado agora prevê juros de 12,00%, ante 11,75% na última pesquisa. As estimativas vão de 10,75% a 13,25% - de 41 instituições, 28 reportaram viés de alta nas estimativas.

Bolsa

Assim como Nova York, com os três índices de lá revertendo ao negativo, o Ibovespa perdeu parte da força ao longo da tarde, após ter chegado a testar a linha de 113 mil pontos no melhor momento do dia. Ao fim, a referência da B3 ainda mostrava boa alta de 1,19%, aos 112.611,65 pontos, o terceiro avanço consecutivo, em recuperação ante a última segunda-feira, quando encerrou aos 107,9 mil pontos. O ganho acumulado na semana está em 3,37% e a retomada no mês chega a 7,43%, com o índice parecendo a caminho de seu melhor desempenho desde dezembro de 2020 (9,30%), já superando o de maio de 2021 (6,16%), o melhor do ano passado.

Na máxima desta quinta, no começo da tarde, o Ibovespa chegou aos 113.057,03 pontos, em alta de 1,59%, o melhor nível intradia desde 19 de outubro, então aos 114,4 mil. Nesta quinta, saiu de mínima na abertura aos 111.302,93 pontos, com giro financeiro a R$ 35,4 bilhões no encerramento. O fechamento desta quinta, aos 112,6 mil, segue como o melhor desde 18 de outubro (114.428,18 pontos).

Enquanto os principais índices europeus encerraram o dia em terreno positivo, com ganhos de até 1,13% (Londres), as referências de Nova York continuam a refletir um grau maior de cautela sobre a economia americana, no momento em que o Federal Reserve tem emitido sinais claros quanto a uma orientação mais restritiva para a política monetária, com provável aumento de juros em março.

O banco ING avalia que há uma chance real de os Estados Unidos registrarem contração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2022. "Como os gastos do consumidor em janeiro provavelmente não mostrarão melhora significativa em relação a dezembro, estamos projetando crescimento estável dos gastos do consumidor para o trimestre", diz o banco em relatório a clientes.

Por sua vez, o BNP Paribas Markets 360 elevou projeção para a taxa básica de juros do Fed neste ano: a previsão foi de quatro para seis altas de 25 pontos-base em 2022. A instituição espera que os Fed Funds estejam na faixa de 2,25% a 2,50% ao fim de 2023, 25 pontos-base acima do previsto anteriormente. O economista-chefe global, Luigi Speranza, disse que esta nova projeção traz desafios para a perspectiva 'bullish' nas ações dos EUA. "No entanto, não é suficiente para descarrilar de forma independente se o crescimento dos lucros continuar forte, em nossa opinião."

"O tom do comitê de política monetária do Fed, ontem, foi mais duro e contracionista, com sinalização de aumento da taxa de juros no curto prazo, após os Estados Unidos terem encerrado 2021 com inflação a 7%. É o grande dilema: aumento de juros vai rebater na atividade econômica; como combater a inflação sem obstruir muito o nível de atividade?", observa Túlio Nunes, especialista de finanças da Toro Investimentos, chamando atenção para os rendimentos de 10 anos dos títulos americanos batendo quase 2% após a comunicação do Federal Reserve.

"Os investidores ainda (estão) avaliando uma série de incertezas que permaneceram após os anúncios do Federal Reserve na tarde de ontem", aponta em nota a Guide Investimentos, destacando que o Fed abordou "os temas de alta de juros e redução do balanço, mas trouxe poucos detalhes".

"Elevar os juros não chega a ser novidade. Era pra ser neutra a reação do mercado, mas ficou em aberto a sinalização de quantos aumentos de juros haverá este ano e quando o balanço patrimonial do Fed vai começar a ser reduzido, balanço que cresceu bastante durante a pandemia para estimular a economia - e o mercado fica agora com medo, com relação à pressão vendedora de alguns ativos", diz Natalia Monaco, estrategista da Veedha Investimentos.

Ela destaca, por outro lado, a "grata surpresa" proporcionada nesta quinta pela "forte" elevação do PIB americano em 2021 e, ao longo de janeiro, o fluxo de ingresso de investimento estrangeiro na B3, a princípio por commodities e depois bancos, e que chega agora também às ações do varejo, dando sustentação à Bolsa mesmo em dias menos propícios em Nova York, como nesta quinta-feira.

Antes de perderem força, em boa parte da sessão, especialmente pela manhã, os índices de ações em Nova York conseguiram sustentar recuperação, repercutindo a expansão de 5,7% registrada pela economia dos Estados Unidos em 2021, aponta em nota a equipe de Research e Estratégia da Terra Investimentos. Foi a melhor taxa de crescimento para a economia americana desde 1984.

Na B3, os ganhos que se mostravam bem distribuídos por setores e empresas de peso até o começo da tarde chegaram a dar lugar a desempenho misto, embora com alguma recuperação na reta final. No encerramento, o desempenho era positivo para siderurgia, à exceção de Usiminas PNA (-0,49%), assim como para Petrobras (ON +0,38%, PN +0,03%) e Vale (ON +0,23%).

Os grandes bancos, que também oscilaram entre ganhos e perdas ao longo da tarde, também se firmaram em alta no fim da sessão, com destaque para Santander (Unit +1,56%) e BB (ON +1,38%). Na ponta do Ibovespa, Magazine Luiza (+6,96%), Banco Inter (Unit +6,28%) e Via (+6,21%). No lado oposto, Intermédica (-4,70%), Hapvida (-3,43%) e Natura (-3,24%).


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