Dólar termina o dia no maior nível desde 20 maio, em R$ 5,63

Dólar termina o dia no maior nível desde 20 maio, em R$ 5,63

Bolsa fechou em queda de 2,41%, no menor nível desde 26 de junho, aos 94.666,37 pontos

AE

O dólar nesta segunda-feira testou as máximas em quatro meses

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O dólar nesta segunda-feira testou as máximas em quatro meses, em dia que o noticiário local não ajudou e a moeda norte-americana ainda subiu ante divisas emergentes no exterior. A questão fiscal do Brasil voltou aos holofotes quando o governo anunciou na tarde de hoje que pretende financiar o Renda Cidadã, o novo programa social do Planalto, com precatórios. Além disso, a sinalização de que ainda não há acordo para aprovar a reforma tributária também causou desconforto.

Com isso, o dólar chegou a bater na máxima do dia em R$ 5,67, o maior valor diário desde 21 de maio, quando foi a R$ 5,70. Nesse ambiente de nervosismo, o Banco Central precisou intervir e vendeu US$ 877 milhões no mercado à vista, no primeiro leilão neste segmento desde 21 de agosto. Assim, o dólar arrefeceu o ritmo de valorização, ajudado também pelo fato de a oferta do BC ter coincidido com perda de fôlego da moeda americana no mercado internacional. No final do dia, o dólar à vista encerrou com valorização de 1,44%, cotado em R$ 5,6353, o maior nível desde o fechamento de 20 de maio. No mercado futuro, o dólar para outubro era negociado em R$ 5,6370 às 17h, em alta de 1,32%.

"O dólar teve um comportamento ruim hoje entre os emergentes mais frágeis, mesmo com o dia de busca por ativos de risco em Nova York", destaca um diretor de tesouraria. Como reflexo, a moeda americana teve as maiores altas do dia ante o real e a lira turca (+1,67%).

No mercado doméstico, a situação piorou após a divulgação do plano de uso de precatórios pra financiar o Renda Cidadã, ressalta este executivo. "A noticia foi muito mal recebida pelo mercado em geral." Segundo o governo, o plano é financiar o programa com o dinheiro reservado no Orçamento para o pagamento de precatórios e com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o principal mecanismo de financiamento da educação.

O gerente de Tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, destaca que o dia no mercado de câmbio foi "nervoso", com o anúncio do financiamento do programa Renda Cidadã provocando "indisposição", fazendo o investidor buscar proteção no dólar. "Vamos ter que aguardar cenas do próximo capítulo. O problema é como fica o Orçamento", disse ele. Outro risco no cenário, principalmente para o longo prazo, é ficar sem a reforma tributária, afirmou ele.

Para o executivo do Travelex, o BC mostrou que está atento ao intervir hoje no mercado, embora se esperasse que a atuação também ocorresse na semana passada. Com a venda no mercado à vista, o BC conseguiu arrefecer a alta, mas ele não muda a tendência para a moeda, ressalta Pellegrini, destacando que o dólar oscilar em um regime de câmbio flutuante não é problema, a preocupação é quando estes movimentos são muito rápidos. Após testar os R$ 5,65 hoje, Pellegrini avalia que a moeda ainda não mostra tendência de reversão mais acentuada na expectativa pelos próximos acontecimentos. Poderia voltar para a casa dos R$ 5,40 com alguma notícia positiva.

Ibovespa

Em dia de apetite por risco no exterior, o Ibovespa perdeu a carona, pressionado por retomada dos receios sobre a situação fiscal, em momento no qual o governo recoloca na mesa novo programa de renda mínima a partir de 2021 - o Renda Cidadã - sem que consiga fazer avançar a reforma tributária ou iniciativas de compensação para gastos ampliados. Assim, no pior momento do dia, o principal índice da B3 foi ao menor nível desde 29 de junho e, ao final da sessão, mostrava perda de 2,41%, aos 94.666,37 pontos - menor patamar desde o encerramento de 26 de junho, então aos 93.834,49 pontos. Em Nova Iorque, os ganhos do dia ficaram entre 1,51% (Dow Jones) e 1,87% (Nasdaq).

"Caiu muito mal a falta de acordo na reunião de líderes sobre a reforma tributária. Com reformas necessárias ainda distantes, o que prevalece é o encontro com a verdade, após um avanço prolongado movido basicamente por fluxo doméstico. Ainda sem reformas, fala-se agora no Renda Cidadã, se preciso for até tirando de precatórios. Assim, Bolsonaro volta a se mostrar mais preocupado com a reeleição do que com o ajuste das contas e as reformas", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. "Apesar de toda retórica do Guedes, a agenda econômica está emperrada, houve poucos avanços neste governo."

"A cada dia que passa a percepção é de que não vai haver reformas este ano, com as eleições municipais se aproximando. E depois, no início do próximo ano, ainda tem a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. O estresse de hoje ficou bem evidente na curva de juros, ainda mais que na Bolsa e no câmbio. Quando se posterga o pagamento de dívidas (precatórios) ou há distorção de finalidade (Fundeb) em prol de gastos perenes (Renda Cidadã), o que se tem é algo insustentável no longo prazo", aponta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

"Hoje, o Ibovespa começou a mostrar definição mais clara, confirmando, a princípio, as perdas dos suportes de 98 e 97 mil pontos. O Ibovespa saiu de um momento de consolidação e pode entrar em tendência de queda, chegando aos 90 mil pontos de forma mais rápida", observa Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora. Na mínima, o Ibovespa foi hoje aos 94.370,60 pontos, no menor nível intradia desde 29 de junho (93.825,27), saindo de máxima nesta segunda-feira aos 98.313,73, com abertura a 97.005,38 - entre o piso e o teto do dia, a variação foi de quase 4 mil pontos.

O giro financeiro totalizou R$ 27,5 bilhões e, no mês, as perdas de setembro, faltando dois dias para o encerramento do mês, chegam a 4,73%, voltando a superar as de agosto (-3,44%), quando foi interrompida a recuperação iniciada em abril - no ano, as perdas avançam agora a 18,14%.

Mais cedo, as ações de bancos, ainda muito atrasadas no ano, conseguiam dar algum suporte ao Ibovespa, em dia positivo para o segmento no exterior. Ao final, apenas Unit do Santander (+2,10%) e Banco do Brasil ON (+0,69%) conseguiram manter-se em alta na sessão. Na ponta negativa do Ibovespa, Yduqs cedeu 5,35%, seguida por Intermédica (-5,20%) e Minerva (-5,02%) Entre as commodities, destaque para perdas de 2,48% em Petrobras PN e de 2,42%, para a ON. Vale ON cedeu 0,79%. Na face positiva do Ibovespa, Embraer liderou a alta do dia (+3,92%), seguida por Santander (+2,10%) e IRB (+0,84%).

"Minerva esteve entre as maiores quedas do índice, com a China anunciando meta de ser 95% autossuficiente em produção de suínos, enquanto a maior alta foi Embraer, com a Azul recebendo aprovação para operar um Embraer E195 modificado para transporte de cargas", aponta Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.

Juros

A decepção com os anúncios do governo em torno do financiamento do programa Renda Cidadã e sobre a reforma tributária fez a curva de juros empinar nesta segunda-feira, com algumas taxas de médio e longo prazo chegando a subir até 75 pontos-base nas máximas do dia. No fechamento, a pressão diminuiu, especialmente depois da intervenção do Banco Central no câmbio, que fez o dólar desacelerar; da melhora adicional dos mercados no exterior e também por fatores técnicos. A proposta de usar parte dos recursos do Fundeb, e, principalmente, do orçamento destinado ao pagamento dos precatórios, chocou o mercado, para quem o lançamento do programa, que é muito caro ao presidente Jair Bolsonaro, nessas bases será difícil sem ferir as regras fiscais.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a 3,06%, de 2,853% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2023 terminou em 4,54%, de 4,234% no último ajuste. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa em 6,61%, de 6,224%, e a do DI para janeiro de 2027 saltou de 7,213% para 7,62%.

"O dia estava muito bom lá fora, apesar dos receios com a segunda onda do coronavírus na Europa. Daí os fatores locais acabaram dando esse grande start da azedada de humor", afirmou o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier. Segundo ele, à tarde, com o mercado já muito machucado, a onda de "stops" arrefeceu. "Muita gente zerou posições e acabou abrindo espaço para quem queria vender", explicou, sobre a desaceleração das taxas.

"Havia grande expectativa sobre quais seriam as fontes de financiamento e o que foi apresentado frustrou muito", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, lembrando que também não houve nenhum sinal positivo de avanço para a reforma tributária, como se esperava.

Para o especialista em contas públicas, Guilherme Tinoco, as duas medidas são péssimas. O uso do Fundeb, segundo ele, é um claro drible no teto, uma vez que o fundo dedicado à educação e é uma despesa específica que, pela legislação em vigor, fica fora da regra do teto. No caso dos precatórios, Tinoco diz que, pelo que foi anunciado, parece mera rolagem de pagamentos para o ano seguinte.

Mais cedo, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em audiência no Congresso, já alertava sobre a necessidade de reformas para reduzir a inclinação da curva. "A curva de juros futuros está inclinada hoje por incertezas em relação à nossa consolidação fiscal. Os juros longos se reduzirão naturalmente com sinais sobre reformas", disse. Segundo ele, o colchão de liquidez para o gerenciamento da dívida permanece "acima dos níveis prudenciais" mesmo com o aumento de emissões de títulos.


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