Em dia de alta, dólar fecha em R$ 5,12 com temor de coronavírus

Em dia de alta, dólar fecha em R$ 5,12 com temor de coronavírus

Ibovespa cai 1,86%, aos 115.822,57 pontos com ruído político doméstico

AE

Moeda norte-americana operou a segunda-feira todo em alta

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O dólar operou o dia todo em alta, mas teve dois momentos distintos. Pela manhã, chegou a subir mais de 2% e a bater em R$ 5,22, com o temor dos efeitos econômicos da nova variação do coronavírus no Reino Unidos, enquanto vários países fecharam seus aeroportos aos britânicos e Londres decretou um novo lockdown. Pela tarde, a moeda norte-americana desacelerou os ganhos, com mínimas a R$ 5,11, com os investidores mais animados com os acertos finais para a aprovação de um pacote fiscal nos Estados Unidos, além de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter minimizado os efeitos da nova variação do vírus na eficácia das vacinas, destacando que os medicamentos já são feitos prevendo estas ocorrências.

No fechamento, o dólar à vista terminou em alta de 0,78%, cotado em R$ 5,1228. No mercado futuro, o dólar para janeiro fechou em alta de 0,32%, em R$ 5,1170.

O dólar já abriu o dia em forte alta ante o real, enquanto o DXY, índice que mede o comportamento da moeda americana ante divisas fortes, superou os 91 pontos, no nível mais alto desde o dia 9. O novo lockdown na Inglaterra e vários países fechando aeroportos para o Reino Unido lembrou os piores momentos do início da pandemia, levando os investidores a procurarem ativos considerados portos seguros, destaca o analista sênior de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo. O iene japonês e o franco suíço também subiram forte, enquanto as moedas de emergentes perderam valor e as bolsas despencaram.

Nos negócios da tarde, as declarações da OMS e a perspectiva de acerto para o pacote fiscal americano, de US$ 900 bilhões, que deve ser votado ainda hoje em Washington, por volta das 22h (de Brasília), ajudaram a reduzir o temor dos participantes dos mercados. O DXY desacelerou a alta para perto de 90 pontos, ameaçando perder o patamar, como na semana passando, quando caiu a 89 pontos, na mínima desde abril de 2018. O dólar também perdeu força ante moedas emergentes, zerando a alta no México.

"O pacote de estímulo é uma razão a mais para otimismo com 2021", afirma o economista da Capital Economics, Paul Ashworth, em nota. Ele elevou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA para o ano que vem de 5% para 5,5% por conta do acerto final para o pacote.

O novo pacote de estímulo americano deve despejar ainda mais liquidez nos mercados, o que contribui, junto com outras medidas extraordinárias fiscais e monetárias nos países desenvolvidos, para manter um ambiente de busca por risco, que pode levar o dólar a cair abaixo de R$ 5,00 no final do primeiro semestre de 2021, prevê o banco francês Crédit Agricole. Apesar dos problemas fiscais e estruturais do Brasil colocarem um teto para a melhora do real e do Ibovespa, a instituição vê chance de a busca por risco fazer o real se valorizar mais um pouco. O dólar deve chegar ao final do primeiro trimestre a R$ 5,00 e a R$ 4,75 ao final do segundo período do ano que vem.

Ibovespa

A segunda-feira foi de aversão ao risco no exterior e também no Brasil, devido à descoberta de uma mutação de maior potencial de transmissão do novo coronavírus. Com isso, o Índice Bovespa chegou a cair mais de 3.200 pontos, logo depois da abertura. À tarde, manifestação da Organização Mundial da Saúde (OMS) conteve os ânimos dos investidores, que puderam analisar com maior clareza os entendimentos nos Estados Unidos para aprovação do pacote de estímulos de US$ 900 bilhões. No cenário doméstico, em contrapartida, os ruídos políticos deram contribuição negativa na última hora de negócios. Assim, o índice fechou em queda de 1,86%, aos 115.822,57 pontos.

Assim como ocorreu em outras ocasiões de estresse por conta da Covid-19, as ações de empresas aéreas e de turismo estiveram entre as que mais sofreram. Da mesma forma, a queda dos preços do petróleo atingiu em cheio as ações da Petrobras, que perderam mais de 3%. Já a alta superior a 7% do minério de ferro na China amenizou a pressão vendedora sobre ações da Vale e de siderúrgicas. Ao final do dia, Gol PN foi a maior queda do índice (-4,77%), seguida por Embraer ON (-4,58%).

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou no período da tarde que não há indícios de que as variantes de coronavírus identificadas no Reino Unido e na África do Sul causem doença mais severa. "Vírus mudam o tempo todo, isso é normal", comentou, se referindo às mutações.

Para Regis Chinchila, gerente de renda variável da Terra Investimentos, as falas da OMS fizeram o mercado melhorar, com a percepção de que as vacinas continuam eficazes. "Mas a cautela permanece, porque os investidores ainda não conseguem medir o impacto na economia da Inglaterra com novo lockdown", afirmou.

E o cenário político doméstico, que esteve em segundo plano durante todo o dia, deu sua contribuição na última hora de negócios, reforçando o sinal negativo da Bolsa. Isso porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discutiu com o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), e se negou a retirar da pauta uma proposta que aumenta os repasses da União para municípios. A medida eleva em 1% as transferências da União para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

"É uma notícia ruim para o governo e gerou algum desconforto no final dos negócios, levando o Ibovespa a voltar ao patamar dos 115 mil pontos. Mas as bolsas de Nova Iorque, que persistiram como principal referência dos negócios hoje, também mostraram piora nesse período", descreveu um operador.

Juros

A pressão vinda do exterior que estressou o mercado de juros na primeira etapa perdeu força e as taxas zeraram a alta no fechamento regular, alinhadas à melhora nos ativos em Wall Street. A despeito da ameaça de uma nova onda de lockdowns pela Europa, os mercados conseguiram algum respiro após explicações técnicas de autoridades de saúde em relação à mutação do coronavírus que se espalha a partir do Reino Unido, segundo as quais a nova cepa não compromete a eficácia das vacinas em desenvolvimento. Com isso, houve enfim espaço para uma reação positiva ao acordo para o pacote fiscal nos EUA, que deve ser votado ainda hoje. Na sessão estendida, porém, retomavam o viés de alta após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocar para votação proposta que aumenta repasses da União para municípios, que pode retirar mais R$ 4 bilhões do caixa do Tesouro Nacional por ano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 2,97% e a estendida em 2,96%, de 2,97% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2023 também, na regular, ficou no mesmo patamar do ajuste anterior, a 4,42%, fechando a estendida em 4,41%. O DI para janeiro de 2025 terminou a regular em 5,92%, estável ante o ajuste anterior, e subiu a 5,94% na estendida. A do DI para janeiro de 2027 fechou a regular em 6,69%, de 6,703% no ajuste, e a estendida em 6,72%.

Os juros acompanharam a tendência dos mercados lá fora durante toda a sessão. O clima internacional foi de cautela, imposta pelas informações de que a mutação do coronavírus tem potencial de transmissão 70% maior do que o tipo que assolou o mundo na primeira onda da pandemia. No meio da tarde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descartou impactos da variante sobre a produção de vacinas contra a covid-19. "Vacinas já são produzidas visando uma ampla variedade de mutações", destacou o diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da entidade, Mark Ryan.

"Estas explicações mais técnicas deram uma aliviada nos mercados", afirmou o trader de renda fixa da Sicredi Asset, Danilo Alencar, lembrando que hoje, no pico do estresse, o DI para janeiro de 2027 voltou aos 6,88% atingidos na máxima de sexta-feira em meio aos ruídos políticos envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

André Alírio, operador de juros da Nova Futura, explica que o começo do dia foi pesado com temores de fechamento da Europa em função da segunda onda, mas depois houve redução da alta das taxas. "Pode ser uma correção técnica intraday, são duas semanas, esta e a próxima, muito curtas, o que pode chamar algum ajuste", disse. Ele não descarta, porém que na semana que vem haja uma nova melhora em função do tradicional "embelezamento de carteiras" tradicionalmente promovido pelos fundos em final de períodos.

A perspectiva de aprovação do pacote nos EUA, no valor de US$ 900 bilhões, após acordo ontem entre republicanos e democratas, reforça, na avaliação de Alencar, a percepção de que a curva de juros não tem como abrir muito, ao menos enquanto houver confiança na manutenção do teto de gastos. "Custo a ver 'trigger' para mudar tendência de apetite ao risco pelo mundo. Esse pacote representa mais dinheiro na economia que terá de ser remunerado de alguma forma. Devemos continuar vendo inflação nos ativos", explicou.

Ele destaca que a curva local ainda é muito inclinada, com as taxas longas pagando juros de 7%. "É atrativo para os gringos, ainda mais com o câmbio desvalorizado", acrescentou. Nesse contexto, o Tesouro viu espaço para adicionar mais um vencimento de NTN-F, papel mais longo da dívida pública e com grande interesse dos investidores não-residentes. Na sexta-feira à noite, a instituição divulgou calendário dos leilões do primeiro trimestre de 2021. Além de NTN-F para 2027 e 2031, já ofertadas ao longo deste ano, serão ainda emitidos papéis para 2029.

Na agenda do dia, arrecadação somou R$ 140,101 bilhões em novembro, um aumento real de 7,31% na comparação com o mesmo mês de 2019 e em relação a outubro, houve recuo de 9,79%. O resultado veio pouco acima da mediana de R$ 137,80 bilhões, e não chegou a fazer preço. Carlos Lopes, economista do Banco BV, afirma que, apesar da retomada, "não são dados um pouco melhores de arrecadação que vão solucionar a questão fiscal" do País. O economista acredita que caberá ao governo federal a responsabilidade de levantar "receitas expressivas para tentar abater a dívida" pública, processo que deve se dar principalmente por meio de privatizações e concessões.


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