Influenciado pelo mercado exterior, dólar fecha o dia em R$ 5,68

Influenciado pelo mercado exterior, dólar fecha o dia em R$ 5,68

Bolsa terminou em alta de 0,71%, aos 81.319,45 pontos, com exterior e petróleo

AE

Moeda norte-americana fechou em queda de 1,17%

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Influenciado pelo mercado externo, o dólar voltou a cair e fechou a quarta-feira no menor nível desde 5 de maio, quando terminou em R$ 5,59. O petróleo subiu forte nos Estados Unidos e Londres e ajudou a estimular a alta das bolsas ao redor do mundo, beneficiando também as moedas de emergentes. No mercado doméstico, profissionais de câmbio dizem que a queda hoje poderia ser ainda maior, não fosse o ambiente político no pano de fundo, com cautela sobre a possível divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril e depoimento na tarde de hoje do empresário Paulo Marinho na Polícia Federal do Rio.

Com o petróleo subindo ao redor de 5% - por conta de um compromisso da China com a Opep em trabalharem juntos para ajudar a estabilizar o mercado mundial da commodity - o dólar chegou a cair mais em países produtores do óleo. No México, recuou quase 3% e na Rússia cedeu 2%. No Brasil, o dólar à vista fechou em queda de 1,17%, a R$ 5,6890. A moeda americana não fechava abaixo de R$ 5,70 desde 5 de maio. No mercado futuro, o dólar para junho era negociado na casa dos R$ 5,69 no final da tarde de hoje.

A diretora em Nova Iorque de estratégias de moedas da BK Asset Management, Kathy Lien, avalia que há uma sensação no mercado de que o pior da crise do coronavírus pode já ter ficado para trás, o que estimula a busca por ativos de risco, ajudando a enfraquecer o dólar globalmente. O petróleo em alta, países e mais estados americanos reabrindo atividades e bons resultados trimestrais das varejistas americanas Target e Lowe's contribuem para aumentar o otimismo dos agentes. Por isso, o dólar teve queda generalizada hoje, ante divisas fortes e emergentes.

Havia expectativa pela divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) nesta tarde. Mas o documento não trouxe maiores novidades em relação às declarações recentes do BC americano, mostrando preocupação com uma segunda onda de coronavírus e o mercado de trabalho americano, e teve impacto limitado nos mercados.

No Brasil, apesar da melhora do real esta semana, com o dólar acumulando queda de 2,70% em movimento guiado pelo setor externo, o economista-chefe da consultoria Capital Economics para mercados emergentes, William Jackson, avalia que a tendência é da moeda brasileira seguir enfraquecida no curto prazo. Eventual aumento do ruído político, por exemplo, causado pelo início da abertura de processo de impeachment contra Jair Bolsonaro, pode levar o dólar a rapidamente testar níveis acima de R$ 6,00.

A Capital Economics elevou a estimativa do dólar ao final de 2020 de R$ 4,70 para R$ 5,25. A consultoria hoje revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e agora espera queda de 8% este ano, refletindo o efeito da disseminação mais rápida do coronavírus, que tem obrigado os governos estaduais a manterem a quarentena por mais tempo.

Ibovespa

Em dia positivo no exterior, com o petróleo e os mercados de ações em alta nos EUA e na Europa, o Ibovespa retomou a linha de 81 mil pontos nesta quarta-feira, após a moderada correção do dia anterior, quando havia cedido 0,56% no fechamento. Hoje, o principal índice da B3 encerrou o dia em alta de 0,71%, aos 81.319,45 pontos, ampliando os ganhos da semana a 4,85% e os do mês a 1,01%.

O início da semana foi promissor, com o Ibovespa tendo avançado na segunda-feira 4,69%, o maior ganho diário desde 6 de abril, atingindo, anteontem como agora, o maior nível de fechamento desde 29 de abril (83.170,80 pontos). No ano, o índice cede agora 29,68%. O giro financeiro da sessão de hoje totalizou R$ 22,6 bilhões, com o Ibovespa oscilando entre mínima de 80.739,61 e máxima de 82.290,49 pontos - o maior nível intradia desde 30 de abril, quando saiu de 83.169,34 pontos naquela abertura.

Nesta quarta-feira, os ganhos foram relativamente bem distribuídos entre commodities (Vale +0,11%), siderurgia (Usiminas +4,55%) e bancos (BB +2,51%), com destaque para as companhias aéreas Azul (+12,31%) e Gol (+8,84%), na ponta positiva do Ibovespa, após terem sido as duas que mais haviam caído ontem, enquanto as ações de varejo, por sua vez, entre as de melhor desempenho no dia anterior, cederam hoje terreno, realizando lucros, com Lojas Americanas em baixa de 3,49% e B2W, de 3,94%.

Empresas de setores que vinham surfando no dólar alto, como Suzano (-3,62%), Minerva (-3,24%) e Marfrig (-3,12%), também estiveram na ponta negativa do dia, com o dólar spot em baixa de 1,17%, a R$ 5,6890, acumulando até aqui perda de 2,57% na semana, mas ainda avançando 4,60% no mês.

Com o petróleo Brent para julho em alta de 3,17%, ou US$ 1,10, a US$ 35,75 por barril no fechamento da ICE, Petrobras PN e ON fecharam respectivamente em alta de 3,32% e 3,01%, em dia no qual a companhia anunciou aumento de 12% nos preços para as distribuidoras a partir de amanhã, na terceira elevação de maio, acompanhando a recuperação das cotações internacionais. O compromisso da China de trabalhar em conjunto com a Opep para estabilizar o mercado de petróleo estimulou os preços da commodity nesta sessão.

"Há dois aspectos importantes: este movimento em direção aos 81 mil pontos, após o índice ter permanecido bom tempo na faixa de 75 mil a 80 mil pontos, e a recuperação de ações arriscadas, que acumularam grandes perdas, como as de aéreas e turismo, refletindo maior apetite do investidor", diz Matheus Soares, analista da Rico Investimentos. "Esta baixa observada nos últimos dias no dólar, aqui, pode já estar refletindo algum fluxo de entrada, na medida em que a Bolsa ficou muito barata para o estrangeiro", acrescenta.

Juros

Os juros futuros reduziram o ritmo de avanço e terminaram a sessão regular perto dos ajustes de terça-feira, mas preservando um viés de alta em alguns contratos. As taxas subiram durante a quarta-feira, 20, em função de um movimento de realização de lucros após fecharem em baixa nos dois últimos dias. No entanto, o ajuste perdeu força com a desmontagem de posições de proteção que haviam sido feitas com base na possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) publicar hoje sua decisão sobre a divulgação do vídeo da reunião ministerial de Jair Bolsonaro, o que ainda não ocorreu. O retorno do dólar para baixo de R$ 5,70 também contribuiu para tirar pressão da curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou em 2,545%, de 2,523% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2022 passou de 3,391% para 3,42%. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou estável em 7,61%.

O aumento das taxas foi modesto e novamente se deu num ambiente de liquidez fraca, com os investidores receosos sobre o risco fiscal e de olho no noticiário político, dando conta de nova baixa no governo e pesquisa de avaliação negativa para o presidente. A ata do Federal Reserve, destaque da agenda da quarta-feira, não chegou a ter impacto na curva doméstica.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que a falta de prêmio na curva está inibindo a montagem de posições, em meio à perspectiva negativa para o cenário fiscal, quadro político conturbado e aumento no ritmo de mortes e contágio do coronavírus no Brasil. "Quando não se vê prêmio para lado nenhum, não dá para fazer muita coisa. O call agora é não ficar vendido, mas também não dá para ficar comprado. O risco fiscal não pode ser mensurado agora, só mais para frente. É uma posição que terá de ser montada pouco a pouco", disse.

Relatório da Renascença DTVM lista uma série de razões que trazem desconforto ao players, começando pelo vídeo da reunião ministerial. "Informações dão conta de que a tendência é de que Celso de Mello divulgue na íntegra o vídeo", diz o texto. Segundo o Estadão/Broadcast Político apurou, o decano do STF, ministro Celso de Mello, ficou incrédulo com o que viu e fontes que acompanham o caso avaliam que a tendência do ministro é atender ao pedido do ex-ministro Sérgio Moro e levantar o sigilo da íntegra.

A corretora incluiu ainda no rol "a continuidade do implacável avanço da Covid-19 no país" e o "aceno de Paulo Guedes de que o atual auxílio emergencial poderá ser prorrogado". Essa possibilidade foi discutida na terça pelo ministro da Economia em videoconferência com cerca de 30 empresários do setor de serviços. Ainda no radar está o depoimento do empresário Paulo Marinho à superintendência da Polícia Federal no Rio, no qual deve apresentar provas sobre as acusações que fez contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).


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