Dólar volta a subir e fecha a R$ 5,30, mas acumula queda de 2% na semana

Dólar volta a subir e fecha a R$ 5,30, mas acumula queda de 2% na semana

Com moderação de perdas em Nova Iorque, o Ibovespa conseguiu recuperar a linha de 100 mil pontos, terminando o dia aos 101.241,73 pontos

AE

No ano, o dólar ainda acumula alta de 30%

publicidade

O dólar fechou a sexta-feira em alta, após cair nos últimos três dias. A moeda norte-americana, porém, acumulou queda de 2% na semana, a segunda consecutiva de desvalorização. Nesta sexta, o real até ensaiou novo dia de ganhos, com o dólar recuando para R$ 5,24 na mínima do dia, mas o clima ruim no exterior, que só amenizou no final do dia, e o tradicional movimento de cautela antes do feriado prolongado acabaram prevalecendo.

Com isso, o real nesta sexta, ao contrário dos últimos dias, perdeu força ante o dólar, enquanto outros emergentes, como o México e África do Sul, ganharam. No ano, porém, o dólar ainda acumula alta de 30%.

No fechamento, o dólar à vista terminou a semana cotado em R$ 5,3071, em alta de 0,21%. No mercado futuro, o dólar para outubro era negociado com valorização de 0,29%, a R$ 5,3115 às 17 horas.

A analista de moedas e mercados emergentes do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger, avalia que há um otimismo excessivo no mercado cambial. A apresentação da reforma administrativa e bons indicadores da economia, como a produção industrial e os índices dos gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) de agosto agradaram. Mas ela observa que persistem as incertezas sobre o ritmo de retomada da atividade e segue no radar a questão fiscal e a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no cargo. Apesar desse último temor ter se reduzido nos últimos dias, ela destaca que estará sempre no radar dos participantes do mercado.

Para os estrategistas do moedas do Bank of America, o principal risco para o real no curto prazo é a questão fiscal, por exemplo com a volta da ameaça ao teto de gastos, única âncora fiscal do Brasil, e o aumento dos ruídos políticos. Esta semana, o governo repetidas vezes mostrou compromisso em manter o teto.

Na questão política, na quinta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) anunciou que rompeu a interlocução com Guedes. O BofA projeta o dólar entre R$ 5,30 e R$ 5,40 até o final do ano e na casa dos R$ 5,40 em todo o ano de 2021.

Na avaliação do economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, o que ajudou o real a se descolar de outros emergentes, movimento bem incomum nos últimos meses, foi o avanço das reformas no Congresso. Mesmo assim, ele observa que o dólar sobe quase 30% no ano e o real segue no topo como a pior moeda.

Para Velloni, o valor da divisa americana mais condizente com o cenário atual seria entre R$ 4,80 e R$ 5,20.

Ibovespa

Com moderação de perdas em Nova Iorque, que ensaiava mais cedo forte correção pelo segundo dia, o Ibovespa conseguiu no período da tarde não apenas sustentar a linha de 100 mil pontos, como recuperar a de 101 mil em direção ao fechamento desta sexta-feira, em alta de 0,52%, aos 101.241,73 pontos. Assim, o índice da B3 limitou as perdas da semana a 0,88% e escapou da terceira baixa diária consecutiva, tendo se mantido de olho em Nova Iorque nas duas últimas sessões, após um intervalo menos correlacionado, em que as ações brasileiras, assim como o dólar e os juros, responderam a incertezas sobre a situação fiscal doméstica.

Neste pré-feriado da Independência no Brasil e do Trabalho nos EUA, ambos na segunda-feira, quando não haverá negócios nos respectivos mercados, o Ibovespa saiu de mínima a 98.960,50 pontos - pior nível intradia desde 17 de agosto, então a 98.513,34 - e, a partir do meio da tarde, buscou se reaproximar e afinal renovou a máxima do dia, a 101.581,77 pontos, naquele momento em alta de 0,85% na sessão.

O giro financeiro foi a R$ 32,8 bilhões, alto mas abaixo do observado no dia anterior, e agora o Ibovespa cede 12,45% no ano, com ganho de 1,88% neste começo de mês.

Enquanto os índices de Nova Iorque se mostravam menos pressionados, não distantes das máximas da sessão, especialmente o Nasdaq, que chegou a indicar perda em torno de 5% para a semana - ajuste que, ao fim, ficou pouco acima de 3% (-3,27%) -, o Ibovespa aproveitou para virar o jogo, evitando nova perda, após ter iniciado setembro em alta de 2,82%, animado pelo encaminhamento da reforma administrativa ao Congresso.

"Entre o movimento de correção das bolsas americanas, em vista do aumento da volatilidade que inevitavelmente deve ser gerado por conta das eleições, e a melhora do quadro político doméstico com o avanço das reformas, o Ibovespa segue travado entre os 103 e 99 mil pontos. Somente o rompimento de um desses extremos para o mercado ganhar uma direção no curtíssimo prazo", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Para Rodrigo Barreto, analista gráfico da Necton, o Ibovespa conta com suporte na faixa de 98,7 a 97,5 mil pontos e segue em região de consolidação, até os 103 mil, limite além do qual tende a buscar novos degraus aos 107 ou 108 mil pontos. "Tivemos no mês passado uma correção normal e o Ibovespa tem se mantido em faixa de acomodação um tanto ampla, de cerca de 4%. Hoje, como ontem , esteve bem correlacionado a Nova Iorque, mas é de se notar que na quinta foi aos 103 mil (103.225,58) na máxima. O viés ainda é positivo", acrescenta o analista.

Quando o cenário doméstico parecia um pouco mais desanuviado de temores sobre a política fiscal, sobreveio este ajuste a partir de fora, após uma sequência de renovações de máximas históricas no S&P 500 e Nasdaq, que nem de perto foram acompanhadas pela B3. Na semana, o Ibovespa acumulou perda moderada, de 0,88%, após leves avanços de 0,61% e de 0,17% nas duas anteriores.

Nesta sexta-feira, as ações de grandes bancos, pelo segundo dia, e parte das de siderurgia e mineração, em recuperação, contribuíram para o sinal positivo do Ibovespa no encerramento do dia - apesar da queda de 0,86% nesta sexta-feira em Qingdao, a tonelada do minério de ferro a US$ 128,80 mostra a pujança da demanda chinesa pelo insumo, refletindo retomada de atividade industrial mais acelerada, após o país ter sido o primeiro a ser atingido pelo Covid-19, mas também o que saiu mais rápido da crise, observa Barreto, da Necton.

Destaque nesta sexta-feira para alta de 2,79% em Gerdau PN, de 1,97% para Vale ON e de 2,56% para a Unit do Santander. Na ponta positiva do Ibovespa, Qualicorp subiu 7,68%, seguida por CCR (+4,35%), Braskem (+4,09%) e Gol (+3,68%). No lado oposto, Hering cedeu 4,95%, BTG, 2,42%, e Cyrela (-1,85%).

Juros

Os juros futuros fecharam em leve baixa, passando incólumes à virada do dólar para cima e resistindo também ao mau humor vindo do exterior. A melhora na percepção de risco político com o encaminhamento de parte das reformas ao Congresso ainda foi o principal fator a ancorar as taxas, com as longas caindo pouquinho mais do que as curtas. Com isso, os níveis de inclinação cederam novamente, mas ainda são considerados elevados porque a incerteza sobre a área fiscal persiste.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,74%, de 2,793% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 3,964% para 3,90%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 5,69%, de 5,764% na quinta. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 6,723% na quinta para 6,64%.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que a curva "tem prêmio para os dois lados". A ênfase na necessidade de ajuste fiscal dada pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, em evento virtual nesta sexta-feira, foi destacada como fator positivo para o mercado, que também segue se apegando na leitura de avanço da pauta liberal, numa semana de envio da reforma administrativa e da proposta de Orçamento de 2021 ao Congresso, além da aprovação da Lei do Gás na Câmara.

"Na verdade, sabemos que não é uma reforma (administrativa), é um puxadinho, pois não prevê mudanças estruturais. Mas, de qualquer forma, é um avanço e deu uma sinalização positiva", disse. Além disso, de acordo com Nepomuceno, o mercado vê com bons olhos a postura de Rodrigo Maia, de, segundo ele, tentar dar celeridade à tramitação das matérias.

Nesse contexto, a curva não esboçou reação ao rompimento das relações entre Maia e o ministro Paulo Guedes. Maia relatou que Guedes proibiu contato entre ele e a equipe econômica e, por isso, agora as conversas sobre as reformas serão feitas somente com o secretário de Governo, General Ramos.

Tampouco trouxe desconforto a informação de que Maia pediu na quinta para que fosse retirado o pedido de urgência para a tramitação da primeira etapa da reforma tributária enviada ao Congresso, para que a pauta da Casa não ficasse trancada.

Também teve impacto neutro a afirmação, na quinta, do presidente Jair Bolsonaro, de que espera que a Selic caia "daqui a uns 30 dias". Até porque Fabio Kanczuk foi muito claro nesta sexta de que "é improvável que tenha nova queda de juros". "Se acontecer nova queda de juros, ela será pequena", salientou, reforçando o que já dizia o Copom no último comunicado.

Ele também enfatizou a importância da política fiscal para o futuro da Selic. "Todas as decisões, inclusive as de política monetária, estão sendo brutalmente influenciadas pelo fiscal", comentou.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895