Dólar vai a R$ 4,25 com temor de epidemia do coronavírus

Dólar vai a R$ 4,25 com temor de epidemia do coronavírus

Ibovespa, após baixa, fechou em uma leve alta de 0,12%, aos 115.528,04 pontos

AE

A moeda americana terminou o dia com forte valorização de 0,90%

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A epidemia do coronavírus voltou a afetar o mercado mundial de moedas nesta quinta-feira, dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou emergência internacional, mas se posicionou contra restrições ao comércio e viagens. O dólar subiu forte nos mercados emergentes e o real foi uma das divisas com pior desempenho, junto com a divisa da Rússia e o rand da África do Sul. No mercado à vista, o dólar fechou com valorização de 0,90%, a R$ 4,2574, maior valor desde 27 de novembro de 2019.

No começo da tarde, a moeda americana chegou a bater em R$ 4,2725, com as mesas de câmbio antecipando que a OMS fosse hoje declarar emergência mundial para a epidemia do coronavírus, o que acabou se confirmando no final da tarde, após atrasos na coletiva de imprensa na Suíça. Após a confirmação, o dólar acabou reduzindo um pouco os ganhos, no exterior e aqui. A OMS também se opôs "a qualquer restrição de viagens e comércio contra a China".

"O dia foi de moedas emergentes fracas e dólar forte", afirma o sócio e gestor da Absolute Invest, Roberto Serra. "Não vejo o real em situação de vulnerabilidade", disse ele, ressaltando que o movimento de fuga de risco é mundial e reflete o temor de piora da atividade econômica por conta dos efeitos do vírus. Assim, o real acompanha outras moedas de países emergentes e exportadores de commodities.

Apesar de chegar hoje a níveis que, em outros momentos, levou o BC a atuar no mercado, Serra avalia que não há motivos agora para intervenção. "Não vejo nenhum motivo, está tudo dentro da normalidade", afirmou, ressaltando que indicadores mais técnicos como o cupom cambial (juro em dólar) e a taxa do dólar casado não estão mostrando "disfuncionalidade" do mercado. O dólar casado (a diferença entre as cotações do mercado à vista e futuro) estava em 0,60 ponto na tarde de hoje. Em finais de mês, por conta do vencimento do contrato mais líquido de dólar futuro, este indicador costuma ficar negativo.

"Este vírus pode afetar a atividade econômica mundial por meses suficientes para colocar em dúvida nos investidores o ritmo de expansão dos emergentes", avalia o diretor da Duquesne Capital Management, Christian Broda. Ele próprio disse que tem mudado decisões de investimento por conta da rápida disseminação da doença, que já provocou 171 mortes na China e infectou mais de 8 mil pessoas no mundo.

Bovespa

O Ibovespa teve mais um dia de queda aguda logo na abertura, quando saiu dos 115 mil em busca dos 113 mil pontos, passando a ajustes graduais ao longo do dia, que chegaram a colocá-lo na faixa dos 112 mil no início da tarde, com mínima a 112.825,49 pontos. Ao final, o principal índice da B3 neutralizou a correção para fechar em leve alta de 0,12%, aos 115.528,04 pontos, na máxima do dia. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 2,41%, com ajuste negativo a 0,10% no mês. O giro financeiro totalizou R$ 24,8 bilhões.

Durante entrevista coletiva de autoridades da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ibovespa conseguiu recuperar a linha dos 114 mil pontos com a melhora de sentimento no exterior, na medida em que a comunicação da OMS veio em linha, em certo momento até melhor do que o mercado antecipava.

A OMS reiterou elogio às "medidas extraordinárias" adotadas pela China para conter o coronavírus e, conforme esperado, declarou estado de emergência global de saúde pública. Mais importante para os investidores foi a referência explícita feita pela OMS, que contribuiu em alguma medida para mitigar temores sobre a economia global. "Nos opomos a qualquer restrição de viagens e comércio contra a China", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, às 16h47 daqui, quando o Ibovespa, acompanhando o exterior, iniciou recuperação em direção à leve alta do encerramento.

Apesar do alívio perto do fim do dia, "a pressão de vendas no mercado de ações deve prosseguir até que se tenha um sinal mais claro sobre a contenção do vírus e em que extensão a demanda global será afetada", diz Márcio Gomes, analista da Necton. Com Nova York limitando as perdas durante e após a coletiva da OMS, para fechar o dia em alta de até 0,43% (Dow Jones), o Ibovespa se distanciou das mínimas, recuperando ao final a linha de 115 mil, que havia sido abandonada logo na abertura.

Na última quinta-feira, o índice renovou máxima histórica, a 119.527,63 pontos, e a partir do dia seguinte passou a sofrer correção, premido pelos temores globais em torno do coronavírus. A avaliação geral entre analistas é de que os ativos de risco continuarão aos sobressaltos enquanto não houver maior grau de clareza quanto aos efeitos não apenas sobre a economia da China, já afetada pelo prolongamento do feriado do Ano Novo Lunar, mas também sobre a economia mundial.

Ações de empresas com forte geração de receitas no exterior e em certos casos exposição à China, de segmentos como carne e papel e celulose, estiveram entre as perdedoras do dia, enquanto o de siderurgia conseguiu reverter perdas e fechar em alta - destaque para Gerdau PN (+2,98%). A ação da Marfrig fechou em baixa de 2,52%, mas ainda acumula ganho de 8,63% no ano, estendendo desempenho positivo de dezembro, quando era impulsionada exatamente pela demanda chinesa. JBS ON, outro caso de exposição à China, cedeu hoje 1,61%, ainda preservando alta de 4,46% em janeiro.

Apesar de novas perdas acentuadas nos preços do petróleo, em meio à incerteza sobre a demanda da China, grande consumidora de commodities, as ações da Petrobras resistiram bem, ante fechamento do Brent para abril a -2,68% na sessão. Petrobras ON reverteu o sinal e fechou em alta de 2,08%, com a PN a +0,31%. Já muito descontadas, as ações de bancos, segmento com peso de 24% no Ibovespa, também tiveram reação positiva na parte final do dia, com Bradesco PN em alta de 1,00% e Itaú Unibanco, de 1,46%, revertendo perdas moderadas no pregão.

Juros

Os juros futuros começaram a tarde pressionados pelo aumento do estresse no câmbio e do temor sobre a disseminação do coronavírus e seus impactos sobre a economia global, renovando máximas em sequência em vários pontos da curva. Ao longo da tarde, porém a pressão perdeu força, na medida em que o dólar voltava das máximas acima de R$ 4,27 atingidas mais cedo, e as taxas encerraram o dia perto dos ajustes anteriores. Desse modo, a influência negativa do exterior acabou se sobrepondo ao noticiário interno positivo, que teve o IGP-M de janeiro abaixo da mediana das estimativas, anúncio de redução no preço de combustíveis pela Petrobras e declarações otimistas dos presidentes da Câmara e Senado sobre as reformas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou em 4,360% (regular) e 4,355% (estendida), de 4,340% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 5,491% para 5,50% (regular e estendida). A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 6,20% e 6,21%, a regular e estendida, de 6,181% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 6,59% (regular e estendida), de 6,581%.

Na ponta curta, a tensão do câmbio poluiu um pouco o quadro de expectativas para a Selic na curva a termo, mas a aposta de corte de 25 pontos-base na reunião da semana que vem continua sendo majoritária. "As taxas estão abrindo em cima do dólar. O estresse na moeda que está afetando apostas de curto prazo diminuiu um pouco a probabilidade de corte em fevereiro", disse o trader da Quantitas Asset Matheus Gallina. Segundo a instituição, a precificação de Selic para o próximo Copom mostra que a chance de redução de 0,25 ponto porcentual caiu de 79% para 75% entre ontem e hoje.

Ao longo do dia, a epidemia do coronavírus seguiu como principal foco de atenção do investidor - e a cada nova informação negativa a aversão ao risco foi crescendo. Nos juros, as taxas já subiam de manhã e renovaram máximas no começo da tarde, acompanhando a escalada do dólar, com o mercado elevando as apostas de que a Organização Mundial da Saúde decretaria o surto como "emergência global de saúde pública", o que acabou se confirmando no fim da tarde. Porém, o órgão descartou recomendações de restrições a comércio ou viagens, inclusive à China.

Do ponto de vista da curva de juros, a percepção é de que as taxas têm reagido de forma até comedida à tensão com o coronavírus em comparação aos demais ativos, uma vez que o efeito da piora do câmbio sobre os DIs é, em boa medida, compensado pelo aumento da possibilidade da adoção de estímulos monetários pelos bancos centrais, o que abriria espaço para a continuidade do ciclo de afrouxamento no Brasil. "Mesmo com todo o estresse do coronavírus, temos apenas algumas correções. As taxas seguem perto das mínimas históricas", disse Cassio Andrade Xavier, trader da Sicredi Asset. Ele relata que, a partir do trecho intermediário, a curva tem desinclinado nos últimos dias, com muita "compra de DI janeiro de 2022 com venda de janeiro de 2027".


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