Ônibus é solução para "nó" da mobilidade urbana

Ônibus é solução para "nó" da mobilidade urbana

BRT tem se mostrado viável na melhoria do transporte público

Mauren Xavier

Ônibus é solução para nó da mobilidade

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Quem se desloca pelas grandes cidades praticamente está acostumado a enfrentar congestionamentos. O "nó" da mobilidade urbana é evidente. O volume de veículos nas ruas é incompatível com as vias disponíveis. Ao mesmo tempo, as intervenções realizadas na infraestrutura para escoar esse fluxo ocorrem numa velocidade quase similar ao trânsito: lenta. Neste panorama, alguns especialistas acreditam que a solução para desatar o nó é a promoção do transporte coletivo, em outras palavras, os ônibus. Porém, depois de uma década de estímulos à aquisição dos carros próprios e o status atribuído, como fazer para que o motorista se torne passageiro?

Segundo o coordenador do Programa de Engenharia em Transporte (PET) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio D’Agosto, parte da solução é oferecer um transporte público de qualidade, mas principalmente, oferecer rapidez. Mesmo assim, o professor reconhece ser um desafio a longo prazo. Há uma questão comportamental forte, uma vez que ter o seu carro é demonstração de status. Ao mesmo tempo, para atrair o passageiro o ônibus precisa oferecer vantagens. Uma delas é economia de tempo. “Se a viagem de ônibus for mais rápida, que é a proposta do BRT (Bus Rapid Transit), é possível atrair o passageiro”, considera o coordenador.

Apesar do ritmo lento das obras em algumas cidades, o BRT é um projeto que tem se mostrado viável na melhoria do transporte público. Os ônibus têm capacidade de passageiros maior e, por utilizarem faixas exclusivas, andam bem mais rápido. “O raciocínio é simples. Uma pessoa dentro de um carro ocupa mais espaço e gera maior impacto ao meio ambiente do que dezenas compartilhando um ônibus”, explica. E o debate se mostra cada vez mais urgente. Recente pesquisa da Associação Nacional de Transporte Público apontou que 19,7% da população usa carro ou moto para se deslocar, enquanto que 18,7% usam ônibus. “Estamos seguindo para uma situação insustentável”, ressalta, citando como consequência problemas de poluição, saúde, acidentes e estresse.

Segundo a Associação Nacional de Empresas de Transporte Urbano (NTU), no Brasil há 33 cidades investindo em projetos de BRT, totalizando 94 iniciativas. Ao todo, serão 1.150 quilômetros de linhas deste modelo. Em Porto Alegre, os projetos ainda estão longe da efetivação. Inicialmente foram incluídos na matriz da Copa do Mundo de 2014. Porém, o prazo não foi cumprido e o projeto segue numa velocidade menor que a esperada. Na cidade, das três linhas, duas estão com a conclusão prevista para dezembro deste ano (Protásio Alves e Bento Gonçalves) e a da João Pessoa tem previsão de término só em junho de 2016. As obras envolvem o piso, que teve o asfalto retirado para a colocação das placas de concreto. Depois disso, ainda é necessário fazer as estações específicas.

O sistema BRT provocará mudança na organização das linhas. Os trajetos serão remanejados, reduzindo o número de ônibus que vêm até o Centro. Os passageiros vão embarcar em uma das três linhas e, ao descer nos terminais, poderão pegar os ônibus que circulam dentro dos bairros.

Dois modelos para a Capital

Diante da conclusão do processo de licitação do transporte púbico, a Scania projeta para 2016 firmar contratos para comercialização de chassi de ônibus para as vencedoras do processo. As negociações já estão avançadas, afirmou o diretor de vendas de ônibus da Scania no Brasil, Silvio Munhoz. “Os detalhes em torno do edital e a conclusão efetiva do processo seguraram um pouco as negociações”, afirmou Munhoz. O resultado da licitação foi homologado e as empresas deverão começar a operar no novo modelo em abril de 2016.

“As operadoras estão fazendo as adaptações e em breve vão ter que adquirir novos veículos e estamos neste processo juntos. As negociações estão avançadas em alguns casos e esperamos vendas para o ano que vem”, explicou Jeferson Crispim Peres, da unidade de vendas no Brasil. Dois modelos de chassis são destaques para a Capital. O ônibus com 15 metros de comprimento é considerado um dos principais. Ele tem capacidade para transportar 130 passageiros. Outro modelo considerado interessante para o perfil do transporte público é o articulado com 18 metros, tendo capacidade para 160 passageiros. 

Capacidade: 200 pessoas

Dentro do debate sobre os desafios da mobilidade urbana, a Scania apresentou em outubro o ônibus biarticulado F 360 HA. Destinado aos corredores do modelo BRT pelas suas características, o veículo tem 28 metros de comprimento e capacidade para transportar 270 pessoas.

O modelo tem condições de contribuir para qualificar o transporte de passageiros e melhorar a mobilidade urbana nos grandes centros. “Esse tipo de veículo vai circular apenas nas cidades com alto fluxo de passageiros superior a 800 mil por dia”, disse o diretor de vendas de ônibus da Scania no Brasil, Silvio Munhoz.

O impacto no fluxo de trânsito com o ônibus é grande, uma vez que lotado, é capaz de retirar 135 carros com duas pessoas, que é considerado o padrão de ocupação. Outro diferencial é que pelo tamanho maior das portas o desembarque e embarque são mais rápidos, garantindo agilidade.

Além do chassi, a empresa passa a disponibilizar uma solução completa conforme o perfil da operação. Na prática, oferecerá aos clientes a carroceria dos ônibus, serviços de manutenção dos veículos, consultoria dos modelos mais aconselháveis pelo sistema operante naquela cidade e financiamento para aquisição.

Emissões e impacto ambiental

Um aspecto essencial no debate sobre a mobilidade urbana é o impacto ambiental dos veículos. Enquanto que um carro emite um volume alto de gases, com utilização de gasolina, os ônibus também, uma vez que a maioria é movida a diesel. O avanço das pesquisas têm aberto uma série de alternativas de combustíveis sustentáveis. Um deles é o etanol, que oferece 90% menos emissões do que o diesel, segundo estudo da Scania.

Um modelo diferenciado que entra no mercado nacional é o biometano/GNV (gás natural veicular). Neste ano, a Scania realizou testes com o primeiro ônibus movido com este combustível no país. Os testes realizados pela Netz Engenharia Automotiva mostraram que o custo por quilômetro do GNV foi 28% menor ao comparado com o veículo movido a diesel. Esse tipo de combustível já é utilizado na Europa e tem resultados reconhecidos. No caso do biometano, as emissões são 85% menores, e com GNV, chega a 70%. 

Ao longo de um ano foram realizadas oito demonstrações de veículos abastecidos com o biometano e o GNV. Na prática, esse tipo de combustível tem a base orgânica, que pode ser gerado por meio de dejetos. No caso do ônibus biometano/GNV, há a combinação desses dois combustíveis ou o uso de apenas um deles. A solução apresentada pela Scania surge em um momento importante, uma vez que houve a regulamentação do biometano neste ano.


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