Adoção de animais domésticos diminui com relação ao ano passado

Adoção de animais domésticos diminui com relação ao ano passado

Estimativa da Secretaria do Meio Ambiente é de uma redução de 22,48%

Taís Teixeira

Resgates chegaram a aumentar, mas abandonos também

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A adoção de animais domésticos, em especial gatos e cachorros, deve ser menor em 2020 do que no ano anterior. Até outubro, segundo dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam) 77 animais ganharam um novo lar. O veterinário e gestor da Diretoria Geral de Direitos Animais (DGDA) da Smam, Bruno Wagner da Silva, prevê que as adoções efetivadas via secretaria em 2020 devem fechar em torno de 100, número 22,48% inferior na comparação com o total de 129 adoções concluídas em 2019.

O veterinário destaca que todos animais são entregues castrados, vacinados e microchipados. Ele acrescenta que mensurar abandono é difícil,  mas enfatiza que o recolhimento é seletivo. “Temos espaço para acomodar bem 80 animais e buscamos quando estão em situação de maus tratos e extrema vulnerabilidade”, explica. O diretor salienta que, neste ano, houve um aumento de resgate na Vila Nazaré, em Porto Alegre. Silva não acredita que a pandemia do novo coronavírus tenha reduzido o interesse dos tutores de animais. “A procura sempre varia muito”, explica e lembra que também é preciso considerar a quantidade de animais disponíveis”, completa.

Já a presidente da Associação Riograndense de Proteção aos Animais (ARPA), Eliane Tavares, entende que a pandemia contribuiu para aumentar os casos de abandonos. “Avalio que subiu em torno de 60% em relação ao ano anterior”, compara. A dirigente afirma que no começo da pandemia, de março a maio, houve um incremento nas adoções, movimento que ela atribui como uma consequência do distanciamento social. “Como as pessoas estavam sozinhas, houve um encantamento pela adoção”, esclarece.

Em contrapartida, Eliane compreende que ao perceberem as responsabilidades que se tem com um animal, há um “desencantamento” por parte do dono. “Muitas pessoas estão ou ficaram desempregadas, e para diminuir as despesas acabam abandonando os animais”, avalia. Ela diz que há mais cachorros resgatados do que gatos, o que não significa que haja menos felinos na situação de rua. “Os gatos caçam e ficam escondidos, ao contrário dos  cachorros, que são mais dependentes, o que deixa mais visível o abandono”, ressalta.

O amor de Catarina

Enquanto muitos abandonam, outros encontram o amor na adoção. É o caso da estudante Nathália Freitas da Silva, 19 anos. Devido à pandemia, a jovem trocou uma rotina atribulada entre o terceiro ano do Ensino Médio, estágio e convívio intenso com amigos e colegas por um cotidiano de aulas online e afastamento social. A mudança provocou tristeza, apatia e vontade de chorar sem motivo aparente. “Comecei a me sentir angustiada, com fortes dores no peito e desânimo”. Esse quadro começou a se manifestar na metade de novembro. 

Mesmo sem históricos psiquiátricos na família e sem nunca ter feito terapia, a jovem não hesitou em procurar ajuda profissional, mas os sintomas não desapareceram. “Passei a  sentir uma tristeza muito grande e não tinha vontade de levantar da cama, nem conseguia fazer as minhas atividades diárias”, relata. Foi na casa da mãe do namorado que Nathália viu uma ninhada de cães recém-nascidos. Decidiu adotar uma fêmea, a quem chamou de Catarina. “Foi a melhor coisa que fiz”, declara. Desde então, ela percebeu melhoras no seu comportamento. “Catarina me distrai o dia todo, me sinto bem e feliz”, reforça.

A doutora em Psicologia, Vivian Hamann Smith, esclarece que adotar animais pode ajudar na medida em que as pessoas tenham disponibilidade afetiva e tempo para cuidar e se vincular ao pet, numa perspectiva de longo prazo, e não somente para acariciar durante a pandemia na falta do abraço de pessoas. Também é importante prever o abalo quando o dono, agora em trabalho remoto, voltar a ficar ausente por longas horas. “Animais domésticos podem ser ótimos companheiros para aliviar a solidão e melhorar a autoestima do dono, que passa a ter alguém para cuidar, falar, brincar, festejar a sua chegada”, reitera. A psicóloga cita um trecho do livro “ O Pequeno Príncipe”,  de Saint Exupéry , para reforçar o compromisso do ato de adoção: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".


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