Escolas discutem saúde mental em Porto Alegre

Escolas discutem saúde mental em Porto Alegre

Casos de violência e suicídio dentro de instituições tornaram assunto urgente

Correio do Povo

Casos de violência e suicídio dentro de instituições tornaram assunto urgente

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Promover a saúde mental de crianças e adolescentes, por meio de projetos e de acompanhamento psicológico, é uma preocupação, cada vez mais constante, das escolas. A disseminação de jogos que incentivam jovens a cometerem atos perigosos e a abordagem do tema em séries de televisão ampliaram o debate desde o ano passado. Além disso, casos recentes de suicídio de estudantes, como em São Paulo, trouxeram, novamente, o assunto à tona.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas, no mundo todo, morrem devido ao suicídio e 78% dos casos ocorrem em países de baixa ou média renda. Em 2015, o suicídio foi a segunda causa de morte mais frequente entre pessoas de 15 a 29 anos. E, mundialmente, entre 10% e 20% das crianças e adolescentes têm algum transtorno mental. 

Diante desse contexto, o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), Bruno Eizerik, argumentou que é necessário que as escolas, em parceria com as famílias, trabalhem a valorização da vida e estejam atentas aos comportamentos dos alunos.

“Na idade escolar, os jovens estão passando por uma fase de transformação. Então, pequenas situações podem causar grande impacto. Por isso, é importante que se trabalhe com calma e tranquilidade para não causar mais problemas para os estudantes”, explica. Bruno lembra que a Educação socioemocional está prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas ressalta que muitas escolas já vêm trabalhando o tema, de forma direta ou indireta.

Segundo ele, uma das formas de discutir o assunto é por meio de questões tangenciais, do cotidiano dos estudantes, e que podem afetá-los emocionalmente.

Projetos

No Colégio Dom Bosco, na Capital, o projeto “Vivência de Grupo”, realizado nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, permite aos professores trabalharem essas questões a partir de situações que identificam entre os alunos. O projeto visa desenvolver a consciência coletiva da turma, discutindo temas como bullying, projeto de vida e autoestima. “Esse trabalho é fundamental na escola, pois, por mais que também seja responsabilidade da família, existem coisas que os alunos só manifestam nas aulas, então os professores precisam estar atentos para ajudar”, avaliou o coordenador da ação escolar, Gilson Cardoso.

Já a Rede Adventista de Educação realiza dinâmicas em sala de aula e palestras em auditórios para debater o assunto. Os alunos também trabalham com um livro, que aborda temas como ansiedade, depressão e estresse, que possui versão em quadrinhos, com linguagem infantojuvenil. Além disso, no dia 26 de maio, três unidades da rede participaram de feiras de saúde, nos parques Germânia e Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Os estudantes realizaram apresentações musicais e distribuições de livros e de materiais informativos sobre o assunto.

Bullying e questões familiares podem ser fatores agravantes 

A psicóloga Simone Fernandes, especialista em gestão educacional, reforça a importância da prevenção da autolesão e do suicídio, desde a escola, uma vez que, nessa fase de desenvolvimento, muitas crianças e adolescentes ainda têm dificuldade de expressar emoções negativas.

Ela defende que, ainda que se tenha ampliado o debate sobre o assunto, os jovens podem ter acesso a informações equivocadas, de forma que os educadores têm papel importante de proporcionar esclarecimentos. Assim, para prevenir situações mais graves, a psicóloga recomenda que as escolas realizem capacitação com os professores, para que possam identificar casos entre os estudantes e saibam como agir nessas situações.

A partir do trabalho que realiza em instituições de ensino, Simone relata ter percebido, nos últimos anos, um aumento nos sintomas e diagnósticos de depressão e ansiedade entre alunos. Segundo a especialista, um dos principais fatores que podem influenciar a saúde mental nessa idade é a falta de afeto com a família, resultando em sentimentos de solidão, que também podem estar presentes no ambiente escolar. Além disso, outro fator bastante presente é o bullying, que pode ser difícil de identificar devido ao silêncio de jovens que têm esse problema.

A questão foi o principal tema debatido no Seminário Interativo de Bullying, realizado, neste mês, na Câmara Municipal de Porto Alegre. O coordenador do Programa de Depressão na Infância e na Adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Christian Kieling, presente no evento, abordou a relação da violência entre colegas com a prevenção a atos violentos e mortes, lembrando que esses comportamentos podem afetar todos os grupos sociais e econômicos.

“O suicídio é muito maior do que o ato em si, pois há grande número de tentativas, autolesões, planos e ideações, além dos casos não registrados”, revela Christian. Já a psicóloga Carmem Oliveira, pesquisadora na área de violência infantil, ressalta a importância da prevenção entre adolescentes, em razão da sua dificuldade em lidar com fatores do cotidiano. “O suicídio é associado a transtornos mentais, mas eles também são acompanhados de agravantes, incluindo o próprio bullying”, assinala.

Além dos fatores individuais, Carmem argumenta que algumas áreas da psicologia também compreendem o comportamento suicida a partir de problemas sociais. “Hoje em dia, temos um consumismo exacerbado e uma insaciabilidade, sem espaço para tristeza ou falhas”, afirma. Em sua avaliação, as exigências da escola também podem contribuir para esse pensamento, a partir do foco no acesso às universidades, por exemplo. E existem, ainda, as redes sociais, de acordo com a pesquisadora.

“Por um lado, existe uma socialização, no entanto, por outro, há uma grande promoção de si mesmo, que pode resultar em inveja e em frustração consigo mesmo, por estar aquém daqueles padrões”, considera a psicóloga.



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