5 de junho, um dia para refletir sobre o futuro do meio ambiente

5 de junho, um dia para refletir sobre o futuro do meio ambiente

Pandemia trouxe outros impactos para debate no Dia Mundial do Meio Ambiente

Christian Bueller

No Dia Mundial do Meio Ambiente se discute a relação das pessoas com os recursos naturais

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Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento e meio ambiente humano, conhecida como Conferência de Estocolmo, 113 países se reuniram para tratar dos problemas ambientais do planeta. Na ocasião, foi criado o Dia Mundial do Meio Ambiente e, desde então, se discute a relação das pessoas com os recursos naturais e o quanto muitas ações do homem prejudicam o futuro da preservação da sustentabilidade. Aliado a isso, fenômenos como a pandemia da Covid-19 trouxeram ainda outros impactos que, neste dia 5, trazem mais debates sobre a assunto à tona.

Especialista em Análise de Impactos Ambientais, o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez, ressalta que a data não é para comemoração e, sim, de reafirmação da luta pela causa. “A entidade fez 50 anos e nunca vimos tanto retrocesso. E, pior, quando o mundo clama e praticamente todos os seres humanos dizem que o meio ambiente é um fator importante. O mundo parando de usar carvão, por exemplo, e nós seguindo no sentido contrário”, opinou. 

O educador ambiental e biólogo lembrou as mudanças climáticas recentes e a diminuição drástica no volume de chuvas como pontos de atenção e critica ações do governo federal na área. “É um momento de tristeza, de vergonha internacional e tem que ser debatido”, reitera, reprovando as mudanças na Lei do Agrotóxico propostas pelo governo estadual, que permite o registro e utilização de agrotóxicos no Brasil que não são permitidos no país de origem.

Para o promotor de Justiça, Daniel Martini, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do RS, concorda que o dia 5 de junho deve servir como reflexão. “Passamos pela mais grave crise de proteção ao meio ambiente, são retrocessos legislativos muito sérios, são se trata de uma apreciação política e perpassam governos, porque ocorrem desde 2012, da aprovação do Código Florestal Brasileiro”, reitera. 

Foto: Alina Souza

Segundo ele, há, ainda, uma crise institucional que contribui com o atual momento. “Importantes instituições que detêm o poder de controle e polícia ambiental estão, ou sendo extintos, esvaziados com recursos contingenciados, ou manipulados ideologicamente”.

Martini lista, uma terceira crise que envolve o meio ambiente atualmente, a ética. “Já que toda a sociedade está incumbida de preservar o meio ambiente, não pode se esquivar desta responsabilidade. Quando um cidadão adota padrões insustentáveis de consumo, favorecem a degradação da qualidade ambiental”, frisa o promotor. “Somos ambientalistas até o momento em que isso afete ao nosso bolso”, completa.

Para ele, tanto a produção quanto o consumo precisam seguir tendências sustentáveis para que possa haver uma reversão no cenário. “Se o consumidor for responsável pode induzir novas práticas no sistema econômico”, explana.

O secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura RS, Luiz Henrique Viana, reconhece que os desafios na área são muitos. “É uma data para refletir. O meio ambiente é nossa casa comum, como citou o Papa Francisco. Dessa relação nem sempre harmônica do homem com a natureza, ele tem se preocupado demasiadamente consigo mesmo”, salienta.

Foto: Alina Souza

Mesmo que este comportamento torne o ser humano “predador da vida”, Viana acredita que a sociedade seja “capaz de encontrar os meios de harmonizar-se com seu ambiente em que vive” e que a secretaria “tem sido parceria nessa reflexão”. “Não podemos pretender crescer a qualquer custo. Temos que cuidar de nós mesmos e do ambiente que nos dá condições de viver”, reitera.

Da mesma forma, pensa Marjorie Kauffmann, presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental. “Precisamos refletir que não há mais espaço para pensarmos de uma forma rasa em meio ambiente. Sabemos que nossas ações dependem de um meio ambiente equilibrado”, ponderou. 

O otimismo também faz parte da fala do secretário do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) de Porto Alegre, Germano Bremm. Para ele, a população da Capital percebeu a necessidade de voltar os olhares em direção da sustentabilidade.

“Sou positivo e enxergo uma mudança de paradigma, um processo que já acontecia de forma natural há alguns anos. As empresas têm se preocupado com a pauta da sustentabilidade, que reflete na pauta econômica. A pandemia acelerou isso, as pessoas, reclusas, dão mais importância às áreas verdes e a melhor qualidade de vida. É o conceito do que é a cidade do futuro”, pontuou. 

A cidade promoverá algumas ações durante a 37ª Semana Mundial do Meio Ambiente. “Temos 684 praças urbanizadas, nove parques urbanos, quatro unidades de conservação, um lago natural incomparável. Esse patrimônio nos diferencia das demais capitais. Precisamos cuidar mais das nossas áreas verdes, valorizar esse potencial e viver em harmonia”, reflete Bremm.

Impactos da pandemia 

Um estudo da revista científica Nature Communications mostrou que a pandemia teve grande impacto na redução da poluição atmosférica. Segundo cálculos dos pesquisadores, houve uma queda de 8,8% nas emissões de dióxido de carbono (CO2) na primeira metade do ano em comparação com igual período de 2019. A redução é maior do que a registrada em crises econômicas anteriores ou na Segunda Guerra Mundial.

Foto: Alina Souza

Por outro lado, o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) 2020 apontou que O Brasil gera, por dia, cerca de 200 mil toneladas de resíduos sólidos. Do total, ao menos 35 mil toneladas terminam nos mais de 2,6 mil lixões existentes no país.

Uso Correto da água 

Outro impacto da pandemia foi o consumo de água, potencializado pelo grande número de pessoas que precisou ficar em casa para evitar a propagação do coronavírus. Conforme a diretora de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Corsan, Liliani Cafruni, a companhia criou o projeto Juntos em Casa, que prepara atividades lúdicas para que as crianças que estão em casa possam aprender mais sobre o uso consciente da água e a importância dela para a saúde. “Elas aprendem sobre como lavar as mãos, já que é tão importante a higienização”, lembra.

Liliani cita, entre outros projetos da Corsan na área, o programa especial de pagamento por serviços ambientais, que gera entre seus benefícios a melhoria na qualidade e disponibilidade das águas e a redução de insumos no tratamento e na geração e destinação de lodos. “Temos que ter cuidados com os mananciais e nascentes, não só onde ocorre a captação direta”, explica. Ela também lembra a criação do aplicativo H2OJE. “Investimos na educação ambiental. Essa é uma plataforma onde os professores podem dar aulas sobre o uso consciente da água”, acrescenta.

A diretora acredita que a compreensão sobre atenção ao meio ambiente é mais nítida atualmente do que para gerações anteriores. “As pessoas são mais críticas e têm mais informação. O nosso papel qualificar nossos funcionários para acompanhar essa mudança. As crianças fazem cada vez mais perguntas durante as ações da Corsan, interessadas”, relembra.

Consciência Ambiental 

Desde 2019, o grupo pioneiro na fabricação de celulose e papel no Chile, CMPC assumiu um compromisso público de reduzir 50% de suas emissões de gases de efeito estufa, diminuir em 25% o uso de água em seus processos industriais e, até 2025, ser uma companhia com zero resíduo em aterros sanitários. Segundo o diretor-geral, Mauricio Harger, falta muito pouco para a planta industrial da CMPC em Guaíba, na região metropolitana, ser zero resíduo. 

Atualmente os resíduos gerados na unidade são levados para o Hub CMPC de Economia Circular, um espaço de 99 hectares, localizado em Eldorado do Sul, que recicla 99,8% dos resíduos sólidos, que são transformados em insumo para 15 novos produtos. “Além dos significativos ganhos ambientais, esse projeto proporciona um impacto social importante ao gerar cerca de 168 empregos e uma renda anual de cerca de R$ 12 milhões”, relata o diretor.

Foto: Alina Souza

Além desses compromissos, a CMPC também investe em outras frentes a fim de colaborar com a restauração do ecossistema brasileiro. Entre elas, é a manutenção de uma área de 192 mil hectares preservados em plantios de eucalipto, responsável por neutralizar toneladas de emissão de CO2, tornando a empresa em carbono neutra. Há, ainda, uma logística por hidrovia que evita a emissão de CO2 de até 100 mil viagens de caminhão por ano. 

Toda a água é aproveitada do Guaíba, tratada e devolvida em melhores índices de qualidade possíveis. Outra iniciativa é o controle de indicadores das emissões sonoras (ruído), odoríferas (odor) e de particulado (poeira) para evitar potenciais incômodos das operações nas comunidades vizinhas. 

A CMPC trabalha, também, na recuperação de florestas e paisagens nativas até 2030, por meio da restauração e conservação de novos 100 mil hectares, que serão somados aos 325 mil hectares já conservados nos países onde possui operação. No Brasil, por exemplo, a CMPC preserva 192 mil hectares no Rio Grande do Sul. Somente de áreas degradadas para os biomas Pampa e Mata Atlântica, foram recuperados mais de 38 mil hectares nos últimos três anos.


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