Ibovespa sobe 1,27% com apetite externo por risco e acordo de cessão onerosa

Ibovespa sobe 1,27% com apetite externo por risco e acordo de cessão onerosa

Com reunião EUA-China se aproximando, moeda americana encerra o dia em alta, a R$ 4,10

AE

Índice da B3 fechou aos 101.248,78 pontos

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A combinação de um ambiente externo de apetite por risco com diminuição das tensões políticas domésticas abriu espaço para uma recuperação do Ibovespa na sessão desta quarta-feira. Depois de dois pregões de quedas pesadas, que resultaram na terça na perda da marca psicológica dos 100 mil pontos, o principal índice da B3 fechou em alta de 1,27%, aos 101.248,78 pontos, impulsionado por valorização expressiva de papéis da Petrobras e dos bancos. A despeito do avanço desta quarta, o Ibovespa ainda amarga perda de 3,34% em outubro.

No exterior, sinais de que a China está disposta a buscar um acordo parcial com os Estados Unidos desfizeram o mal-estar provocado na terça pela restrição do governo americano a vistos de autoridades chinesas e amenizaram os temores de fracasso na retomada das negociações comerciais a partir desta quinta. Circularam informações extraoficiais de que os chineses vão propor comprar mais de 10 milhões de toneladas de soja dos EUA por ano, em um aceno para evitar novo aumento de tarifas americanas sobre bens do gigante asiático.

Por aqui, a leitura é a de que o entendimento de parlamentares em torno da partilha de recursos do leilão da cessão onerosa vai evitar novo atraso na votação final da reforma da Previdência no Senado. A expectativa é de que o projeto de lei sobre o tema seja votado ainda nesta quarta-feira na Câmara dos Deputados.

"Os ventos positivos externos impulsionaram o Ibovespa. E por aqui o cenário político não atrapalhou, depois de dias de muito ruído. Hoje, com a agenda no Congresso andando, o mercado ficou mais confiante", afirma Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, lembrando que, além da perspectiva de votação ainda nesta quarta do projeto da cessão onerosa, os parlamentares aprovaram nesta tarde o texto base da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020.

Segundo operadores, o aumento das chances de que a votação do segundo turno da reforma da Previdência no Senado seja realmente no dia 22 sobrepujou as preocupações com eventual problema na articulação política por conta dos atritos entre Jair Bolsonaro e o PSL, cujo desenlace pode ser a saída do presidente do partido.

O gerente da mesa de renda variável da H.Commcor, Ariovaldo Ferreira, alerta que a alta não pode ser interpretada como o início de uma recuperação mais forte do Ibovespa, que deve continuar rodando, no curto prazo, em um intervalo entre 100 mil e 105 mil pontos. "O mercado vinha acumulado perdas pesadas nos últimos dias e hoje se ajustou ao ambiente melhor lá fora. Mas ainda faltam notícias positivas sobre a economia brasileira para que o índice ande de forma consistente", diz Ferreira.

A perspectiva de mais cortes da taxa Selic após deflação de -0,04 do IPCA em setembro até traz um alento para setores ligados diretamente ao crédito, mas não chancela a expectativa de um aceleração do ritmo de crescimento do PIB. Entre os índices setoriais da B3, os destaques de alta foram, não por acaso, o IFinanceiro (2,14%) e o Índice Imobiliário (1,32%).

Entre as blue chips, as maiores altas foram de papéis dos bancos, justamente os que mais sofreram na temporada recente de perdas. A ação PN do Itaú subiu 1,59%, mas ainda acumula queda de 5,15% em outubro. Também subiram com força ações ON do Banco do Brasil (2,77%), units do Santander (3,30%) e PN do Bradesco (2,85%). Outro destaque foram as ações da Petrobras (PN subiu 1,92% e ON, 2,52%), na esteira do acordo sobre a cessão onerosa.

Dólar

O dólar chegou a cair para R$ 4,07 no início dos negócios desta quarta-feira, mas o movimento perdeu fôlego e a moeda americana subiu à tarde, com os agentes recompondo posições em dólar. Os investidores aguardam a reunião, que começa nesta quinta-feira, entre o primeiro escalão do governo chinês com o americano, em Washington. O volume de negócios no mercado de câmbio ficou bem abaixo da média, com os agentes evitando fazer apostas mais firmes antes do final do encontro. O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,27%, a R$ 4,1028.

Também contribuiu para pressionar o mercado de câmbio a divulgação do IPCA de setembro, com deflação de 0,04%, a menor taxa para o mês em 20 anos. O número alimentou apostas de corte mais intenso de juros pelo Banco Central, o que reduziria ainda mais o diferencial das taxas do Brasil com os países desenvolvidos, tornando o país menos atrativos para o capital externo.

O economista para América Latina da consultoria Capital Economics, William Jackson, avalia que não só a taxa deve ser cortada em 0,50 ponto na reunião de política monetária deste mês, mas os juros no Brasil devem permanecer historicamente baixos ao longo de todo 2020, por conta da inflação sem dar sinais de aceleração. O já baixo diferencial de juros tem afugentado estrangeiros.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o dólar não deve cair abaixo de R$ 4,00 por enquanto. Nesta quarta e nos últimos dias, as atenções estiveram voltadas para o exterior, com a reunião entre China e EUA, e as discussões no Congresso. Para ele, sem tramitação mais rápida no Congresso de medidas que melhorem a economia, o estrangeiro não vai voltar ao Brasil, ainda mais em um ambiente de juros pouco atrativos.

No exterior, o dólar operou estável em relação a divisas fortes e misto nos emergentes, mesmo em dia de maior apetite por risco. Pela manhã, as mesas de operação se animaram com a notícia de que ao menos um acordo parcial poderia sair das negociações em Washington a partir desta quinta-feira. Informações de que Pequim poderia comprar mais soja dos EUA também animaram. No final da tarde, Donald Trump disse que o acordo não pode ser "50-50", tem que ser melhor para os EUA. Apesar do noticiário positivo, os analistas do grupo financeiro ING avaliam que há poucas evidências de que os dois lados estejam dispostos a mudar de posição o suficiente para romper o impasse atual e alcançar um acordo.

Taxas de juros

A deflação de 0,04% do IPCA de setembro não estava na conta de boa parte do mercado financeiro e provocou um forte ajuste no mercado de juros nesta quarta-feira, influenciado ainda pela melhora do aumento do apetite pelo risco no exterior e pela movimentação em Brasília em torno das reformas. As taxas já caíam pela manhã e renovaram mínimas à tarde, na medida em que as instituições passaram a revisar suas previsões para o IPCA de 2019 e, em alguns casos para 2020, ampliando as apostas de corte da Selic. A curva a termo já projeta 100% de possibilidade de queda de 0,5 ponto porcentual da Selic em outubro e taxa básica de 4,48% ao término do processo de afrouxamento monetário no começo de 2020, segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos.

A quarta-feira teve volume exuberante nos negócios com juros na B3, especialmente na ponta curta, onde se concentram as apostas para a política monetária nos próximos meses. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou com taxa de 4,954%, de 4,980% na terça no ajuste. A taxa do DI para janeiro encerrou em 4,71% (mínima), de 4,818%. A do DI para janeiro de 2023 fechou na mínima de 5,83%, de 5,971%, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou a 6,48% (mínima), de 6,611%.

O IPCA de -0,04% em setembro - menor taxa para o mês desde 1998 - ficou no piso das estimativas do mercado e trouxe preços de abertura surpreendentemente benignos, em especial os núcleos. Em 12 meses até setembro, a inflação acumulada é de 2,89%, perto do piso da meta, de 2,75%. Depois da divulgação do índice, cresceram as expectativas de que a inflação de 2019 pode ficar perto, ou até abaixo, de 3%, e de que a Selic chegará a 4,5% no fim do ciclo. De 37 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast, pelo menos 27 reduziram as expectativas para o IPCA este ano após a leitura de setembro. Para 2019, a mediana ficou em 3,30%, mas há quem espere até 2,90%, caso da Kapitalo.

"Como o crescimento permanece fraco e a inflação bem abaixo da meta, aumentam os riscos de que o Banco Central corte a Selic além da nossa previsão de 4,75% para o final do ano", alerta o Bank of America Merrill Lynch, em relatório.

Os juros longos também fecharam em baixa, favorecidos pelo bom humor dos mercados internacionais, por sua vez amparados na expectativa de evolução do acordo entre a China e os Estados Unidos. Pelo lado político, a percepção de que as reformas estão andando em Brasília também deu alívio, apesar das divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o PSL, que indicam que o presidente deverá deixar o partido. Depois do fechamento na terça do acordo sobre a divisão de recursos da cessão onerosa, a expectativa é de que o projeto de lei sobre o tema seja votado ainda nesta quarta na Câmara. O acordo era essencial para destravar o andamento da reforma da Previdência no Senado.


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