Dólar se fortalece com economia mundial e sobe a R$ 4,12

Dólar se fortalece com economia mundial e sobe a R$ 4,12

Ibovespa mantem sinal positivo e sobe 0,45%, voltando aos 104 mil pontos

AE

Real é a moeda com pior desempenho nesta segunda

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O dólar começou a semana se fortalecendo na economia mundial, em meio às dúvidas sobre o acordo comercial parcial anunciado na sexta-feira pela Casa Branca com a China. Na falta de notícias locais positivas e sem fluxo de estrangeiros, desestimulado pela tendência de queda do diferencial de juros do Brasil com o resto do mundo, o real foi a moeda que teve pior desempenho nesta segunda-feira, em uma cesta de 34 moedas mundiais, superando inclusive a lira turca, que tem sido pressionada com as ameaças de Donald Trump de impor sanções à Turquia em resposta aos ataques do país contra populações curdas na Síria. Em dia de liquidez reduzida, o dólar à vista fechou em alta de 0,81%, a R$ 4,1280. No mercado futuro, a moeda americana chegou a R$ 4,14.

A divulgação de mais um indicador mostrando fraqueza da atividade provocou perspectivas de juros ainda menores no Brazil. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou apenas 0,07% em agosto ante julho. O Banco Fibra reduziu projeção para a taxa básica, a Selic, para 4% e alertou para a possibilidade de taxas ainda mais baixas que esse patamar.

Por conta da redução do diferencial de juros e a tendência desse movimento persistir, o Itaú Unibanco anunciou revisão na projeção do dólar, de R$ 3,80 para R$ 3,90 este ano e para R$ 4,25 no final de 2020. A estimativa anterior era que a moeda americana terminasse o ano que vem em R$ 4,00. "O diferencial de juros em patamar historicamente baixo pode ter impacto potencialmente maior sobre o câmbio do que no passado", ressalta relatório do banco, que tem como economista-chefe o ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita.

No relatório, o Itaú ressalta que o diferencial tão baixo de juros "ainda é uma nova realidade e requer algum tempo de aprendizado" para que se possa estimar com maior confiança seu impacto sobre o mercado de câmbio. O Itaú observa ainda que outro risco para o real é uma desaceleração mais acentuada das principais economias globais e/ou nova deterioração das relações comerciais entre EUA e China, que podem gerar uma aversão ao risco global, diminuindo o fluxo de capitais para emergentes.

"O acordo fase 1 não retira as nuvens de incerteza sobre o comércio", observam os estrategistas do banco americano Citi.

Para o sócio-fundador da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti, o quadro atual, doméstico e externo, não permite a queda das cotações do dólar. A moeda americana se fortaleceu nesta segunda em meio às dúvidas sobre o acordo comercial "fase 1" entre a China e EUA e, no mercado doméstico, um fator para adicionar cautela, além do diferencial de juros, é a briga de Jair Bolsonaro e família com o PSL. "É um cenário ruim para quem precisa aprovar reformas", disse ele, ressaltando que o governo ainda precisa garantir a aprovação da Previdência em segundo turno no Senado, em votação prevista para o próximo dia 22.

Ibovespa

Apesar da falta de força das bolsas americanas, em meio à cautela em torno da concretização do acordo parcial entre China e Estados Unidos, o Ibovespa manteve o sinal positivo ao longo da tarde e fechou acima dos 104 mil pontos pela primeira vez desde o dia 1º de outubro. Nas últimas quatro sessões, o principal índice da B3 acumulou valorização de 4,44%. Em outubro, porem, ainda apresenta perda, de 0,42%.

Impulsionadas pelo aumento das apostas de que a taxa Selic cairá abaixo de 5% ao ano, ações de bancos e varejistas apresentaram alta firme e sobrepujaram o efeito negativo do tombo dos papéis de Vale e siderúrgicas. Com mínima aos 103.438,47 pontos, o Ibovespa fechou aos 104.301,58 pontos, alta de 0,45%. O volume negociado foi reduzido, de R$ 10,7 bilhões, em razão do feriado do Dia de Colombo, nos Estados Unidos, que diminuiu o giro de negócios em Wall Street.

Profissionais ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, afirmam que, com a perspectiva de votação final da previdência no Senado até dia 22 e afastado o risco iminente de uma escalada da guerra comercial, investidores aproveitaram que muitos papéis haviam sofrido em demasia para recompor posições.

Um experiente operador de uma corretora local lembra que o Ibovespa chegou a fechar abaixo dos 100 mil pontos no início da semana passada, em meio aos temores de que as negociações sino-americanas malograssem e aos ruídos políticos internos, com a disputa em torno da partilha dos recursos do megaleilão do pré-sal. "Com essa melhora no humor, muitos papéis pareceram com preços atraentes, o que estimulou compras. Mas o Ibovespa ainda parece sem forças para superar os 105 mil pontos", afirma.

Lá fora, depois de celebrar o acordo parcial entre China e Estados Unidos na sexta-feira, o mercado adotou uma postura mais cautelosa. Chineses afirmaram que querem "novas conversas" antes de assinar a chamada "Fase 1" do entendimento parcial e ainda buscam um acordo comercial abrangente. O principal ponto de preocupação é a possibilidade de os Estados Unidos elevarem tarifas a produtos da China em 15 de dezembro.

Por aqui, a perspectiva é que o PL da cessão onerosa seja apreciado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e no plenário da Casa ainda nesta terça-feira. Por ora, os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL, não assustam os mercados, dizem operadores.

Com a expectativa pelo megaleilão em novembro, as ações da Petrobras conseguiram se desvencilhar do efeito negativo da queda de mais de 2% dos preços do petróleo e fecharam em alta - PN subiu 0,18% e ON, 0,58%. Na contramão, o papel da Vale amargou queda de 1,34%, na esteira da baixa de 2,42% do preços no porto de Qingdao, na China.

O destaque positivo do pregão foram os papéis de bancos, varejistas e incorporadoras, que tendem a ser beneficiados pelo avanço do crédito em um ambiente de juros menores. Não por acaso, entre os índices setoriais da B3, as maiores altas foram do Índice Financeiro (1,04%), Índice Imobiliário (0,93%) e Índice de Consumo (0,51%). Entre as blue chips, Itaú PN subiu 1,68% e Bradesco PN avançou 1,41%. No setor de consumo, destaque para o papel ON de Magazine Luiza (4,12%), maior alta entre as ações que compõem o Ibovespa, e para a B2w (+1,89%).

Diante da retomada lenta da atividade e das projeções de inflação bem comportadas, crescem as expectativa de mais corte da Selic. Depois de recuar 0,07% em julho, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,07% em agosto ante julho (com ajuste sazonal) - abaixo da media de 0,20% do Projeções Broadcast, mas dentro do intervalo esperado (entre -0,20% e +0,50%).

Taxas de juros

Após quatro sessões seguidas de queda, os juros futuros tiveram uma pausa e terminaram a etapa regular de lado. Ao longo da manhã desta segunda-feira, exibiam leve baixa, mas à tarde passaram a oscilar perto dos ajustes, na medida em que o dólar ganhou mais força e renovou máximas ante o real, acompanhando a tendência externa. Na primeira parte dos negócios, o mercado teve uma série de fatores a se inspirar para devolver um pouco mais de prêmios, como o anúncio de mais revisões de estimativas para a Selic por instituições do mercado, queda das medianas de inflação no Boletim Focus e IBC-Br de agosto abaixo da mediana das projeções. Na jornada vespertina, com esses vetores já absorvidos, as taxas se acomodaram perto dos ajustes, diante também de maior cautela nos mercados lá fora.

Com parte dos mercados em Wall Street fechada em função do feriado do Dia de Colombo, a liquidez ficou reduzida nos vencimentos longos, trecho preferido dos investidores estrangeiros. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 6,24%, de 6,251% no ajuste de sexta-feira. Na ponta curta, contudo, o volume foi atipicamente firme para uma segunda-feira. A taxa do DI para janeiro de 2021 encerrou em 4,570%, de 4,587% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2023 destoou um pouco das demais ao sustentar um viés de queda, recuando de 5,590% no ajuste para 5,55%.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o exterior deu motivo para o mercado suspender a retirada de prêmios, em função das dúvidas sobre se a China vai mesmo endossar a "fase 1" do acordo comercial com os Estados Unidos, que havia sido motivo de comemoração na sexta-feira. Além disso, saíram dados aquém do esperado no comércio exterior do país asiático, já lidos como sintomáticos da guerra comercial. "Ainda há muito a se avançar nesse front inicial", disse.

Por outro lado, a ponta curta deixa confortável quem está vendido em DI. As revisões de IPCA para baixo na semana passada, após a deflação de 0,04% do indicador em setembro surpreender quase todo o mercado, se consolidaram nesta segunda na pesquisa Focus e a mediana teve forte recuo, de 3,42% para 3,28%. Esse movimento ainda não chegou à Selic para o fim de 2019, com a mediana para a taxa ficando inalterada em 4,75%, mas pode ocorrer nos próximos Boletins Focus. Para 2020, caiu de 5,00% para 4,75%. Desde sexta-feira, o mercado vem revisando para baixo estimativas de Selic, com algumas casas já esperando nível de 4% no fim do ciclo.

Ainda que as máximas do dólar nesta tarde possam ter ajudado a apagar o viés de baixa dos juros, a percepção é de que o câmbio não será capaz de interferir no ciclo da Selic, mesmo porque os dados de atividade seguem frustrando parte do mercado. Nesta segunda foi a vez do IBC-Br de agosto (+0,07%) ficar abaixo da mediana das estimativas (+0,2%) dos analistas. Além disso, a principal pressão sobre o câmbio doméstico vem da própria percepção do mercado sobre a queda de juros, que tende a tornar mais desinteressante o diferencial em relação aos juros lá fora para atrair fluxo.


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