Dólar sobe 3,3% na semana e real tem pior desempenho mundial

Dólar sobe 3,3% na semana e real tem pior desempenho mundial

Moeda norte-americana encerrou a semana valendo R$ 5,47

AE

Os mercados globais tiveram uma semana mais positiva, enquanto o Brasil destoou desse ambiente

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O dólar fechou a semana acumulando valorização de 3,3% ante o real. A moeda brasileira foi a que mais perdeu valor esta semana no mercado internacional, considerando os principais emergentes. Crescentes preocupações com piora adicional das contas fiscais brasileiras, em meio à lenta vacinação, ao crescimento dos casos de Covid-19 e a mais medidas de restrição, como as anunciadas nesta sexta-feira, pelo governo de São Paulo, que também acenderam uma luz amarela sobre os efeitos na atividade econômica.

No geral, o dólar teve comportamento bem mais ameno em outros emergentes nos últimos cinco dias, caindo ao redor de 0,60% na Turquia e África do Sul e subindo 0,85% no México. No ano, o dólar já sobe quase 6% no Brasil.

Nesta sexta-feira, o dólar operou em alta em todo o dia, fechando com valorização de 2,14%, a R$ 5,4790, a cotação mais alta desde o dia 11 (R$ 5,50). No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 2,20%, a R$ 5,4700.

Os mercados globais tiveram uma semana mais positiva, enquanto o Brasil destoou desse ambiente, observam os estrategistas da BlueLine Asset Management. O início da vacinação foi a notícia animadora, mas o processo lento e a falta de insumos, enquanto as novas contaminações não param de aumentar, contribui para aumentar a pressão em Brasília por mais medidas emergenciais, principalmente programas sociais e ontem os candidatos ao comando do Senado e da Câmara apoiados pelo governo falaram em prorrogar o auxílio. "A grande dúvida é se essas despesas serão cobertas com rearranjo orçamentário dentro do teto de gasto, ou serão feitas sem planejamento."

Para o economista-chefe da Gávea Investimentos, Tiago Berriel, ex-diretor do Banco Central, qualquer flexibilização do teto de gastos e aumento de despesas públicas neste momento deveria vir com algum sinal de ajuste "muito claro" no período pós-pandemia, disse na tarde de hoje em evento online da Modalmais. "Eu não veria como um sinal bom um desvio do teto agora sem nenhuma contrapartida específica e clara no futuro", afirmou, alertando não ver espaço no Orçamento para realocar um programa de R$ 40 bilhões

Na avaliação de outro ex-BC, Carlos Viana, sócio da Asset 1, qualquer alta de gasto com apenas uma promessa de que vão ajustar lá na frente, o mercado não levaria a sério. "Nosso histórico não nos credencia para fazer promessa de sacrifício futuro", afirmou no evento da Modalmais.

Se o esforço de vacinação fosse mais competente, disse Viana, a sinalização seria de um auxílio mais curto, o que poderia ser mais facilmente aceito pelo mercado.

Os economistas em Nova York do Citigroup alertam que o barulho político pode aumentar até a eleição para os comandos da Câmara e Senado, dia 1º de fevereiro. As declarações recentes em favor de mais auxílio emergencial só reforçam a visão de que o teto de gastos será burlado este ano, da ordem de R$ 75 bilhões, destaca o banco americano. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro vem perdendo popularidade.

Juros

A curva de juros empinou nesta sexta-feira, fechando a semana nos maiores níveis de inclinação do mês desde o começo de dezembro e refletindo nova rodada de piora no risco fiscal e a disparada do dólar. O impacto das fortes declarações do candidato à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (MDB-MG), na quinta-feira, defendendo a volta do auxilio emergencial e de que o teto de gastos não pode ser intocado, foi ainda maior nesta sexta com o anúncio do governo de São Paulo de que o Estado vai voltar à fase vermelha nas noites e fins de semana entre 25 de janeiro e 8 de fevereiro.

O fechamento parcial do comércio e serviços no período deve afetar a atividade, jogando ainda mais pressão para a retomada do benefício. Essa ideia também ganhou força com mais números negativos sobre a aprovação do governo de Jair Bolsonaro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular e a estendida em 3,38%, estável ante o ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,132% para 5,18% (regular) e 5,17% (estendida). O DI para janeiro de 2025 terminou com taxas de 6,79% (regular) e 6,78% (estendida), de 6,625%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,264% para 7,50% (regular) e 7,47% (estendida).

O spread entre os contratos de janeiro de 2022 e janeiro de 2027 subiu a 409 pontos-base, maior patamar desde 2 de dezembro de 2020 (416 pontos), enquanto o diferencial entre as taxas de janeiro de 2022 e janeiro de 2025 fechou nesta sexta em 340 pontos, maior desde 1º/12/2020 (344 pontos). Houve ganho importante na inclinação em relação ao dia anterior, quando os diferenciais nestas medidas haviam sido de 388 e 324 pontos respectivamente.

Na avaliação do Banco Fator, a curva mostra como a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deveria resultar em menos spread entre os juros longos e curtos, ficou subordinada à nova percepção da atividade e ao risco fiscal. "Os dois movimentos se reforçam, pois, ao invés de menos demanda e menos inflação, o mercado vê mais risco de 'populismo' por parte de Bolsonaro", afirma o banco.

A constatação dos agentes é de que o risco fiscal piorou muito nos últimos dias, com o cenário de retomada do pagamento do auxílio parecendo cada vez mais próximo de se concretizar, especialmente se, após a decisão do governo paulista, outras regiões do País forem pelo mesmo caminho. A questão é que não há espaço fiscal que respeite o teto de gastos a suportar tal medida.

"A conjunção de baixo crescimento e crise sanitária potencializada pela segunda onda vai tornar praticamente impossível a manutenção do teto", afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

A implantação parcial da fase vermelha em São Paulo já traz viés negativo para as previsões do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, disse que sua projeção de queda de 0,1% na margem pode ser alterada para retração de 0,5%.

Bolsa

Na pior série desde o fim de outubro, o Ibovespa emendou nesta sexta-feira a quarta queda consecutiva, elevando as perdas na semana a 2,47% e as do ano a 1,38%, enquanto, em Nova York, os ganhos em 2021 variam entre 1,28% (Dow Jones) e 5,08% (Nasdaq) com sucessivas renovações de máximas históricas. A fraqueza do fiscal e o ambiente político ruidoso, bem como o ceticismo em relação ao avanço da vacinação no País, impõem-se ao cenário externo ainda favorável, com ampla liquidez global e expectativa positiva para o início de novo governo nos EUA.

Nesta sexta-feira, perto do fechamento, o Ibovespa conseguiu limitar a perda do dia a 0,80%, aos 117.380,49 pontos, ainda assim no menor nível desde o encerramento de 22 de dezembro, então aos 116.636,18 pontos.

Como nas últimas sessões, o giro financeiro também se mostrou mais acomodado em relação ao observado no começo do ano - nesta sexta, totalizou R$ 33,8 bilhões. A perda de 2,47% nesta semana sucede retração de 3,78% na anterior e ganho de 5,09% na primeira do ano.

Para Alex Lima, head de gestão da Lifetime Asset Management, pela "incapacidade de fazer o que se espera que seja feito", o Brasil começa a perder a carona de um cenário externo benigno aos emergentes, com um início de governo Biden inclinado a mais estímulos e em retórica de recomposição de laços globais, sem as atribulações de Trump, o que tem contribuído para que os índices de Nova York renovem recordes. "Estamos começando a ficar em descompasso pelos nossos fundamentos e por falta de reação das autoridades políticas. No momento, têm emergido posições antifiscais na disputa pelo comando da Câmara e do Senado. Após perder a corrida pela vacina, Bolsonaro parece ter ficado com menos opções de jogo. E se a conversa sobre impeachment ganhar força, o mercado vai recalcular e colocar no preço."

Em outro desdobramento importante, nesta semana o Banco Central retirou o '<i>forward guidance</i>' do comunicado sobre a decisão de política monetária, abrindo caminho para elevação da taxa de juros antes do que parte do mercado antecipava. "Maio e junho passaram a concentrar a atenção (sobre a Selic), mas já há quem fale em março como momento em que o BC poderá atuar", diz Lima. "Em quatro semanas, a ponta longa de juros abriu quase 100 pontos. Apesar do bom humor externo, que contribui com fluxo para a Bolsa, temos uma situação fiscal muito complicada - e agora silêncio da área econômica sobre o que tem ocorrido na política. O sentimento do mercado não pode ser outro no momento: risk-off."

Assim, desde que renovou máxima histórica intradia (125.323,53) e de fechamento (125.076,63) em 8 de janeiro, após ter tocado pela primeira a vez a marca de 120 mil pontos na última sessão de 2020, o Ibovespa acumula perda de cerca de 8 mil pontos em relação ao topo. As incertezas sobre o ritmo de vacinação e a necessidade de retomada do distanciamento social começam a resultar em reavaliação sobre o PIB do primeiro trimestre, com efeitos que poderão ser sentidos também no período subsequente. "Há espaço para o Ibovespa cair mais - aos 106 mil pontos se teria um bom ponto de compra", diz Lima, da Lifetime.

"O mercado deve seguir em realização até a eleição para a presidência da Câmara, no início de fevereiro, com espaço para o índice chegar aos 110 mil pontos. Hoje tivemos o prosseguimento da correção de ontem, quando (Rodrigo) Pacheco e (Arthur) Lira (candidatos à presidência do Senado e da Câmara) falaram sobre auxílio emergencial e teto de gastos. A leitura é de que o teto venha a ser furado, independente de quem vença as disputas", diz Jefferson Laatus, estrategista do Grupo Laatus. "Combinado a isso, há o lockdown também sendo retomado na China. Vale lembrar que, em 2020, as coisas começaram a piorar às vésperas do Ano Novo Lunar. Existe a preocupação de que o vírus volte a se espalhar por lá com os deslocamentos pelo feriado", acrescenta o estrategista, observando que o feriado aqui na segunda, com mercados abertos lá fora, é um elemento a mais para a cautela dos investidores.

Em meio a tantos fatores de risco, o índice da B3 emendou nesta sexta sua pior sequência desde o intervalo entre 23 e 28 de outubro, quando também encadeou série de quatro baixas - a maior, no dia 28, quando cedeu 4,25%. A partir de novembro, veio a recuperação, com fluxo estrangeiro que se estendeu a dezembro e a este começo de janeiro.

Contudo, nas últimas seis sessões, o índice da B3 obteve ganho apenas na segunda-feira, 18, o dia seguinte ao início da vacinação em São Paulo, quando subiu 0,74%. Mas se sabia que o alívio seria pontual, na medida em que a celebração da primeira picada logo daria lugar à evidência de que o estoque de vacinas é curto - o País depende da provisão de insumos importados que, uma vez interrompida, dificulta o avanço da imunização.

Dessa forma, a confirmação de que o Estado de São Paulo regressará à "fase vermelha", com fechamento de comércio e serviços não essenciais nos fins de semana, e restrição de horário durante a semana, contribuiu nesta sexta-feira para reforçar a cautela dos investidores, resultando em alta para dólar e juros, e baixa na Bolsa, que na mínima desta sexta, a 116.108,90 pontos, retrocedeu, como no fechamento, a nível anterior ao Natal.

Nesta sexta-feira, na ponta da correção do Ibovespa, destaque para as quedas de IRB (-8,95%), CVC (-4,98%) e Eletrobras ON (-3,39%). No lado oposto, BRF subiu 3,19%, à frente de Magazine Luiza (+1,96%) e Sabesp (+1,79%). Entre as blue chips, Petrobras PN fechou em baixa de 1,67%, e a ON, de 1,28%, enquanto Vale ON cedeu 0,20%. Parte da siderurgia obteve ganhos na sessão (Gerdau Metalúrgica +1,40%, Gerdau PN +1,36% e CSN +1,68%). Entre os bancos, as perdas do dia ficaram entre 0,64% (Santander) e Itaú PN (2,14%).


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