Aglomerações para compras da Sexta-Feira Santa no Mercado Público acendem sinal de alerta

Aglomerações para compras da Sexta-Feira Santa no Mercado Público acendem sinal de alerta

Risco de contágio do novo coronavírus é preocupação, alertam especialistas

Álvaro Grohmann

Apesar de recomendações de isolamento, público se dirigiu para o Mercado à procura do peixe do feriado

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As aglomerações de consumidores verificadas na véspera da Sexta-Feira Santa no interior do Mercado Público de Porto Alegre, sobretudo no setor das peixeiras, acenderam o sinal de alerta sobre os riscos de contágio pelo novo coronavírus. Dentro de duas semanas, prazo no qual a doença costuma se manifestar, será possível avaliar os efeitos da falta de prevenção por parte do público. Além de deixarem as compras mais uma vez para os últimos dias, as pessoas ficavam muito próximas uma das outras, disputando espaço em frente dos balcões. Muitas nem usavam máscaras.

O problema também ocorre, por exemplo, nas filas de estabelecimentos comerciais, lotéricas e agências bancárias. “O vírus está circulando. Ele não foi embora, ele está aqui….” advertiu o infectologista André Luiz Machado da Silva, do Hospital Nossa Senhora da Conceição. “Tende a ocorrer o aumento de casos. É muito provável que ocorra. Haverá um impacto de novos caso em duas semanas considerando que começou a ocorrer um descuido por parte da população em frequentar ambientes aglomerados e povoados”, acrescentou.

Segundo o infectologista, o risco que envolve a infecção pelo novo coronavírus ocorre em qualquer situação de aglomeração aonde não seja respeitado um espaço de, pelo menos, um metro e meio entre as pessoas. “É um vírus de transmissão basicamente respiratória, por gotículas. Quem espirra, fala e tosse libera as gotículas potencialmente infectadas no ar...Se não existe o distanciamento social, a pessoa pode ter o contato com o vírus, independente de qual situação seja na fila do supermercado, na farmácia, no restaurante”, esclareceu.

Ele recomendou o uso da máscara independente de ser de pano ou descartável, tecido ou não tecido. “O objetivo é que ela funcione como uma barreira mecânica, diminuindo a eliminação dos perdigotos, da saliva… É claro que essas máscaras de tecido não têm um poder de filtragem tão significativo, mas elas já atuam como uma barreira, diminuindo a circulação do vírus nestes ambientes mais aglomerados. É uma estratégica importante”, frisou. “Há um número crescente e significativo de portadores do coronavírus, mas que não manifestam sintomas. A máscara atenuaria neste caso a disseminação do vírus que tem uma transmissibilidade muito maior”, disse.

De acordo com o médico, o período de isolamento social serve para que as pessoas mudem os hábitos de vida. “O que está acontecendo no mundo com a pandemia serve para que as pessoas modifiquem os hábitos, os comportamentos”, considerou. “As pessoas precisam colocar na rotina de vida a questão de manter a adequada higienização das mãos, fazer a limpeza das mãos com água, sabão e álcool a 70%, respeitar o espaço do próximo e não ter contato tão próximo do outro, manter o uso da máscara..Isso deve ser incorporado no estilo de vida e no comportamento das pessoas”, recomendou.

Disposto a comprar uma corvina, Pablo de Souza Rodrigues, 26 anos, foi até o Mercado Público conforme faz todas as sextas-feiras santas. Sem a Feira do Peixe no Largo Glênio Peres, ele disse que o espaço interno estava “pequeno e meio confuso” pois “lá fora era mais aberto e arejado”. Na opinião dele, um dos problemas é que “havia muita gente em volta”.

Já Leonardo Ribeiro, 60 anos, comprou linguado, camarão e salmão. Ele concordou com a suspensão da Feira do Peixe. “Foi um ato de sensibilidade e de inteligência do prefeito para garantir a saúde e segurança das pessoas. “É um momento de exceção”, justificou. Apesar de ter saído de casa, ele defendeu o isolamento social. “Temos de respeitar nós que somos do grupo de risco e ficar em casa para que a rede de hospitais se prepare. O caminho está certo”, analisou, lembrando que é hipertenso. Criticando a aglomeração do público, ele reclamou que “o pessoal não estava usando máscaras e isso pode multiplicar a pandemia”.

Prefeitura lamenta aglomerações

O diretor de fiscalização da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), Denis Carvalho, lamentou o comportamento das pessoas no Mercado Público. “A avaliação é de que as pessoas não entenderam a realidade ainda e vieram fazer compras com a família inteira, com idosos, sendo que poderia ter sido feito por apenas um. Não havia necessidade. Isso incentivou o acúmulo de filas e concentração…”, observou. “A gente pede que as pessoas tenham responsabilidade e entendam o período crítico que estamos vivendo...Não só cobrem do poder público, mas assumam a responsabilidade de tentar ao máximo evitar o coronavírus e realizem o isolamento social ao máximo, saindo somente em caso de necessidade. Quem puder que fique em casa para podermos superar a crise o quanto antes”, desabafou.

Sobre o cancelamento da tradicional Feira do Peixe que impactou o Mercado Público, Denis Carvalho reconheceu que o público aglomerou-se dentro do prédio. “Foi uma dúvida a decisão, mas avaliação final é de que a Feira do Peixe teria estimulado mais ainda o comparecimento de pessoas. A decisão de não realizar foi melhor e acertada”, assegurou.

Denis Carvalho lembrou que, como medida para evitar a aglomeração, foram criadas três pequenas feiras para descentralizar o atendimento, citando uma no próprio Largo Glênio Peres e outras duas nos bairros Restinga e Vila Nova, em parceria com a Associação dos Pescadores e Piscicultores do Extremo Sul. O diretor de fiscalização da SMDE destacou a adoção do controle de entrada no Mercado Público. “Durante a semana fizemos um controle da fila para tentar colocar não mais do que 150 pessoas dentro do Mercado Público. Teve momentos de grande público concentrado nas peixarias, o que dificultou nosso trabalho”, explicou.

Na quinta-feira, apontada como o dia de maior afluência de público, foi mantido um único portão como entrada. Nesta Sexta-Feira Santa, o movimento foi menor em relação ao dia anterior, sem ocorrência de fila externa exceto antes da abertura do atendimento. Dois portões foram então liberados. O controle foi realizado pelos fiscais da SMDE e efetivo da Guarda Municipal.


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