Comissão de deputados vê MEC omisso na pandemia

Comissão de deputados vê MEC omisso na pandemia

Relatório mostra que programa de conectividade teve menos da metade da verba em 2020 do que tinha em 2019

AE

MEC voltou atrás na decisão de retomar as atividades presenciais

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Em um ano de pandemia, o Ministério da Educação (MEC) reduziu recursos para ajudar o ensino remoto e também preparar escolas para a volta presencial. Relatório da comissão de deputados que acompanha o trabalho da pasta, ao qual o Estadão teve acesso, mostra que o programa de conectividade do MEC teve menos da metade da verba em 2020 do que tinha em 2019. E o programa de investimentos em infraestrutura de escolas, que precisavam de ajuda para reformar banheiros, salas ou comprar álcool em gel, perdeu R$ 1,6 bilhão.

"É impressionante a negligência com a pandemia. Em um momento de crise geral, perderemos dois anos de educação para nossos estudantes", diz o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES), coordenador da Coalizão Parlamentar de Acompanhamento do MEC. É o 3.º relatório do grupo, que inclui ainda parlamentares como Tabata Amaral (PDT-SP), Luísa Canziani (PTB-PR) e Professor Israel Batista (PV-DF). "Não está tendo muita polêmica porque não é (ex-ministro Abraham) Weintraub, mas a incompetência é a mesma", diz Rigoni.

Milton Ribeiro, atual ministro, é o terceiro a ocupar a pasta na gestão Jair Bolsonaro. Embates entre grupos técnicos, militares e ideológicos são frequentes desde o início da gestão. Segundo o relatório da comissão de acompanhamento, só 37,8% dos ocupantes de cargos estratégicos no MEC já tiveram experiência com educação. Até o governo Michel Temer, eram quase 70%.

Além disso, houve alta de 600% no total de militares no ministério desde 2019. Na semana passada, a secretária da Educação Básica do MEC, Izabel Lima Pessoa, uma das poucas de perfil técnico, pediu demissão. "A confusão política do governo Bolsonaro se reflete no MEC, é um microcosmo do bolsonarismo com suas facções", diz o Professor Israel Batista.

Como revelou o Estadão, uma das metas na educação este ano é aprovar o homeschooling (educação domiciliar) no País, pauta de grupos religiosos. O MEC também tem tirado funções que são oficialmente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) porque os técnicos não concordam com mudanças em avaliações. "O governo precisa animar sua base ideológica e vai usar o MEC para isso", completa o deputado.

O grupo ligado a Olavo de Carvalho dentro do ministério ainda pretende fazer uma nova avaliação de alfabetização, com foco no método fônico de alfabetização, e está contratando consultores de fora, quando o Inep tem servidores aptos para o trabalho. E o estudo para reformular o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) também foi tirado do Inep.

"É uma medida perigosa, capaz de descaracterizar a finalidade do indicador - atualmente o principal instrumento de avaliação da qualidade da educação básica no Brasil", diz o relatório, já que não há técnicos na secretaria executiva, para onde o estudo foi redirecionado, especializados em avaliação.

Com relação ao orçamento, o relatório conclui que houve "queda abrupta e inexplicável do fluxo dos recursos federais em diferentes áreas da educação, em um ano em que o orçamento federal da educação deveria ser revisto para dar conta dos novos desafios, como conectividade dos estudantes e implementação dos protocolos de biossegurança".

Segundo o Censo Escolar, mais de 4 mil escolas não têm banheiro no País e 17 mil não possuem internet banda larga. Mesmo assim, com a pandemia em curso, houve redução de 60% nas verbas para infraestrutura nas escolas. Bolsonaro ainda vetou este mês projeto aprovado no Congresso que destinava recursos para internet para alunos pobres e professores de escolas públicas.

Procurado ontem, o MEC não se manifestou sobre as avaliações da comissão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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