Dólar zera queda e sobe com Fed e declaração de Bolsonaro sobre Petrobras

Dólar zera queda e sobe com Fed e declaração de Bolsonaro sobre Petrobras

Moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,66

AE

Dólar fechou em alta

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Após dois dias seguidos de queda, o dólar teve uma quarta-feira volátil. Pela manhã, operou em baixa, em meio a relatos de fluxos para o Brasil e desmonte de posições contra o real, chegando a ser negociado em R$ 5,54. Nos negócios da tarde, firmou alta e encostou nos R$ 5,66, enquanto a divisa dos Estados Unidos ganhava força no exterior, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) otimista com a retomada da economia dos Estados Unidos, mas sem mostrar preocupação com a inflação e com a disparada recente dos juros longos dos Treasuries. No mercado doméstico, causou ruído nas mesas de operação a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que o governo pode mudar a política de preços da Petrobrás.

O real foi a moeda com pior desempenho nesta quarta-feira, considerando a lista de 34 moedas mais líquidas.

No fechamento, o dólar à vista encerrou com valorização de 0,78%, a R$ 5,6434. No futuro, o dólar para maio subia 0,57%, cotado em R$ 5,6305 às 17h40.

A declaração de Bolsonaro, embora sem maiores detalhes sobre o que ele pretende fazer com os preços dos combustíveis, fez o papel da Petrobras passar a cair, os juros futuros baterem máximas e também pressionou o câmbio.

 

Para o diretor de Tesouraria de um banco, volta o fantasma do populismo e da repetição de estratégia de governos passado, o que é mal visto pelo mercado doméstico e, especialmente, pelos estrangeiros.

 

O economista-chefe de mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, destaca que o conturbado processo de troca de comando da Petrobras já acendeu uma luz amarela no Brasil para os investidores internacionais. Essa cautela ocorre em um momento em que a preocupação fiscal ajuda a embaçar as perspectivas para o crescimento da economia, sobretudo com os recordes diários de mortes da pandemia. O Orçamento de 2021 também segue ainda sem solução.

 

Em meio à piora da pandemia, a agência de classificação de risco Fitch Ratings alertou no período da tarde que as incertezas sobre os rumos da doença e do processo de vacinação podem piorar as perspectivas para a atividade e a situação fiscal no Brasil, que já é pior que seus pares.

 

No exterior, a divulgação da ata do Fed era um dos eventos mais esperados da semana. O documento mostrou o BC americano otimista com a atividade econômica, mas avaliando que a inflação pode ter repique, mas de forma temporária.

 

A sinalização é que não há pressa para elevar os juros e alterar a estratégia de política monetária, comenta a economista para os EUA da Oxford Economics, Kathy Bostjancic, em nota.

 

Ao mesmo tempo, ela acrescenta que há uma impaciência do mercado, em meio à elevação das taxas de retorno (yield) dos juros longos, movimento para o qual o Fed não sinalizou preocupação. "O Fed será extremamente paciente para elevar os juros", afirma a economista.

 

<b>Juros</b>

 

Os juros fecharam o dia em alta e nas máximas da sessão. As taxas vinham em alta moderada, mas aceleraram o avanço no fim da etapa regular, em reação à declaração do presidente Jair Bolsonaro, no período da tarde, segundo a qual a política de preços da Petrobras poderá ser alterada, e à piora no câmbio. O fantasma da intervenção política nos preços da companhia voltou a assombrar o mercado num momento já de grande estresse em função do impasse em torno do Orçamento de 2021, que vem tornando a curva praticamente insensível a influências positivas, como por exemplo a acomodação do mercado de Treasuries e o bem-sucedido leilão de aeroportos.

 

No fim da etapa regular, todas as principais taxas estavam nas máximas. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,725%, de 4,656% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 marcava 8,38%, de 8,236%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 8,99%, de 8,854%.

 

A declaração do presidente foi feita com o mercado já na reta final dos negócios, mas causou estrago, com a alta das taxas passando de algo em torno de 5 pontos-base para até 14 pontos.

 

Na cerimônia de posse do novo diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, o chefe do Executivo defendeu "previsibilidade" e "transparência" na política de preços da companhia. Declarou que não iria interferir, mas que essa poderia ser alterada, citando o projeto sobre a mudança na cobrança do ICMS sobre combustíveis.

 

Bolsonaro já havia dado este tipo de indicação anteriormente, mas agora pegou o mercado num momento já de grande aflição com as questões fiscais. A exemplo dos últimos dias, nesta quarta o impasse em torno do Orçamento seguiu como entrave para um alívio de prêmios.

 

A ata do Federal Reserve, grande destaque da agenda, não foi capaz de influenciar diretamente os negócios com juros, mas sim via câmbio, com o dólar acelerando a alta a partir do avanço dos juros longos dos Treasuries, por sua vez, pressionados pelas indicações do documento.

 

"O problema é nosso, com essa incerteza orçamentária e risco de calamidade. É um pepino que enquanto não se resolver o mercado vai seguir pedindo prêmio", disse o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, para quem o fato de o presidente Jair Bolsonaro não se envolver diretamente na questão do Orçamento é um agravante.

 

O Orçamento foi aprovado no Congresso em 25 de março, com manobras contábeis via subestimação de despesas obrigatórias para a acomodação de emendas parlamentares, o que vai exigir um bloqueio nas despesas de ao menos R$ 30 bilhões para garantir o cumprimento do teto de gastos. O relatório da área técnica do Tribunal de Contas sobre a regularidade da redução de despesas obrigatórias é inconclusivo e a corte agora pede uma série de informações ao Ministério da Economia e à Casa Civil para embasar sua análise.

 

O noticiário da pandemia recorrentemente negativo também pesa. Com a marca de 4 mil mortes diárias por covid-19 no País, insuficiência de vacinas e atraso no fornecimento de insumo para os imunizantes, o quadro sanitário eleva as preocupações sobre a necessidade de restrições de circulação e à atividade ainda mais severas e de ampliação de auxílio financeiro à população. Caso o governo decrete novamente estado de calamidade, as regras fiscais serão suspensas e estará aberto caminho para um aumento mais significativo dos gastos.

 

<b>Bolsa</b>

 

Com Vale ON negociada na máxima a R$ 105,32, e desempenho também positivo para siderurgia, o Ibovespa foi nesta quarta-feira aos 118.303,28 pontos (+0,68%) no melhor momento da tarde, maior nível intradia desde 22 de fevereiro, mas acabou cedendo a nova ameaça de intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da Petrobras, uma reiteração que segurou as ações da estatal no complemento da sessão.

 

Embora abaixo da resistência dos 118 mil, o índice da B3 conseguiu se manter além dos 117 mil pontos pelo terceiro fechamento consecutivo e embora tenha parecido a caminho, pelo segundo dia, de fechamento bem perto do zero a zero, encontrou ao fim leve alta de 0,11%, a 117.623,58 pontos, com mínima a 116.747,95 e abertura a 117.498,87 pontos. O giro ficou em R$ 31,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 2,06%, com ganho de 0,85% neste começo de mês, limitando as perdas do ano a 1,17%.

 

"Prevalecia cautela até a ata do Fomc, com o intuito de avaliar se haveria indicação de movimento de normalização (da política monetária) mais cedo do que o Fed havia anunciado, embora a expectativa fosse de que o documento reiteraria posição cautelosa da autoridade monetária, em cenário de inflação ainda baixa. O que poderia pesar contra isso é a aceleração da retomada econômica, com o avanço da vacinação nos Estados Unidos e o forte nível de estímulos fiscais e monetários, que tem alimentado as expectativas de inflação", observa a economista Paloma Brum, da Toro Investimentos.

 

Embora, na ata, os dirigentes do Federal Reserve tenham reconhecido a melhora da perspectiva econômica, reiteraram o compromisso com a manutenção de estímulos à atividade, ainda mostrando pouca preocupação com a progressão de preços no país. No documento, os dirigentes do Fed disseram esperar queda nas leituras anualizadas de inflação, após alta transitória, e atribuíram o avanço dos juros dos Treasuries à "melhora de expectativas", bem como à emissão de títulos. Ainda assim, a avaliação sobre a economia americana não passou despercebida, resultando em apreciação do dólar, aqui e fora.

 

"O Ibovespa encerrou mais uma vez no zero a zero, com volume muito abaixo da média, reflexo de 'dois mundos' na bolsa brasileira: do lado positivo, as empresas de commodities e exportadoras, em mais um dia de alta do minério de ferro e com dados econômicos acima do esperado nas economias desenvolvidas; do lado negativo, economia com fracos resultados aqui, na passagem de fevereiro para março, contrariando o ritmo pelo mundo, além do imbróglio sobre o Orçamento de 2021 e o aumento do risco fiscal, traduzido em mais um dia de inclinação da curva de juros", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

 

Para Rodolfo Carneiro, sócio e assessor da Valor Investimentos, a ata do Fed trouxe "pensamento um pouco mais 'hawkish'", o que resultou em algum "sofrimento" para o câmbio aqui. "A declaração do Bolsonaro sobre a política de preços da Petrobras também pesou, ligeiramente. Mas o pior ponto do dia foi, de fato, essa ata do Fed, com alguma mudança em relação ao comunicado inicial, o que resultou em acréscimo de preço no dólar", acrescenta.

 

No período da tarde, ao dizer que "podemos mudar essa política de preços na Petrobras", o presidente Bolsonaro contribuiu para reduzir o fôlego do índice da B3, revertendo o ganho da ação PN (-0,08%) e reduzindo o da ON a 0,46% no fechamento, após ambas terem girado em torno de 1% de alta antes das declarações. Destaque nesta quarta-feira para ganho de 2,46% em Vale ON, em dia também positivo para as ações de siderurgia (Gerdau PN +1,89%, CSN +1,84%).

 

Na ponta do Ibovespa, Braskem fechou em alta de 5,95%, à frente de Minerva (+4,22%) e de Hapvida (+3,89%). Na face oposta, Hering cedeu 3,34%, Rumo, 3,25%, e B2W, 2,96%. O setor de bancos, o de maior peso no Ibovespa, teve desempenho majoritariamente negativo, com perdas moderadas na sessão, até 1,09% (Bradesco PN) - a exceção foi Santander, praticamente estável no fechamento (+0,03%).

 


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