Dólar sobe e vai a R$ 5,66 mesmo com intervenção do BC

Dólar sobe e vai a R$ 5,66 mesmo com intervenção do BC

Ibovespa terminou o dia com ganho moderado a 1,09%, aos 111.539,80 pontos

AE

Dólar fechou em alta de 1,17%, maior nível desde 3 de novembro

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Em novo dia de tensão no câmbio, o dólar bateu em R$ 5,73 nesta terça-feira, obrigando o Banco Central a injetar US$ 2 bilhões no mercado. Desconfiança com a PEC Emergencial, com votação prevista para amanhã e descontentamento com aumento de impostos para bancos, além da defesa de líderes parlamentares que gastos com Bolsa Família sejam retirados do teto contribuíram para o real ter o pior desempenho do dia no mercado internacional. Em outros emergentes, como Rússia, México e África do Sul, a moeda americana caiu hoje. No meio da tarde, o dólar reduziu um pouco o ritmo de valorização e voltou a operar abaixo de R$ 5,70, em um movimento de realização de ganhos e seguindo a melhora do humor nas bolsas internacionais e na B3, de acordo com operadores, mas a alta seguiu acima de 1%.

No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 1,17%, a R$ 5,6660, maior nível desde 3 de novembro, quando foi a R$ 5,76. No mercado futuro, o dólar para abril subiu 0,70%, cotado em R$ 5,6870.

Operadores relataram forte fluxo de saída de capital externo hoje, obrigando o BC a dar liquidez para estas retiradas. O Banco Central fez dois leilões de dólar à vista hoje, de US$ 1 bilhão cada. Com a alta de hoje, o dólar já acumula valorização de quase 9,2% em 2021 ante o real, a pior moeda dos emergentes.

"Percebo que, aos poucos, está havendo uma clara mudança de política econômica neste governo. Pela primeira vez, começo a ficar desconfiado/desconfortável", comenta o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, em sua análise diária. Os sinais, avalia, são de que o liberalismo econômico "ficou de lado" e o populismo começa a ganhar o espaço. A elevação do CSLL dos bancos, avalia Kawa, é "fiscalmente correta, mas politicamente populista", o que contribui para aumentar a insatisfação dos mercados.

O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, alerta que é crescente o risco de mais medidas de intervenção e mais flexibilização fiscal, à medida em que a pandemia não dá sinais de perder fôlego no Brasil e os governos estaduais e municipais estão aumentando medidas de restrição, o que certamente pesará na atividade. Neste ambiente, o real vai seguir mais desvalorizado que seus pares.

O ceticismo com a PEC Emergencial só contribui para aumentar a pressão no câmbio. A consultoria internacional TS Lombard avalia que o texto, já desidratado em relação à versão original, não deve trazer alívio fiscal de curto prazo, o que só sinaliza a necessidade de mais reformas. O relator da PEC, senador Marcio Bittar (MDB-AC), manteve os gatilhos para contenção de despesas, mas retirou de seu parecer a desvinculação de gastos com saúde e educação, desidratando o texto ainda em mais alguns pontos, mas não fez mudanças no Bolsa Família. Líderes do Senado querem tirar as despesas do programa do teto este ano, que somam R$ 34,9 bilhões, mas o ministério da Economia é contra.

Ibovespa

O Ibovespa parecia a caminho de manter a linha dos 110 mil pontos pela terceira sessão consecutiva, tendo chegado hoje aos 107.319,15 pontos na mínima do dia, em meio à expectativa para a votação da PEC Emergencial, amanhã, e a reação do mercado à decisão do governo de elevar, ontem à noite, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos. Embora enfraquecido ao longo da sessão, rumor de que o presidente Jair Bolsonaro faria recuo tático, anunciando aumento menor do que o inicialmente indicado (de 20% para 25%) na alíquota de CSLL dos bancos, contribuiu para manter o segmento entre os maiores vencedores do dia, com ganhos de 4,04% para Itaú PN e de 3,84% para BB ON, as duas maiores altas do Ibovespa. Em linha com índices de metais no exterior, destaque ainda para mineração e siderurgia, com Vale ON em alta de 3,07% e CSN de 2,56%.

Em direção ao fim da sessão, o Ibovespa mostrou fôlego para recuperar não apenas a linha de 111 mil pontos, mas também a de 112 mil, tendo chegado na máxima aos 112.428,08 pontos, em alta de 1,90%, em sessão bastante volátil, com oscilação de mais de 5 mil pontos entre o piso e o teto do dia. No fechamento, o ganho foi moderado a 1,09%, a 111.539,80 pontos, ainda abaixo do nível de encerramento da quinta-feira, quando cedeu 2,95%. Contudo, emendou o segundo dia de recuperação, mesmo que parcial, após outro tombo, de 1,98%, na sexta-feira. Reforçado, o giro financeiro foi de R$ 50,3 bilhões na sessão e, na semana, o Ibovespa acumula ganho de 1,37%, com perdas no ano a 6,28%.

Hoje, a virada para o positivo se consolidou pouco antes das 16h, quando o Ibovespa passou a renovar máximas. Entre 15h57 e 15h58, teve variação de 725 pontos, saindo de 111.240,18 para chegar a 111.965,66 pontos, então no pico da sessão, mas nos minutos seguintes se acomodou abaixo dos 111 mil pontos. A mudança de direção ganhou densidade pouco depois, com declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), à Febraban, de que não é bom elevar alíquota de imposto fora da reforma tributária. Parte do mercado chegou a olhar para o aumento como um ensaio para outras elevações de tributos pelo governo, a partir de segmento que, pelo histórico de rentabilidade, estaria entre os menos queridos da população.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirmou em vídeo gravado pela instituição, ao qual o Broadcast teve acesso, que deposita confiança nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes. Sidney diz ter recebido ligação de Guedes hoje, às 7h, para esclarecer o anúncio feito ontem à noite: a elevação de 20% para 25% na alíquota da CSLL para bancos. A medida tem validade por seis meses e vai exigir um "sacrifício" do setor, segundo o executivo.

"Na ligação, ele me esclareceu do que se tratava, dizendo que estamos diante de um momento em que, mais uma vez, o setor bancário é chamado a contribuir, e enfatizou que se trata de aumento temporário e circunstancial de tributo", disse Sidney.

A agência de classificação de risco Moody's considera a elevação da carga tributária do setor financeiro um "evento negativo" para o crédito e a rentabilidade dos bancos brasileiros em 2021. "Impostos mais elevados aumentarão a pressão sobre a rentabilidade dos bancos brasileiros em 2021, que já vem sendo desafiada por taxas de juros baixas e pelas incertezas em relação ao impacto da pandemia sobre os negócios", afirmou a vice-presidente sênior da Moody's, Ceres Lisboa, em nota.

"Ao contrário de tudo o que foi especulado, a medida vai valer a partir de julho e irá durar seis meses. Ou seja, impacto limitado no resultado dos bancos que, segundo boa parte dos analistas fundamentalistas do setor financeiro, já foi refletido em 'valuation' na queda de ontem, sem falar do efeito compensado dos maiores créditos tributários", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Juros

Mesmo com a trégua na escalada da T-Note de dez anos, nesta terça-feira os juros voltaram a subir fortemente, influenciados pela piora da aversão ao risco político e fiscal. A reação negativa ao aumento da CSLL dos bancos pela manhã ganhou fôlego ao longo do dia com aumento das preocupações com o futuro da PEC Emergencial, que deve ser votada amanhã, e com a disparada do dólar para até R$ 5,73. As taxas chegaram a avançar até 40 pontos-base nas máximas à tarde, após a informação de que líderes no Senado estão propondo a retirada do Bolsa Família da regra do teto de gastos em 2021, mesmo diante da sinalização de que não haverá fatiamento do texto. Reduziram o ritmo no fechamento após a apresentação do parecer da PEC, do senador Marcio Bittar (MDB-AC), que não traz mudanças relativas ao Bolsa Família e mantém os gatilhos para contenção de gastos.

As taxas longas foram as mais castigadas e a curva voltou a empinar, com os níveis de inclinação, já muito elevados. As curtas também subiram, com reforço nas apostas de alta de 0,75 ponto porcentual da Selic em março. Nesse contexto, o mercado espera agora um tom duro no discurso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que participa de evento virtual nesta noite.

A taxa do contrato e Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 3,875% (regular) e 3,865% (estendida), de 3,814% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,728% para 5,79% (regular) e 5,765% (estendida). A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou em 7,49% (regular) e 7,45% (estendida), de 7,376% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou a regular com taxa de 8,12% e a estendida em 8,08%, de 7,974% ontem no ajuste.

Enquanto o mercado externo hoje esteve relativamente comportado, no Brasil, o clima foi de tensão, especialmente na primeira parte dos negócios até o meio da tarde. A decisão sobre a elevação da CSLL foi mal recebida não só pelo impacto negativo que dever ter sobre o crédito, mas pela avaliação de que a compensação da desoneração dos combustíveis tem de ser feita via corte de despesas, que o governo parece querer evitar a todo custo.

À tarde, houve novo estresse com a possibilidade de o Bolsa Família ser retirado da regra do teto. Embora o parecer da PEC não traga tal alteração, os líderes do Senado querem tirar as despesas do programa, calculadas em R$ 34,9 bilhões, do teto de gastos neste ano. A equipe econômica se posicionou contra a tentativa.

O diretor do ASA Investments, Carlos Kawall, considera tal proposta "absurda", contribuindo para que a curva de juros operasse hoje com dinâmica própria, descolada dos Treasuries. "É a dobradinha populismo com negacionismo fiscal, negação da situação das contas públicas", afirmou, num contexto de agravamento da pandemia, com vacinação lenta.

Segundo ele, a falta de responsabilidade nas contas públicas pode levar o País na direção da recessão, da estagflação, com risco de o Banco Central ter de elevar a Selic "pelo motivo errado", ou seja, pelo aumento dos prêmios de risco. "Aos 10 minutos do primeiro tempo, já estamos jogando o ano na lata do lixo", disse.


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