Dólar sobe com dúvidas sobre destino da PEC dos Precatórios

Dólar sobe com dúvidas sobre destino da PEC dos Precatórios

Moeda encerrou nesta quinta-feira em alta de 0,29%, a R$ 5,6061

AE

Moeda norte-americana fechou com alta de R$ 0,069 (+1,3%) nesta terça-feira

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Após uma manhã de muita volatilidade, o dólar à vista se firmou em alta ao longo da tarde desta quinta-feira, em meio a sinais de que a PEC dos Precatórios - aprovada com placar apertado na Câmara dos Deputados - pode emperrar no Senado, casa mais refratária ao presidente Jair Bolsonaro. Sem a mudança no cálculo do teto de gastos e a limitação do pagamento de despesas judiciais (os principais pontos da PEC), o governo não tem como fechar as contas de 2022 e pôr em pé o Auxílio Brasil.

Não bastassem as incertezas fiscais no front doméstico, alimentadas pelo jogo político entre Congresso e Palácio do Planalto, o real também sofreu com ventos externos desfavoráveis. O DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em forte alta, na casa dos 94,300 pontos, com dados positivos da economia dos EUA e tombo da libra após o Banco da Inglaterra (BoE) manter a taxa de juros em 0,1% ao ano. A moeda americana também deu de lavada na maioria das divisas emergentes, tendo o real apresentado, uma vez mais, as piores perdas.

Na abertura dos negócios, o dólar até esboçou ir contra a maré externa, ainda reverberando a aprovação da PEC, e desceu até a mínima de R$ 5,5637. Mas o movimento teve fôlego curto e, à medida que surgiam informações de posicionamento de partidos contrários à proposta, o dólar se fortaleceu. A máxima, a R$ 5,6276, veio já na última hora de negócios, em momento de deterioração mais aguda do Ibovespa.

No fim da sessão, a pressão compradora diminuiu e o dólar à vista encerrou em alta de 0,29%, a R$ 5,6061. A despeito do salto desta quinta, a moeda americana ainda acumula queda de 0,71% nesta semana. O volume transacionado no contrato de dólar futuro para dezembro - principal termômetro pelo apetite por negócios, foi reduzido - o que pode ter exacerbado as pressões sobre a taxa de câmbio.

Na avaliação da economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, a aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara teve uma leitura mista por parte do mercado. "Por um lado, o cumprimento de uma etapa trouxe certo alívio. Por outro, o placar apertado sinaliza que as próximas votações podem ser complicadas", afirma a economista. "Por isso, a cautela com o quadro fiscal continua, o que pressiona o dólar".

A PEC foi aprovada em primeiro turno na madrugada desta quinta-feira com 312 votos, apenas quatro a mais do que o necessário - e somente após mudanças de última hora no texto. Se a proposta passar ilesa em segundo turno na Câmara e também pelo Senado, vai liberar espaço de US$ 91,6 bilhões no Orçamento de 2022, dando ao governo condições de bancar o Auxílio Brasil e outros gastos em ano de eleição presidencial.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse ao Broadcast que os destaques da PEC - previstos inicialmente para serem apreciados ainda nesta quinta - serão votados na próxima terça-feira, 9. Ele afirmou que a Câmara convocará sessão na próxima segunda-feira, às 18h, "com efeito administrativo". Na prática, isso significa que parlamentar ausente pode ter o ponto cortado. "Ideia é votar demais projetos na segunda-feira e a PEC dos Precatórios na terça-feira", afirmou.

Parte da piora do dólar nesta tarde veio em meio à informação, publicada no Broadcast Político, de que a bancada do PSDB no Senado vai se reunir na terça-feira para firmar posição contrária a PEC. Mais cedo, Ciro Gomes - contrariado com o apoio de parte relevante dos deputados de seu partido, o PDT, à proposta - anunciou que sua pré-candidatura à Presidência está suspensa.

Especialista da Renova Invest, Nicolas Farto observa que a pressão de Ciro Gomes, aparentemente, faz efeitos sobre a bancada do PDT e parte dos votos favoráveis a PEC no primeiro turno pode ser revertida, o que coloca em xeque a aprovação da proposta em segundo turno na Câmara. "Se a PEC não for aprovada, será que a coisa não vai ser resolvida numa canetada, com extensão de pagamento de auxílio? Isso pode comprometer ainda mais a questão fiscal", afirma Farto, ressaltando que a incerteza limita o fluxo de recursos para o Brasil, apesar da perspectiva de altas mais fortes da Selic.

Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que o "imbróglio fiscal" acaba ofuscando o potencial efeito positivo sobre o real de um aumento do diferencial de juros interno e externo, na esteira da sinalização do Federal Reserve de que os juros não serão elevados tão cedo e da possibilidade de taxa Selic em dois dígitos chancelada pelo tom duro da ata do Copom. Na quarta, o Fed anunciou o início do 'tapering', com redução de US$ 15 bilhões na compra de títulos. O presidente da instituição, Jerome Powell, afirmou que há espaço para ser paciente com a taxa de juros. "Por mais que essas duas medidas pudessem ser positivas para o comportamento da nossa moeda, como a gente viu ontem, o imbróglio fiscal acaba predominando na formação da taxa de câmbio", afirma.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam em alta nos vértices de médio e longo prazos, enquanto os de curto prazo zeraram a queda, com a curva ganhando inclinação. As preocupações com o futuro da PEC dos Precatórios, aprovada em primeiro turno na Câmara, se acentuaram ao longo do dia com os sinais de dificuldades que o governo terá nas próximas fases de tramitação. O dólar em alta global também ajudou a pressionar a curva. O desempenho poderia ter sido ainda pior, caso o Tesouro não tivesse optado por mais uma vez reduzir a oferta de prefixados no leilão.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 12,095%, de 12,106% na quarta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,036% para 12,17%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,19%, de 12,043%.

Pela manhã, as taxas alternaram altas e baixas, com o mercado digerindo a aprovação da PEC. Nas primeiras horas, prevaleceu a leitura de que o texto, enfim, avançou e a curva chegou a devolver prêmios. A proposta abre espaço de R$ 91,6 bilhões no Orçamento de 2022 para pagamento do Auxílio Brasil e outros gastos, um ano antes da eleição presidencial. De imediato, foram relevados os riscos de novas alterações no texto e mesmo a mensagem emitida pelo placar apertado - 312 votos, margem de apenas quatro votos ante os 308 exigidos. Mas durante o dia foi ficando claro o quanto os "esforços" terão de ser redobrados. Apenas o texto base foi aprovado. Ainda têm de passar os destaques, que devem ser votados na terça-feira, 9, para então a matéria ser votada em segundo turno na Câmara e depois seguir para o Senado.

O PSB e o PDT ameaçam convencer os deputados da bancada que votaram a favor a mudarem de voto. No Senado, a bancada do PSDB firmou posição contra a PEC. Há dúvidas sobre o quanto de tudo isso é só um jogo de cena, mas é fato que abre espaço a negociações que piorem ainda mais o cenário de despesas. "O mercado passou a sentir a dificuldade que o texto terá para avançar, na dúvida sobre o quanto os partidos querem vender caro o seu apoio ou se é mesmo convicção", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.

Para o economista-chefe da Guide Investimentos, João Maurício Rosal, o futuro da PEC é incerto, considerando a votação apertada e faltando ainda destaques, segundo turno e Senado. "A aprovação não garantiu muita visibilidade sobre o que terá de ser negociado ainda mais a frente. E o debate quanto aos invisíveis ainda não parece finalizado. Ou seja, o cenário ainda está nublado", avaliou.

Os "drivers" globais nesta quinta também não ajudaram a curva, com o dólar em alta generalizada ante emergentes, mesmo com o petróleo em baixa, e o real adicionalmente penalizado pelos fatores internos. A moeda americana no segmento a vista fechou em alta de 0,29%, a R$ 5,6061.

O Tesouro deu sua contribuição com oferta módica de prefixados, vendida integralmente: 450 mil LTN e 100 mil NTN-F. Talvez como forma de limitar efeitos de alguma turbulência na abertura relacionada à PEC, a instituição voltou a antecipar a divulgação dos lotes para antes das 9 horas.

Bolsa

Com a aversão ao risco fiscal que não poupa as empresas e setores de maior peso no índice, o Ibovespa acentuou perdas ao longo da tarde, abaixo dos 103 mil pontos. No pior momento, foi aos 102.835,17 pontos (-2,63%), menor nível intradia desde 13 de novembro (102.508,77) de 2020.

Assim, na falta de clareza sobre como permanecerá o quadro fiscal em ano eleitoral, o dia foi de pressão sobre os ativos brasileiros, em particular o Ibovespa, que fechou em baixa de 2,09%, a 103.412,09 pontos, menor nível de fechamento desde 12 de novembro (102.507,01), há quase um ano. Nesta quinta-feira, chegou na máxima aos 105.626,72 pontos, com abertura a 105.616,88. O giro foi de R$ 35,7 bilhões na sessão e, na semana, o Ibovespa passa a acumular agora leve perda de 0,09% neste começo de novembro, cedendo 13,11% no ano.

Após duas sessões de recuperação parcial nesta semana, o Ibovespa retoma a trajetória negativa vista no intervalo de quatro sessões entre 26 e 29 de outubro, quando colheu duas perdas diárias acima de 2%.

"A tendência é o mercado continuar piorando. Mesmo com a votação, o texto é ruim: em dez anos, o rombo de precatórios pode chegar a R$ 1 trilhão. Vai jogando a dívida pra frente e ficando impagável", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. "Já se fala muito de o Brasil ter nota rebaixada, fora a Selic alta, e com fuga de capital. Tem recessão à frente", acrescenta, apontando que alguns partidos estão criando formas para se evitar a votação da PEC em segundo turno, na terça-feira.

"O melhor cenário agora para o Brasil é o menos pior, a aprovação da PEC, embora não tenha o desenho ideal, flexibilize regras fiscais para viabilizar o Auxílio Brasil. Mas o mercado já estava precificado para aprovação dessa PEC. Sem ela, o governo volta à estaca zero, sem o teto e precisando colocar em prática o programa social, o que abriria caminho para prorrogação do auxílio emergencial por medida provisória. Isso elevaria a incerteza do cenário", contrapõe Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. A PEC "talvez seja o mal menor", conclui a economista, ressalvando que a solução encontrada é "uma bomba para o futuro".

"O drible no teto (de gastos) acarreta perda de credibilidade do País, em arranjo visando 2022. Nos próximos anos, até 2026, pode haver um acúmulo de dívidas perto de R$ 170 bilhões. Além da margem para o Auxílio Brasil, há os arranjos para angariar apoio ao governo na disputa (eleitoral)" do próximo ano, observa Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos.

Com o foco na política e nas consequências para a situação fiscal, fatores que poderiam ter contribuído positivamente na sessão, como o leilão do 5G, ficaram em segundo plano, em dia também de correção negativa para os preços do petróleo, após a Opep+ ter decidido manter a diretriz de aumento gradual da oferta da commodity. Além de Petrobras (ON -2,95%, PN -3,17%), o dia foi ruim para os grandes bancos (Itaú PN -5,28%, Bradesco PN -6,62%), na sequência do balanço do Itaú, divulgado na noite anterior.

"Os bancos mostraram reação negativa ao balanço do Itaú. O CEO (da instituição) vê piora da inadimplência em 2022 e falou em alta do custo do crédito, em entrevista após anunciar lucro recorrente de R$ 6,78 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 35% na comparação anual. O retorno médio sobre o patrimônio subiu para 19,7% no período, de 15,7% um ano antes", observa em nota a Terra Investimentos.

Na ponta positiva do Ibovespa, destaque para Getnet (+5,28%), Minerva (+3,68%), Marfrig (+3,60%), JBS (+3,05%) e Raia Drogasil (+1,80%). Na face oposta do índice, Rede D'Or (-8,17%), que também divulgou números trimestrais na quarta à noite, Ultrapar (-8,09%), Cogna (-7,96%) e Banco Pan (-7,74%).


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