Dólar fecha em R$ 5,37 após semana de volatilidade forte no mercado doméstico

Dólar fecha em R$ 5,37 após semana de volatilidade forte no mercado doméstico

Ibovespa virou no fim, fechando em leve alta de 0,11%, mas cedendo 0,67% na semana

AE

Moeda norte-americana acumulou leve queda de 0,21% nos últimos 5 dias

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Sem detalhes concretos de como o governo pretende reeditar e bancar o programa de auxílio emergencial, o real operou descolado de seus pares no exterior nos últimos dias, mesmo com certo alívio trazido por fluxos de ofertas de ações na B3. O dólar teve uma semana de volatilidade forte no mercado doméstico, não conseguindo firmar tendência. Com isso, acumulou leve queda de 0,21% nos últimos 5 dias, oscilando na casa dos R$ 5,30 a R$ 5,45. Nesta sexta-feira, após almoço conjunto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), falaram do compromisso com reformas e da urgência do auxílio, mas causaram frustração em novamente não dar detalhes de como será feito.

No fechamento de hoje, a moeda norte-americana caiu 0,26%, a R$ 5,3742. No mercado futuro, o dólar para março subiu 0,09%, a R$ 5,3735.

Como bancos e a Bolsa estarão fechados na segunda e terça-feira de Carnaval, além de ser feriado nos Estados Unidos na segunda, as mesas de câmbio já embutiram na cotação desta sexta a tradicional cautela antes de feriados, com algumas operações de exportadores e tesourarias sendo antecipadas para hoje. Mas o grande tema para o mercado é a situação fiscal do Brasil, que parece não dar mostras de ficar mais clara.

"O Congresso todo embarcou no auxílio. A pressão está muito grande", afirma o economista-chefe da XP Asset, Fernando Genta. Para ele, a briga de Guedes agora é convencer o presidente do Senado a colocar tudo dentro de uma PEC, com contrapartidas. "Um auxilio limitado, de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões, por três ou quatro meses para mim me parece uma barganha justa", ressalta ele, destacando que a maior parte dos recursos dados em 2020 não tiveram, na prática, uso emergencial, indo praticamente parar no varejo. "Mas se isso vier acompanhado de barganha que melhore os arcabouços fiscais, beleza."

Genta argumenta que a moeda brasileira segue muita atrás de outros emergentes, até de países como a África do Sul, com endividamento alto e sem sinal de ajuste fiscal. Mesmo assim, no ano, o dólar sobe 3,6% ante o real, enquanto cai 0,72% perante o rand sul-africano. Para o economista da XP Asset, se o Banco Central voltar a subir os juros, levando a Selic para um patamar ao redor de 4% até o final do ano, o real pode ter alguma melhora.

Nesta sexta-feira, a precificação da abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da CSN Mineração, que movimentou R$ 4,5 bilhões, sem considerar os lotes extras, ajudou a retirar um pouco de pressão do câmbio hoje, na medida que parte importante dos papéis ficou com estrangeiros. Conforme revelou o Broadcast, a ação saiu no piso do intervalo sugerido aos investidores, R$ 8,50 e R$ 11,35.

Ibovespa

Em dia de oscilação mista, com leve variação em Nova Iorque, o Ibovespa colheu perda de 0,67% na semana, nesta cautelosa véspera de feriado na B3: na segunda, também não haverá negócios nos EUA, mas na terça apenas se poderá observar o que vier a acontecer lá fora. Assim, o índice se manteve em faixa mais estreita na sessão, entre mínima de 118.162,68 e máxima de 119.763,36 pontos, para virar no fim e fechar em leve alta de 0,11%, a 119.428,72 pontos, com giro financeiro a R$ 28,5 bilhões. Os ganhos no mês, que chegaram a se aproximar de 5% no melhor momento da primeira semana de fevereiro, estão limitados agora a 3,79%, após ajuste negativo de 0,67% nesta semana - na anterior, o ganho foi de 4,50% no encerramento do período.

"Além das questões domésticas, especialmente a situação fiscal, há outro fator a ser observado: esta pressão vendedora, natural em mês que concentrou grande volume de IPO e follow on, o que afeta o fluxo para Bolsa com a disponibilidade de alternativas de investimento que se tem em oferta - em momento em que o fluxo estrangeiro já não é o mesmo dos três meses anteriores", diz Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset. "A depender do que vier de auxílio emergencial, a reação do mercado pode ser até positiva, caso se confirme a indicação do valor, em torno de R$ 200, por até quatro meses. O mercado parece já ter assimilado isso", acrescenta.

Ainda assim, lá fora as negociações para o pacote fiscal nos EUA e, aqui, sobre a retomada do auxílio emergencial, possivelmente a partir de março, permanecem no centro da atenção. "Somente com o fortalecimento do arcabouço fiscal seria plausível estender o auxílio emergencial e ao mesmo tempo garantir a retomada consistente da economia com juros baixos", aponta o ASA Investments, em nota sobre o cenário macro, na qual defende aprovação da PEC Emergencial e da reforma administrativa para que se elimine incerteza sobre a "trajetória futura do gasto público".

A leitura do IBC-Br, em alta de 0,64% em dezembro ante novembro, a oitava consecutiva, contribuiu hoje para aliviar parte do receio despertado pela aguda retração das vendas do varejo no fim de 2020, e os efeitos que poderia carregar para este início de ano - marcado por leitura abaixo do esperado para o IPCA em janeiro, também divulgada nesta semana.

"Os próximos 'leading indicators' (indicadores antecedentes) serão importantes para que se continue a monitorar de perto a resposta da economia, que vinha reagindo com base na concessão de estímulos. Houve algum ruído (na expectativa para o próximo Copom) que se refletiu em oscilação dos juros futuros, talvez com certo exagero, conforme observado pelo Campos Neto (presidente do BC). A janela para as reformas precisa ser aproveitada, o que acalmaria o mercado, contribuindo para a recuperação do apetite por risco", diz Orefice, da BS2.

O ânimo chegou a melhorar um pouco no início da tarde, quando o Ibovespa renovava discretas máximas, abaixo de 120 mil pontos, em meio a expectativa para algum desdobramento concreto do almoço, nesta sexta-feira, entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Da reunião não vieram novidades, sobretudo quanto ao fator central para o mercado: de onde sairão os recursos para bancar o auxílio.

Além das conversas sobre a retomada do auxílio, uma série de resultados trimestrais, como os de Banco do Brasil (ON -0,56%) Lojas Renner (ON +1,29%), Cesp (PNB -2,57%) e Cosan (ON +1,38%), também contribuiu para dar orientação aos negócios nesta sexta-feira. Na ponta do Ibovespa, CVC fechou em alta de 5,57%, à frente de Braskem (+3,03%) e de PetroRio (+2,92%). Na face oposta do índice, Cielo cedeu 6,63%, seguida por Hapvida (-2,38%) e BTG (-2,33%). Entre as blue chips, as ações de commodities tiveram desempenho positivo (Petrobras PN +1,28%, Vale ON +0,85%), misto nas de siderurgia (Usiminas +0,35%, CSN -0,58%), assim como nas de bancos (BB ON -0,56%, Santander +0,42%).

"O Ibovespa teve uma semana de total indecisão, sem mostrar força para retomada da tendência de alta, e sem ter força para testar o fundo anterior, de 115 mil pontos. Apesar da indecisão, a tendência ainda é de alta e, enquanto estiver acima dos 119 mil, dá sinais de possível retomada", observa Pam Semezzato, analista da Rico Investimentos.

Juros

Os juros fecharam em alta por toda a curva, refletindo as incertezas com relação às contas públicas e cautela antes do feriado de carnaval, que fechará o mercado na segunda e na terça. Os que mais subiram foram os do miolo da curva, mesmo num dia em que o dólar esteve relativamente bem comportado. O imbróglio em torno do auxílio emergencial se mantém como principal fator de risco para os ativos. Sinais de que o valor e a duração do pagamento do benefício em 2021 serão maiores do que o esperado pesaram sobre os negócios, enquanto também há dúvidas sobre a viabilidade política das contrapartidas fiscais embutidas nas duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) a serem encaminhadas ao Legislativo.

A agenda de indicadores afetou as taxas curtas pela manhã, com o IGP-10 e o IBC-Br mais fortes, mas sem alterar a aposta majoritária de aumento de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom de março. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a regular com taxa de 3,360% e a estendida em 3,355%, de 3,347% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,52% (regular e estendida), de 6,435% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 7,19% (regular) e 7,20% (estendida), de 7,124%.

O desenho reflete basicamente a angústia dos agentes ao longo da semana em relação ao auxílio. Conforme a repórter especial Adriana Fernandes, governo e lideranças do Congresso negociam valor de R$ 250 em quatro parcelas, com custo total de cerca de R$ 30 bilhões, entre março e junho. O mercado trabalhava com a ideia de um valor menor, de R$ 200, e por três meses apenas.

Ainda, a concessão do auxílio terá que ser dada por meio da PEC de orçamento de guerra, semelhante mas não igual à aprovada em 2020, que permitiu que o governo ampliasse os gastos no combate à pandemia livre das "amarras" das regras fiscais. Agora, as medidas de contrapartidas de corte de despesas e de renúncias fiscais serão divididas em duas etapas. A "PEC de guerra" conterá uma versão mais compacta de medidas fiscais com base no texto do pacto federativo. A segunda PEC conterá a outra parte das medidas mais duras de corte de despesas, com o objetivo de sustentar a sobrevivência do teto de gastos até 2026.

A informação é de que técnicos da equipe econômica e do Congresso trabalharão durante o feriado no aprimoramento das medidas. "Novidades são aguardadas nos próximos dias, quando os mercados estarão fechados para o feriado de carnaval. Mesmo que possa surgir um bom desenho destas medidas, o tamanho do desafio fiscal e político não autoriza otimismo", disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências.

A agenda do dia ajudou a pressionar os curtos, quando saíram o IGP-10 de fevereiro, com alta de 2,97%, no teto das estimativas do mercado, e o IBC-Br de dezembro, de 0,64%, acima da mediana de 0,30% e perto do teto do intervalo (0,70%). "O IBC-Br amenizou o impacto negativo para a atividade trazido pelo varejo", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.


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