Em novo dia de alta, dólar fecha a R$ 5,44

Em novo dia de alta, dólar fecha a R$ 5,44

Com exterior negativo, Bolsa terminou em baixa de 0,96%, aos 119.198,97 pontos

AE

No acumulado do ano, houve forte crescimento no fluxo cambial total

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O dólar teve novo dia de alta no Brasil. Nem mesmo o forte fluxo externo tem conseguindo conter a piora do real. Dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que já entraram US$ 5,5 bilhões no país este ano, pelo comércio e canal financeiro, mas o dólar sobe quase 5%, o pior desempenho dos emergentes. Nesta quinta-feira, o exterior negativo, em meio a dados ruins dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, e a retomada dos debates em Brasília sobre o auxílio emergencial fizeram a moeda norte-americana bater em R$ 5,45 na máxima do dia.

No fechamento, o dólar à vista subiu 0,48%, a R$ 5,4410. No mercado futuro, o dólar para março teve alta de 0,24%, cotado em R$ 5,4290.

Com várias ofertas de ações e aportes para a B3, o fluxo externo em fevereiro é positivo em US$ 3,9 bilhões pelo canal financeiro. No acumulado do ano, houve forte crescimento no fluxo cambial total, de mais de três vezes na comparação com o mesmo período de 2020, quando entraram US$ 1,5 bilhão. Mas o real segue pressionado, mesmo na comparação com moedas de economias mais vulneráveis, como África do Sul e Turquia.

Hoje em Brasília, o governo e o Congresso retomaram as discussões sobre o auxílio emergencial, em dia marcado também por alta do dólar na maioria dos emergentes, após a inesperada alta nos pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA, para 861 mil na semana encerrada no dia 13, a segunda semana de elevação.

Em Brasília, após almoço com o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) confirmou que o relatório da PEC Emergencial será apresentado entre hoje e segunda-feira, incluindo uma cláusula de "orçamento de guerra" para a retomada dos pagamentos do auxílio.

Para o economista do Wells Fargo, Brendan McKenna, não é possível afastar neste momento o risco de o teto de gastos ser colocado de lado em meio às tentativas do governo de dar mais estímulo fiscal no Brasil. Em um cenário de manutenção do teto e disciplina fiscal, ele acredita que o real pode ter algum fortalecimento nos próximos 6 a 9 meses, na medida em que a economia mundial ganha fôlego com a vacinação e os fluxos de capital devem seguir aportando nos emergentes. A trajetória das contas públicas é fator crucial para os rumos do câmbio no Brasil, comenta McKenna.

O diretor financeiro (CIO) do banco suíço Julius Baer, Yves Bonzon, ressalta que a preocupação dos investidores com o Brasil diminuiria mesmo com a recriação do auxílio emergencial, mas desde que o governo consiga dar um empurrão na agenda de reformas. Assim, a aprovação das medidas ofuscaria o aumento temporário de gastos públicos, ressalta ele, em nota.

Ibovespa

Com moderada realização de lucros em Nova Iorque após recentes máximas, o Ibovespa interrompeu hoje série de três ganhos ao fechar em baixa de 0,96%, aos 119.198,97 pontos, em sessão na qual voltaram a predominar preocupações sobre a situação fiscal doméstica, em meio ao encaminhamento da retomada do auxílio emergencial, o que contribuiu para levar o dólar a R$ 5,4530 na máxima do dia. Na B3, o índice de referência oscilou entre mínima de 118.514,98 e máxima de 120.845,47, com abertura a 120.360,70 pontos. Na semana, as perdas estão em 0,19%, colocando os ganhos do mês a 3,59% e limitando os do ano a 0,15%. Reforçado, o giro foi de R$ 40,6 bilhões na sessão.

"A retomada nos rendimentos dos títulos globais começa a preocupar investidores. Apesar do firme compromisso do Fed de que a política monetária permanecerá favorável, e (perspectiva) de gastos fiscais adicionais no governo Biden, as ações nos EUA estão prontas para uma retração se os rendimentos (dos títulos) continuarem subindo. Outra rodada de dados econômicos mistos confirma o que sabemos: a recuperação econômica está desequilibrada", observa em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova Iorque.

Nos Estados Unidos, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego atingiram máxima de quatro semanas, a 861 mil na leitura divulgada nesta quinta-feira, bem acima da estimativa de consenso para o período, de 773 mil, superando também a anterior, revisada para cima a 848 mil. Questionada hoje sobre o temor de disparada da inflação com a possível aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que os dados sobre emprego reforçam a necessidade do estímulo.

Em outro desdobramento, o epidemiologista Anthony Fauci, principal assessor médico da Casa Branca, avaliou que a sociedade americana deve voltar a ter algum grau de normalidade apenas por volta do Natal - e que tal previsão está sujeita a riscos, entre os quais a disseminação de variantes mais contagiosas do coronavírus.

Assim, mesmo com sinais de que a massificação da vacina nos EUA tem contribuído para deter a pandemia no país, a sensação é de que ainda se está a uma certa distância da normalização e que a massiva concessão de estímulos ao redor do mundo cobrará preço, mais cedo ou mais tarde, na forma de elevado endividamento público e de inflação, após anos de variações inferiores às metas perseguidas pelos principais bancos centrais - e sem que a economia mostre, até agora, resposta compatível com o grau de estímulo.

Neste contexto, as vulnerabilidades fiscais brasileiras, acentuadas pela necessidade de retomada do auxílio emergencial, ficam mais evidentes, transmitindo-se diretamente ao câmbio e ao fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa - o qual tem se mantido favorável desde novembro, embora com menos fôlego em fevereiro, positivo a R$ 2,649 bilhões no mês e a R$ 26,206 bilhões em 2021.

Nesta quinta-feira de ajuste negativo nos preços do petróleo, Petrobras PN e ON fecharam respectivamente em baixa de 1,08% e 0,84%, com Vale ON no campo positivo, em alta de 1,09% no encerramento, em dia no qual, após o longo feriado do Ano Novo Lunar, o minério de ferro teve avanço de 4,9% em Qingdao e de 7,1% em Dalian, na China. As siderúrgicas fecharam sem direção única na sessão, com destaque para alta de 1,12% em CSN ON, sexto maior ganho do Ibovespa na sessão - na ponta do índice, JHSF (+3,78%), Carrefour (+2,33%), Suzano (+2,28%), PetroRio (+1,49%) e Klabin (+1,47%). Os bancos cederam terreno, tendo Santander (-1,46%) e Bradesco ON (-1,35%) à frente. Entre as maiores perdas do Ibovespa nesta quinta-feira, destaque para Minerva (-4,37%), B2W (-3,91%) e TIM (-3,67%).

Juros

A retomada das discussões em torno do auxílio emergencial deu algum alívio para a curva de juros, mas limitado pelo comportamento negativo do câmbio e manutenção da pressão sobre o rendimento dos Treasuries. As taxas locais encerraram de lado, com viés de baixa nos vencimentos longos, estancando a sequência de três altas consecutivas até ontem, quando a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) elevou a cautela sobre um possível travamento da agenda econômica no Congresso. Por isso, a informação de que a PEC Emergencial, que vai tratar do benefício, será pautada na próxima semana, com relatório sendo apresentado até segunda-feira, abriu espaço para alguma devolução de prêmios. O leilão do Tesouro foi parecido com o anterior e não chegou a adicionar pressão sobre a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,40% (regular) e 3,405% (estendida), de 3,422% ontem no ajuste e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 5,06% (regular) e 5,04% (estendida), de 5,06% ontem. A do DI para janeiro de 2025 ficou em 6,63% (regular) e 6,58% (estendida), de 6,63% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 7,30% para 7,27% (regular) e 7,23% (estendida).

Adauto Lima, estrategista da Western Asset, atribuiu o desempenho dos DIs hoje a uma correção do que acredita ter sido um exagero ontem, assegurada pela melhora da perspectiva para o auxílio emergencial. "A curva já está muito pressionada, é preciso algo mais concreto e negativo para novas altas", disse.

Numa tentativa de demonstrar consenso sobre a importância da agenda econômica, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniram em almoço nesta quinta. "Tratamos do encaminhamento do auxílio emergencial e de uma contrapartida, não como condição, mas de uma sinalização de que o Congresso tem responsabilidade fiscal", afirmou Pacheco, após o fim do encontro, por volta das 14 horas. Segundo o presidente do Senado, o relatório da PEC do senador Marcio Bittar (MDB-AC) sai até segunda e a proposta será pautada na Casa na próxima semana.

"Os juros futuros sugerem que a prisão do deputado foi vista como fonte de incerteza (veja a volatilidade), mas sobrepujada pelas notícias sobre possível encaminhamento de alguma PEC na próxima semana", afirma Banco Fator, em relatório elaborado pelo economista-chefe José Francisco Lima Gonçalves. Destaca, porém, que "o prejuízo do evento com o STF ainda não está definido: no tamanho e no destino".

No exterior, a escalada recente dos yields dos Treasuries merece atenção, em meio ao debate sobre possível retorno das pressões inflacionárias. Nesta quinta, as taxas americanas voltaram a subir mesmo com a divulgação de dados mais fracos da economia dos EUA. Segundo Lima, da Western, no geral os indicadores têm surpreendido positivamente o que, somado ao ritmo rápido de vacinação contra a covid nos Estados Unidos, traz dúvidas sobre a necessidade de um pacote fiscal tão robusto e, num horizonte mais distante, o quanto a política do Federal Reserve seguirá acomodatícia.


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