Dia da Indústria: Confiança na linha de produção para 2022

Dia da Indústria: Confiança na linha de produção para 2022

Segmento que representa 22% do PIB do país projeta índices promissores para o restante do ano

Christian Bueller

No Dia Nacional da Indústria setor comemora investimentos, geração de empregos e sustentabilidade

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Um dos mais antigos setores da economia moderna, mais precisamente surgida no fim do século XVIII, a indústria é um dos principais vetores do desenvolvimento de qualquer nação e o Brasil não fica de fora. A área representa 22,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Há 20 anos, foi instituído o 25 de maio como o Dia Nacional da Indústria, em homenagem ao patrono da indústria nacional, engenheiro Roberto Simonsen, que faleceu nesta data, no ano de 1948.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor responde por 71,8% das exportações de bens e serviços, por 68,6% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento e por 32,9% dos tributos federais (exceto receitas previdenciárias). Para cada R$ 1 produzido na indústria, são gerados R$ 2,43 na economia como um todo. Como exemplo, nos demais setores, o valor gerado é menor: R$ 1,75 na agropecuária e R$ 1,49 no comércio e serviços. Atualmente, a participação da indústria no emprego formal do Brasil é de 20,9%, oferecendo trabalho a 9,7 milhões de pessoas.

O salário médio dos trabalhadores com ensino superior completo no setor (R$ 7.652) é maior que a média total de empregos no país (R$ 5.976). O mesmo acontece com os funcionários com ensino médio completo (R$ 2.380), que ganham mais, em média do que o geral contando outros ramos (R$ 2.106), segundo dados recentes do Portal da Indústria divulgado pela CNI.

O Rio Grande do Sul possui PIB industrial de R$ 94,6 bilhões, equivalente a 6,8% da indústria nacional e, no momento, emprega 752.339 trabalhadores em 44.657 empresas industriais – 9,5% do total de companhias que atuam no setor industrial do Brasil. Os setores com as maiores participações percentuais são a construção (18,3%), alimentos (15,5%), serviços industriais de utilidade pública (11,3%), máquinas e equipamentos (7%) e químicos (6%). Juntos, esses setores representam 58,1% da indústria do Estado. O RS exportou US$ 9.364 milhões em 2021, desempenho que colocou o Estado na quarta colocação em exportações industriais brasileiras.

Apesar de a pandemia ainda não ter terminado, o setor está otimista quanto ao futuro. O resultado do Índice de Confiança do Empresário Industrial gaúcho (ICEI-RS), divulgado neste mês pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) aumentou de 55,8 (abril) para 56,1. Entre agosto de 2021 e março de 2022, o índice total perdido havia sido de 8,8 pontos, impactado, principalmente, pelas dificuldades na cadeia de suprimentos e pelo aumento de custos de produção, o que faz o índice atual ser comemorado. “Os componentes do ICEI-RS reforçam a estabilidade na confiança dos empresários, reproduzindo também o padrão observado nos dois meses anteriores, mas baseada nas expectativas otimistas, pois as condições atuais não se alteraram”, diz o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

As perspectivas dos empresários gaúchos para os próximos seis meses continuaram positivas, em maio, e em patamares similares aos de março e abril. O Índice de Expectativas passou de 58,8, no mês passado, para 58,9 pontos, descrevendo, acima de 50, um cenário favorável. De fato, os empresários continuam otimistas em relação à economia brasileira: o índice registrou 54,6 pontos. Entre os consultados, 35,2% estão otimistas, 16,2%, pessimistas e 48,6%, indiferentes. Aos 61 pontos, o Índice de Expectativas das Empresas mostra que o otimismo com o futuro da própria empresa é ainda maior. Segundo o presidente da Fiergs, o cenário descrito pelo ICEI-RS de maio combina estabilização na situação corrente dos negócios, apesar de alguma deterioração na economia brasileira, e expectativa positiva.

Recorde nas exportações gaúchas

Outro dado saudado pelo setor foi a soma de US$ 1,4 bilhão das exportações da Indústria de Transformação do RS, que cresceram 39,6% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2021. No acumulado do ano, as vendas externas alcançaram US$ 5,4 bilhões, valor 43,4% maior em relação ao mesmo período do ano passado. “O forte incremento das exportações para os nossos principais parceiros, especialmente os Estados Unidos, contribuiu para o resultado, e as vendas aumentaram de forma disseminada na maioria dos segmentos”, diz o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Dos 24 setores da indústria gaúcha que registraram embarques no mês passado, 18 assinalaram acréscimo no comparativo com abril de 2021. Entre os grandes exportadores, Alimentos foi o que mais cresceu, embarcando US$ 187,4 milhões a mais em mercadorias (52%), principalmente Farelo de soja (+US$ 80,2 milhões), Óleo de soja (+US$ 55,6 milhões), Carne de frango (+US$ 43,3 milhões) e Carne de boi (+US$ 20,8 milhões). Na segunda posição, Tabaco avançou US$ 59,2 milhões, elevação de 84,5%. As maiores vendas para a China, em US$ 41,3 milhões, contribuíram para o resultado. Veículos automotores registraram o terceiro maior aumento, em US$ 36 milhões, com as elevações nas demandas de Chile e Argentina.

A respeito dos principais destinos das exportações do Estado, em abril as vendas para os Estados Unidos se destacaram positivamente ao somarem US$ 189,1 milhões, um aumento superior a US$ 48 milhões, correspondente a uma elevação de 34% se comparada ao mesmo mês de 2021. As altas das indústrias de Coque e derivados do petróleo, com mais US$ 12,7 milhões; Químicos, mais US$ 10,3 milhões; Couro e calçados (+US$ 7,3 milhões) e Alimentos (+US$ 6,8 milhões) para a economia americana explicam o bom desempenho no mês. As vendas para a Argentina também subiram, 55,2% – US$ 42,2 milhões. Por trás desses números, estão as altas em Veículos automotores (+US$ 10,7 milhões) e Máquinas e equipamentos (+US$ 9,2 milhões).
Em sentido contrário, as exportações para a China apresentaram forte queda, de 73,5%, puxadas pela redução de US$ 705,2 milhões nas compras de Soja. Além disso, as exportações de Carne suína foram novamente destaque negativo no mês, com queda de US$ 26 milhões.

Dificuldades, mas pensamento positivo

O presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry, acredita que o aumento no preço e a escassez de insumos foi um fator que contribuiu e ainda contribui para prejudicar a produção das indústrias, algumas sendo obrigadas até a paralisar por falta de matéria-prima. “Junte-se a isso um cenário em que a inflação elevada pesa sobre os reajustes, como é o caso do aumento dos custos com mão de obra. No primeiro trimestre do ano a atividade da indústria cresceu, mas temos observado uma desaceleração desse ritmo de crescimento. Em março, o nosso Indicador de Desempenho Industrial, por exemplo, apontou que o setor avançou somente 0,2% em relação a fevereiro”, lembrou. Petry acrescentou como fator o aumento no preço dos insumos mais caros e o custo de capital com o avanço da Selic. “Vivemos um ambiente em que a demanda está em desaceleração e existe uma incerteza sobre qual será o custo para as economias trazerem de volta a taxa de inflação para níveis aceitáveis”, pontua.

Além disso, o cenário eleitoral é mais um ponto para colocar a economia do Brasil entra em compasso de espera. “É algo que já experimentamos em outras ocasiões. Não bastasse tudo isso, a indústria sofre de uma carga tributária extremamente complexa e que é focada na tributação de bens. Temos muitas distorções no nosso sistema tributário, como cumulatividade de impostos e oneração de exportações”, relata o presidente da Fiergs.

Em um contexto em que a pandemia ainda não terminou, a indústria encara alguns desafios para que o ano de 2022 seja considerado positivo, segundo Petry. “O industrial não consegue comprar a matéria-prima pelo mesmo preço por duas vezes consecutivas. No início de 2022, tínhamos a expectativa de preços mais estáveis para esse ano, entretanto a Guerra na Ucrânia e depois o lockdown na China mudaram todo o cenário. Mas pensando no médio e longo prazo, quando o surto inflacionário passar, temos boas expectativas para o setor pois o ambiente internacional se mostra favorável aos produtos industriais”, projeta o presidente da Fiergs. “Superado esse momento de pandemia, a expectativa também é de que o governo volte a pensar em uma agenda de longo prazo, que para ter sucesso precisa incluir uma política industrial”, completa Petry.

Desafio quádruplo

Durante a pandemia, empresas como a CMPC - segundo maior nome do setor em fabricação de celulose e papel na América Latina -, por exemplo, se depararam um desafio quádruplo, como explica o diretor-geral, Mauricio Harger. “Produzir matéria-prima para fabricação de produtos essenciais, preservarmos a saúde e a segurança de nossos colaboradores e prestadores de serviços, assegurarmos emprego e renda para a região e atuarmos de forma solidária nos mais de 70 municípios do Rio Grande do Sul em que mantemos atividades industriais, florestais ou portuárias.”, salienta Harger. Segundo ele, sendo o Brasil o maior exportador mundial de celulose, o cenário se mostrou bastante positivo para quem integra essa cadeia, com ambiente é muito fértil no que diz respeito ao fortalecimento do segmento como um todo.

Harger destaca que o patamar da CMPC não diminuiu, pelo contrário, bateu recorde de produção. “Graças a todos os protocolos sanitários que aplicamos com foco em primeiro lugar na saúde de nossos colaboradores e da comunidade que nos cerca. Estamos sempre atentos aos desdobramentos que podem ocorrer em virtude do aparecimento de novas variantes do vírus da Covid-19, priorizando a saúde de nossos colaboradores e prestadores de serviço”, informou. Os empregos de 7 mil colaboradores diretos e indiretos foram mantidos.

A empresa desenvolve dois grandes projetos. Com previsão de conclusão até o final de 2023, o BioCMPC se trata do segundo maior investimento privado da história do RS e o maior em termos de sustentabilidade. “Este é um projeto que une medidas de controle e gestão ambiental e modernização operacional na unidade da companhia, em Guaíba. Ao todo, são 31 iniciativas, com previsão de geração de 3.680 empregos diretos e indiretos, além de 3.850 induzidos. Até o momento, cerca de 800 pessoas já foram contratadas e o projeto está 12% concluído”, diz o diretor da CMPC. O outro é o RS+Renda, o programa de fomento florestal, considerado um dos primeiros projetos inclusivos de bioeconomia no Brasil. “A ação é alicerçada na geração de valor compartilhado, que possibilita aos produtores rurais e proprietários de terras passarem a integrar a cadeia produtiva da companhia, diversificando sua produção e auferindo renda extra”, diz Harger. Focado na região sul do Estado, o programa abrange produtores rurais de mais de 70 municípios gaúchos.

Continuidade do crescimento

A projeção do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Claudio Teitelbaum para este ano é a de manutenção do crescimento no setor, algo já identificado em 2021. “No ano passado, o PIBs nacional e gaúcho iniciaram uma reação após o período mais grave da pandemia. Crescemos 9,7%, compensando com boa margem a retração de 6,4% de 2020. Foi o maior crescimento registrado desde 2010”, informa. Segundo ele, o desempenho em 2022 não deverá ter a mesma intensidade. “Temos conjunturas externas desfavoráveis: inflação alta, taxa Selic de dois dígitos e questões macroeconômicas e eleições”, lembrou. Teitelbaum está atento ao comportamento do preço de alguns insumos. “Isto segue impactando o curso das obras, os juros de financiamentos imobiliários e a renda da população, afetando a capacidade de consumo”, completou.

Realizar projetos adequados para o cliente que passa por uma pandemia absorver é um dos desafios do setor, segundo Teitelbaum. “Será preciso trabalhar mais na gestão de custos, uma vez que alguns aumentos independem da vontade das empresas, como algumas commodities que são dolarizadas e têm subido de valor no mercado internacional”, opina, acrescentando na lista de objetivos a necessidade de se criar projetos diferenciados. Para o presidente do Sinduscon, a indústria da construção segue forte, principalmente, se levando em conta o cenário atual. “As empresas estão mais preparadas para atuar em um ambiente com maior dificuldade e seguimos confiantes com o rumo do setor em 2022”, prevê Teitelbaum.

Otimismo com a indústria química

O presidente do Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do RS (Sindiquim-RS), Newton Battastini, lembrou que o setor já estava acostumado com o uso de máscaras e demais equipamentos de proteção individual (EPIs) e que, proporcionalmente, houve mais casos de Covid-19 em departamentos administrativos do que na produção de fato. Apesar da pandemia, a indústria química teve bastante demanda durante todo o período até aqui.

“O mercado se mostrou aquecido, tanto na área de tintas, pois a construção civil esteve forte, quanto nos defensivos, como inseticidas. Os cosméticos tiveram destaque. As pessoas estão voltando a acreditar e indo para o mercado, fazendo com a nossa indústria tenha uma estabilidade mais positiva”, contou Battastini.

Entre as dificuldades, o presidente do Sindiquim elenca o aumento no preço de suprimentos. “Todos dependemos das embalagens, mas os valores seguem subindo. Dependemos do exterior para obter as matérias-primas, a maior parte dos insumos vêm da Índia, Alemanha ou da China. Mas, estamos otimistas, mesmo com a inflação”, observa. Battastini acredita que, se houver uma redução no preço do gás, é possível que a indústria química volte a fazer investimentos dentro do Brasil. “Por exemplo, 80% dos fertilizantes ou 90% dos defensivos vêm do mercado externo. Mas se vier essa reforma tributária, com uma segurança jurídica, investidores voltarão a investir aqui”, acrescenta.

O dirigente ressalta que o setor “agrega muito valor e é um dos que mais emprega no país”. “Temos que investir cada vez mais nas cadeias da nossa indústria pois resulta em um retorno social. A química está em tudo em que a gente tem e usa no dia a dia. Sem a química não existiria qualquer outra empresa”, diz o presidente do Simdiquim-RS.


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