Além da Covid-19, médica gaúcha, residente no litoral paulista, vence saudade da família

Além da Covid-19, médica gaúcha, residente no litoral paulista, vence saudade da família

Mônica Mazzurana é diretora técnica do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos (SP) e compartilha experiência sobre o contágio da doença

Gabriel Guedes

Mônica Mazzurana é natural de Gramado, mas mora há mais de 20 anos no estado de São Paulo

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O Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no litoral do estado de São Paulo, é referência para 2,5 milhões de moradores da Baixada Santista, inclusive no combate ao novo coronavírus. Uma das pessoas a frente da instituição é a gaúcha Mônica Mazzurana, 43 anos, que mora na cidade paulista há 20 anos. A diretora técnica do hospital, assim como outros profissionais de saúde, mais facilmente expostos a esta nova doença, acabou se contaminando. Mas a vivência com o vírus em nada mudou sua visão sobre como enfrentar a Covid-19.

Antes mesmo de ficar doente, se mostrava uma defensora ferrenha do uso de máscaras e do distanciamento social como forma de “achatar a curva” de crescimento dos casos. Só assim, segundo Mônica, será possível tratar outros doentes de forma adequada nos hospitais. Mas além do novo coronavírus, a médica de Gramado agora tem que enfrentar a saudade, amplificada por não conseguir visitar visitar os pais, sogros e irmãos na cidade e em Caxias do Sul, a cada três meses, como costumava fazer. “O pai e a mãe estão 100% isolados. Mas Gramado reabriu o comércio esta semana e fiquei um pouco apreensiva”, confessa.

Mônica conta que foi infectada no finalzinho de março, com os primeiros sintomas observados pelo dia 27 do mês passado. “Senti um pouquinho de dor de garganta e de tosse seca. Mas deu 24 horas e passou. Cerca de 48 horas depois comecei a sentir um cansaço forte, não habitual”, relata. Mas ciente dos sintomas, a diretora falou com a sua equipe e o infectologista a recomendou fazer o exame. “Daí, uns dois dias depois disso, recomeçou a tosse seca por sete dias. No quinto dia saiu o resultado positivo para Covid-19”, contabiliza. Como em nenhum momento Mônica teve sintomas mais graves, como falta de ar, ela finalizou o tratamento em casa, durante 14 dias isolada.

A gaúcha frisa que o tratamento em casa também não é fácil, principalmente quando se tem marido ou filhos. “Uma coisa é o isolamento social, a outra é se isolar da família. É muito comum, quando uma pessoa se infecta, infectar outra”. Essa situação a deixou aflita, pois não sabia também se o marido havia se contaminado, o que acabou se confirmando posteriormente. “Meu maior período de ansiedade, foi entre meu diagnóstico e do meu marido”, confessa. A variação de sintomas entre uma pessoa e outra também tem chamado a atenção de Mônica. “Meu marido contraiu a doença e não sentia cheiro nenhum. Alguns também não sentem gosto. Não são sintomas comuns de outras doenças. Tem também a diarreia”, relaciona. “Mas são coisas que ajudam no diagnóstico”, assegura.

O isolamento dentro da própria casa é uma tarefa árdua de ser cumprida. Mas nas ruas, onde, em tese, seria mais fácil, muitas pessoas têm baixado a guarda. Mônica observa uma fadiga no distanciamento social em Santos. “Agora a gente passa nas ruas e vê as pessoas não se cuidando. E não tô vendo assumirem o uso das máscaras também”, acusa. Na avaliação da médica, além do distanciamento, é fundamental uso deste equipamento de proteção. Mesmo naquelas cidades ou regiões onde houve o relaxamento das medidas. “A gente ainda precisa realmente aumentar muito a higienização das mãos”, também recomenda.

Medidas simples, que segundo ela, poderão evitar situações difíceis no futuro. “O que a gente, como médicos, não queremos é fazer escolhas que são muito tristes. Basta ouvir relatos de médicos italianos, espanhóis e norte-americanos”, refuta.


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