Mesmo com cautela nos mercados externos, dólar tem novo dia de queda e fecha em R$ 5,32

Mesmo com cautela nos mercados externos, dólar tem novo dia de queda e fecha em R$ 5,32

Com fluxo, Bolsa emendou o terceiro ganho, em alta de 0,32%, aos 110.132,53 pontos

AE

Dólar encerrou a quarta-feira com uma queda de 1,03%

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O dólar teve novo dia de queda ante o real, mesmo com a cautela observada nos mercados externos. Profissionais das mesas de câmbio relataram mais entradas de capital externo no Brasil, com o País aproveitando o apetite geral por risco de emergentes, mesmo com o risco fiscal em alta. Dados do Banco Central mostram que, somente este mês, já entraram US$ 5,6 bilhões para os mercados de Bolsa e renda fixa, o que ajuda o dólar a acumular queda de 7,3%. Se novembro terminasse hoje, seria o maior recuo mensal em dois anos.

No fechamento desta quarta-feira, o dólar à vista encerrou em queda de 1,03%, a R$ 5,3202. No mercado futuro, o dólar para dezembro, que vence na próxima segunda-feira, fechou com recuo de 0,92%, a R$ 5,3245. O volume de negócios foi melhor que ontem, mas seguiu abaixo da média, ficando em US$ 10 bilhões. Amanhã, com feriado nos EUA e na sexta-feira, com os mercados encerrando mais cedo em Nova Iorque, a perspectiva é de giro de negócios ainda mais fraco.

"O quadro global é positivo para o risco. Estamos em um mundo mais favorável do ponto de vista econômico", disse o diretor da gestora SPX Capital Rogério Xavier em evento virtual hoje. Nesse ambiente, o dinheiro tem voltado para os mercados emergentes, mas o Brasil tem seus próprios problemas. Mesmo assim, ele considera que o governo tem chance de aproveitar esse cenário externo mais favorável e tentar encaminhar uma solução para os problemas fiscais, que colocaram o País "à beira do abismo", mesmo termo usado pelo banco americano JPMorgan para descrever a situação do País.

"Nada tem sido feito e senso de urgência parece não existir no Brasil", disse Xavier, falando que o governo tem falado muito, mas feito quase nada. "O Brasil tem seus problemas idiossincráticos e o câmbio é a variável de ajuste", disse ele. Dependendo de como se avalia, o real pode não estar barato, argumentou. Mas com a situação fiscal deteriorada, Xavier destaca que não vê vantagem em ficar comprado no real ante o dólar.

O diretor e sócio-fundador da gestora Kapitalo, Carlos Woelz, afirma que o governo precisa apresentar um cronograma de medidas para enfrentar o problema fiscal e reduzir a incerteza dos agentes. Por enquanto, disse ele no mesmo evento que Xavier, da Empiricus e Vitreo, o governo só tem usado a retórica. "Paulo Guedes não para de falar, nunca vi tanto nas últimas semanas. Não adianta nada Guedes comunicar várias vezes para dizer a mesma coisa. Ao invés de falar de cabotagem, é preciso falar da trajetória da dívida." Woelz avalia que o câmbio está barato no Brasil, ao mesmo tempo em que os brasileiros descobriram a diversificação de investimentos no exterior.

Ibovespa

Após ter passado boa parte da sessão bem perto da estabilidade, oscilando entre leves ganhos e perdas, o Ibovespa conseguiu se firmar em terreno positivo em meados da tarde, endereçando a terceira alta consecutiva, desta vez de 0,32%, aos 110.132,53 pontos, renovando assim o melhor nível de fechamento desde 21 de fevereiro, então acima dos 113 mil. Pouco antes das 15h, o Ibovespa se descolou do dia misto em Nova Iorque, na véspera do feriado de Ação de Graças nos EUA, para se firmar na casa de 110 mil, nas máximas desta quarta-feira, 25, de poucas novidades para os negócios.

Na máxima de hoje, o Ibovespa foi aos 110.595,81 pontos, melhor nível intradia desde 26 de fevereiro, enquanto Wall Street seguia no negativo. Ao final, Dow Jones mostrava perda de 0,58%, após ter tocado e superado os 30 mil pontos pela primeira vez no dia anterior, com S&P 500 também em baixa no fechamento desta quarta-feira, de 0,16% - Nasdaq avançou 0,48%. Na semana, o Ibovespa sobe 3,86% e, no mês, 17,22%, limitando a perda do ano a 4,77%. Na mínima, o índice foi hoje aos 109.315,21, saindo de abertura aos 109.786,37 pontos.

Nos EUA, "uma enxurrada de dados confirma quadro misto para a economia: os pedidos de auxílio-desemprego estão aumentando e os dados de bens duráveis melhoram, enquanto o consumo pessoal é revisado para baixo e os números do comércio decepcionam", aponta em nota Edward Moya, analista de mercado da OANDA em Nova Iorque. Por outro lado, as indicações do presidente eleito, Joe Biden, para o futuro gabinete de governo têm confortado o mercado, com a expectativa de que 2021 venha a ser melhor na economia e no enfrentamento da pandemia, ainda fora de controle nos Estados Unidos.

Na B3, o giro financeiro desta véspera de feriado americano foi de R$ 31,5 bilhões, abaixo do dia anterior (R$ 36,9 bilhões), mas acima do observado na sexta (20) e na segunda-feira (23). Os investidores estrangeiros voltaram a registrar aporte positivo no pregão da segunda-feira, 23, quando ingressaram com R$ 698,062 milhões no mercado acionário à vista, segundo dados da B3. Naquele dia, o Ibovespa fechou em alta de 1,26%, a 107.378,92 pontos e giro financeiro de R$ 28,5 bilhões, sustentado pelo desempenho positivo das ações ligadas ao mercado de commodities e exportação, como Petrobras e Vale. No mês, o ingresso líquido de recursos estrangeiros chega agora a R$ 26,7 bilhões.

"O fluxo estrangeiro se concentra nas grandes blue chips - Petrobras, Vale e bancos - e o que temos visto em novembro, com fluxo estrangeiro como há muito tempo não se via, é uma recuperação do Ibovespa a partir dessas ações. Em movimento de proteção, o doméstico vem junto, em rotação de carteira, usando como 'funding' ações de setores que andaram melhor na pandemia, como o de comércio eletrônico, em direção às que ficaram para trás nesse período e que se recuperam agora com o interesse estrangeiro", observa Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset.

No mês, Petrobras ON e PN sobem respectivamente 40,32% e 38,60%, com Vale ON em alta de 24,69% (esta ampliando os ganhos do ano a 47,14%), enquanto as ações de bancos avançam entre 19,19% (BB ON) e 26,71% (Santander), com perdas no ano ainda entre 13,31% (Santander) e 30,99% (Banco do Brasil). Em 2020, Petrobras PN ainda acumula perda de 13,02% e a ON, de 15,85%.

"Desde a eleição americana, o Brasil tem se beneficiado desta migração de recursos para emergentes e também deste 'trade' das ações da 'pandemia' para as da 'reabertura' da economia. É um movimento global: não à toa, o Brent, um ativo associado à mobilidade e à retomada da atividade, é o grande destaque de recuperação, acima de metais e 'soft' commodities", acrescenta o gestor.

Nesta quarta-feira, destaque para Vale ON (+0,94%) e para alguns nomes da siderurgia, como CSN (+2,52%) e Usiminas (+7,05%, segunda maior alta do Ibovespa na sessão). As ações da Petrobras tiveram desempenho misto (PN +0,11% e ON -0,67%), enquanto as de bancos cederam terreno, à exceção de Santander (+0,30%). Na ponta do Ibovespa, CVC fechou em alta de 9,79%, à frente de Usiminas e de PetroRio (+5,96%). No lado oposto, Cogna cedeu 2,79%, Ambev, 1,76%, e Yduqs, 1,73%.

Juros

O otimismo que impulsionou a Bolsa e o real nesta quarta-feira chegou diluído ao mercado de juros. As taxas estiveram em queda durante toda a sessão, alimentada pelo apetite ao risco por ativos emergentes - que jogou o dólar para R$ 5,30 nas mínimas -, mas sem alterações no nível de inclinação da curva, que segue bastante elevado. O roteiro se manteve o mesmo dos últimos dias, com a falta de solução para os problemas fiscais em razão de questões políticas segurando uma melhora consistente da curva, em meio a índices de inflação pressionados, mas vistos pelo Banco Central como algo "temporário" e que não deve resultar num aperto monetário no curto prazo. Além disso, profissionais lembram que hoje é véspera de leilão do Tesouro, o que costuma limitar a exposição ao risco.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular em 3,35% e a estendida em 3,34%, de 3,146% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 5,236% para 5,14% (regular) e 5,12% (regular). Os vencimentos janeiro de 2025 e janeiro de 2027 terminaram a etapa regular com taxas de 6,93% e 7,68%, de 7,005% e 7,764% ontem, e a estendida em 6,94% e 7,68%.

Cassio Andrade Xavier, gestor de renda fixa da Sicredi Asset, afirma que o forte fluxo de estrangeiros que tem chegado na Bolsa responde de forma diferente na renda fixa, dado que a inflação em alta corrobora a ideia de curva ainda mais inclinada. A sinalização do Banco Central é de que esse movimento de preços por ora não ameaça o foward guidance, segundo o qual a política monetária seguirá acomodatícia por um bom período. "O recuo das taxas hoje poderia ser melhor se não fosse a questão fiscal, que precisa ser endereçada com urgência, e o leilão amanhã", disse.

O JPMorgan diz que o forte aumento de gasto público no Brasil contra os efeitos da pandemia coloca o País "à beira do abismo", com a curva doméstica sendo a mais inclinada entre 19 mercados emergentes monitorados por seus analistas. No fechamento da sexta-feira (20), a inclinação medida pela diferença entre a taxa do contrato de 10 anos e a mais curta (três meses) chegou a 5,89 pontos porcentuais, superando a então campeã mundial de inclinação de curva, a África do Sul (5,46 pontos).

O problema fiscal tem sido tema recorrente nas várias lives, não só com economistas do mercado, mas também nas apresentações de integrantes da equipe econômica. Hoje, num evento sobre cooperativismo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertou que é preciso "plano que dê clara percepção que Brasil se preocupa com dívida" e que "conquistar credibilidade é ponto-chave para o Brasil". Sobre a inflação, disse que itens de curto prazo "tendem a se esvaziar" e que parte da pressão vem do câmbio, na parte de commodities, mas que já há queda em itens como soja e milho por exemplo.


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