Dólar sobe no dia a R$ 5,49, mas tem quarta semana seguida de queda

Dólar sobe no dia a R$ 5,49, mas tem quarta semana seguida de queda

Moeda norte-americana encerrou com avanço de 0,78%

AE

No encerramento da semana mais curta, o dólar terminou cotado em R$ 5,4973, em alta de 0,78%

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O dólar fechou a sexta-feira em alta, em um movimento de realização de ganhos, devolvendo parte da queda recente, mas acumulou baixa de 1,6% nos últimos cinco dias. Foi a quarta semana consecutiva de desvalorização ante o real, impulsionada pela maior propensão do investidor internacional a tomar risco, por conta das quedas das taxas de retorno dos juros longos americanos, o que tem trazido fluxo de capital externo para o país.

A resolução do imbróglio do Orçamento, que já durava quase um mês, também teve peso decisivo na melhora do real e a expectativa nas mesas é que agora a agenda de reformas volte a andar, embora a preocupação fiscal siga no radar. No encerramento da semana mais curta, o dólar terminou cotado em R$ 5,4973, em alta de 0,78%. No mercado futuro, era negociado com ganho de 0,68%, a R$ 5,4880 às 17h30.

Apesar de ter deixado gastos extra teto no orçamento, em nível acima do esperado, o fato de o governo ter encontrado uma solução para a novela envolvendo o texto sem decretar o estado de calamidade acabou dando algum alívio para os mercados, avalia a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, em sua carta semanal.

No caso do câmbio, a economista destaca ainda o crescimento das exportações este mês, ajudado pelas vendas da safra de soja, com superávit comercial de R$ 3 bilhões até a terceira semana do mês. Pela frente, a perspectiva de fluxo via comércio exterior é boa, por conta da exportação da safra de grãos e minério que acontecem em momento de alta dos preços das commodities.

Para o economista de América Latina da Capital Economics, Nikhil Sanghani, a sanção do orçamento por Bolsonaro traz alívio porque "tira o governo de uma buraco" e resolve a questão "por ora", deixando um ambiente que pode ser positivo para reformas. Por isso, o alívio no câmbio. Mas o orçamento mostra um Congresso propenso a querer mais gastos e o governo ainda teve que cortar despesas que podem afetar o funcionamento da máquina pública pela frente.

O resultado, observa Sanghani, é que o risco fiscal segue alto no Brasil, e deve continuar tendo efeito nos prêmios de risco, pressionando o câmbio, que deve fechar o ano em R$ 5,75, segundo previsões da consultoria. A Fitch Ratings também elogiou a preservação do teto de gastos pelo governo, mas alertou para a situação fiscal frágil do país, que precisa ser ajustada.

Juros

Os juros futuros deram sequência ao movimento da véspera e fecharam em baixa nesta sexta-feira, sustentando o sinal de queda mesmo com a pressão do câmbio, embora as máximas da moeda à tarde tenham desacelerado o ritmo de recuo das taxas. Essencialmente, o alívio com o Orçamento continuou reverberando, num dia mais fraco de notícias e indicadores, tanto aqui quanto lá fora, a não ser os detalhes do texto, sancionado na quinta-feira com veto parcial. A curva fechou a semana com redução nos níveis de inclinação, promovida pela melhora de percepção do risco fiscal pós-Orçamento e acomodação dos Treasuries nos últimos dias.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,615%, de 4,641% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 7,776% para 7,69%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,34%, de 8,424% no ajuste anterior.

Para o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno, a questão fiscal e a abundância da liquidez pelo mundo são os principais responsáveis pela queda das taxas longas desde a quinta-feira. "Com o Orçamento sancionado, passou a preocupação com a descontinuidade do governo e agora dificilmente vão emplacar o impeachment, mas tendo o Centrão como parceiro o viés não é de austeridade", afirmou.

O desenho final do Orçamento acabou saindo como esperava a equipe econômica, com ajuste total de R$ 29 bilhões, mas não sem exigir extensas negociações com os parlamentares e não sem críticas de especialistas, uma vez que as despesas com a pandemia (classificadas oficialmente como extraordinárias) estão fora da meta fiscal e do teto de gastos e podem ser imprevisíveis.

"Seria melhor ter um valor estimado, haver uma revisão para uma meta maior. Seria mais transparente se tivesse sido feito dessa maneira", afirmou o diretor da ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.

Para Nepomuceno, o mercado está olhando agora mais o curto prazo e vendo que o Banco Central "está conseguindo conter as expectativas no gogó" e também sente que há fluxo para o Brasil, considerando que as commodities estão "bombando" e vide o fato de o Tesouro ter conseguido vender na quinta um lote de 300 mil NTN-F, para, segundo ele, atender à demanda de estrangeiros. "Hoje os juros não sentem tanto a virada do câmbio porque a ponta longa tinha subido muito em função do imbróglio do Orçamento e isso agora saiu da frente", explicou.

Bolsa

O Ibovespa interrompeu nesta sexta-feira série de três ganhos semanais, iniciada ainda no fim de março, quando o índice da B3 saiu dos 115 mil pontos para gradualmente ascender aos 121,1 mil do fechamento do último dia 16, sexta-feira passada, quando atingiu seu maior nível desde o encerramento de 18 de janeiro. Nas quatro sessões desta semana que chega ao fim, o Ibovespa registrou perdas em três. Nesta sexta-feira, fechou em alta de 0,97%, aos 120.530,06 pontos, entre mínima de 119.372,04, da abertura, e máxima de 120.814,83 pontos.

Na semana, acumulou perda de 0,48%, após ganhos de 2,93%, 2,10% e 0,41% nas anteriores. No mês, faltando apenas uma semana para o fim de abril, registra alta de 3,34%, com avanço de 1,27% em 2021. Nesta sexta-feira, o giro financeiro ficou em R$ 31,3 bilhões.

O dia positivo em Nova York, com ganhos de até 1,44% (Nasdaq), contribuiu nesta sexta para o Ibovespa sair de três perdas seguidas para retomar a linha de 120 mil pontos que tem prevalecido desde o último 14, com o índice em intervalo sem grandes correções, tampouco com fôlego para seguir muito adiante no momento, superada a longa espera pela definição do Orçamento de 2021 - recebida pelo mercado como um copo meio cheio.

"Os mercados americanos se recuperaram hoje do dia anterior, quando refletiram as notícias sobre planos de aumento de impostos por Joe Biden (sobre ganhos de capital para a alta renda), muito acima do esperado tanto por republicanos como por democratas, o que pode ser um obstáculo para a aprovação do arrojado programa de investimentos em infraestrutura", aponta Paloma Brum, economista da Toro Investimentos. "No Brasil, a sanção do Orçamento, com corte de R$ 19,8 bilhões, e o bloqueio de recursos para o cumprimento do teto de gastos são positivos para a esfera fiscal."

"Nos EUA, os dados econômicos acima da expectativa mostram ritmo acelerado de recuperação da economia. O PMI Composto, que engloba indústria e serviços, subiu de 59,7 em março para 62,2 em abril, atingindo o maior nível da série histórica iniciada em outubro de 2009", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Por aqui, além da recuperação das empresas do setor financeiro (Bradesco ON +1,92%, Santander +2,11%), as ações da Vale (ON +1,66%) impulsionaram o índice, em dia de alta para o minério de ferro e também repercutindo os bons números de volume de vendas da Usiminas, um belo sinal do que pode ser o resultado das empresas ligadas às commodities metálicas", acrescenta o analista.

Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, destaque para Gol (+4,12%), à frente de Via Varejo (+3,88%) e de Braskem (+3,56%). No lado oposto, Cielo cedeu 3,10%, com Cosan em baixa de 2,49% e Marfrig, de 2,06%, no fechamento.


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