Pressionado por crise sanitária chinesa, Banco Central pode cortar Selic a 4,25%

Pressionado por crise sanitária chinesa, Banco Central pode cortar Selic a 4,25%

Esse seria o menor patamar histórico da taxa básica de juros

AFP

Caso ocorra, essa será a quinta redução consecutiva da taxa básica de juros, que acontece de forma consecutiva desde julho de 2019

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Uma série de analistas preveem que o Banco Central (BC) reduzirá em 0,25 ponto percentual a Selic na próxima quarta-feira, atingindo o menor patamar histórico da taxa básica de juros. Atualmente fixada em 4,5%, o novo corte pode levar a taxa a mínima de 4,25%, justificada pela inflação controlada e o crescimento econômico comprometido por causa da crise sanitária na China, conforme estimado pelo último Boletim Focus, publicado na última sexta-feira. Caso ocorra, essa será a quinta redução consecutiva da taxa básica de juros, que acontece de forma consecutiva desde julho de 2019, quando a Selic estava em 6,5%.

No entanto, nem todos os analistas concordam com o novo corte de juros. "Os que projetam os cortes nos juros estão justificando o risco de uma desaceleração muito forte da China", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. "Seria prematuro fazer isso agora. O BC poderia deixar a taxa inalterada até ter uma melhor percepção da economia neste ano e do cenário internacional. Agora seria um tiro no pé", acrescenta.

A semi-paralisação da economia chinesa por causa da epidemia do novo coronavírus deve afetar o país, que exporta para o gigante asiático principalmente commodities e petróleo. Grandes empresas brasileiras, como a Petrobras, registraram desde o início do ano queda de mais de 6% na Ibovespa, assim como a Vale, que também perdeu cerca de 4% na bolsa de São Paulo. "A expectativa é de corte", mesmo que seja uma decisão arriscada, porque "ainda não sentimos os efeitos dos cortes anteriores", avalia Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.

Além disso, "o ciclo de recuperação da economia chinesa pode ser muito intenso", apresentando uma forte demanda por commodities, acrescenta Vieira. Essa hipótese está presente nos cálculos dos analistas, principalmente depois de o governo chinês anunciar que iria injetar uma quantidade maciça de fundos para blindar o impacto da epidemia na economia daquele país. O banco suíço UBS reduziu a sua projeção do PIB brasileiro de 2,5% para 2,1%, embora tenha aumentado a expectativa do indicador de 2,5% para 2,8% no próximo ano, alta justificada pela possível recuperação chinesa e consequente reaquecimento das exportações brasileiras.

Inflação sob controle

Antes do surgimento da epidemia, o Ministério da Economia tinha projetado um crescimento de 2,4% para este ano, o dobro do estimado para o último ano, cujo resultado definitivo do PIB será divulgado em março. A expectativa se apoiava na confiança de que as medidas de estímulo ao mercado do governo Bolsonaro repercutissem em novos investimentos. Porém, os investimentos continuam em espera. Segundo dados oficiais divulgados na terça-feira pelo IBGE, a produção industrial brasileira recuou 1,1% em 2019, depois de dois anos de crescimento.

Esse pode ser um indicador que influencie um possível novo corte de juros pelo Banco Central. O Banco Central fechou o último ano com alta de 4,31% no IPCA, levemente acima da meta inflacionária oficial de 4,25%. A alta foi influenciada principalmente pelo grupo de Alimentação e Bebidas. Esses preços, no entanto, retrocederam em janeiro, diminuindo as preocupações para o cumprimento da meta deste ano, definida em 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para 2020, as projeções inflacionárias baixaram de 3,60% da última semana para 3,40% nesta semana, segundo o Boletim Focus. A preocupação, no entanto, se mantém no PIB, que há três anos registra um crescimento de apenas 1%.

 

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