Audiência pública da AL-RS discute ações para melhorar taxas de cobertura vacinal

Audiência pública da AL-RS discute ações para melhorar taxas de cobertura vacinal

Debate conduzido pelo deputado Valdeci Oliveira (PT) contou com especialistas e entidades da área da saúde

Jessica Hübler

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A queda da cobertura vacinal observada no País nos últimos seis anos foi tema de uma audiência pública realizada pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira. O debate foi proposto e conduzido pelo deputado Valdeci Oliveira (PT), que, após ouvir os participantes, condensou o que foi discutido em propostas como construir uma forte campanha de vacinação, com linguagem acessível e considerando a realidade regional do estado e combater as notícias falsas, que circulam principalmente nas redes sociais.

Além disso, entre as propostas elaboradas após o evento, está também a importância de reforçar a ação da atenção básica dos agentes comunitários de saúde quanto à orientação às famílias no que se refere à vacinação das crianças, adolescentes, gestantes e público em geral, para o que é fundamental maior investimento governamental. E, ainda, fortalecer o vínculo das equipes de saúde com a população; fortalecer a busca ativa do público a ser vacinado e estender horários de funcionamento das unidades básicas de saúde para facilitar o acesso ao serviço de vacinação e levar a vacinação a espaços como escolas, metrô e locais de trabalho.

A possibilidade de realização de mutirões de vacinação e treinamento dos servidores que atuam nas salas de vacinação e na atenção básica, bem como a ampliação dos investimentos nas áreas de pesquisa e extensão nas universidades federais também foram abordadas. Valdeci assegurou que, no ano que vem, quando presidirá a Assembleia Legislativa, fará do tema uma de suas pautas.

Segundo o deputado, o Programa Nacional de Imunização, criado em 1973, sempre foi uma referência mundial, mas nos últimos anos as taxas de cobertura vacinal foram caindo, pondo em alerta governos e especialistas. “O não-atingimento das metas de vacina para o público infantil evidencia que há um aumento significativo da população vulnerável”, disse o parlamentar, citando dados do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde e do Datasus.

Representando o Conselho Regional de Medicina, Fernanda Detanico disse que era chocante, em um ano em que se falou tanto de vacinas, ouvir os dados referentes à queda da cobertura vacinal de doenças evitáveis e até então controladas. Contou ter atuado fora do país em locais onde o sarampo era uma realidade e expressou sua angústia de ver que poderiam voltar a ter surtos da doença depois de tantos anos.

A conselheira do Conselho Regional de Enfermagem Sônia Coradini salientou a importância do papel do agente comunitário de saúde e lamentou o desmantelamento da atenção primária no país, que foi em grande parte privatizada. Disse que era esse profissional que mantinha contato com as famílias e resgatava o calendário vacinal nas comunidades. Segundo ela, era preciso capacitação permanente e pessoal suficiente, evitando rodízio de profissionais, pois não bastava “pegar uma agulha e aplicar (a vacina)”.

O defensor público Aldo Neri de Vargas Júnior, do Núcleo de Defesa da Saúde, considerou preocupante a ausência de campanhas de vacinação diante da queda observada nos números da cobertura vacinal. Disse que atendiam a pessoas enfrentando alguma violação de direitos e que era mais comum serem procurados por pais que não desejavam ter os filhos vacinados do que por pessoas que desejavam vacinas, mas não as encontravam.

O presidente do Conselho Nacional da Saúde, Fernando Pigatto, disse que a queda da cobertura vacinal era uma preocupação da entidade já há algum tempo, mas que mais recentemente o movimento anti-vacina havia ganhado força difundindo crendices e notícias falsas. Infelizmente, segundo ele, o principal representante desse movimento hoje no país era o próprio presidente da República, que não havia tomado vacina contra a Covid-19 até o momento e declarava mesmo que não a tomaria.

Também contribuíram com o debate a médica infectologista e professora da UFPel Danise Senna, que apresentou sugestões de como enfrentar o problema da queda na cobertura vacinal; a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do RS, Juçara Vendrusculo, que ressaltou que a vacina era um direito das crianças.

A coordenadora do curso de Enfermagem da Unijuí, Marinez Pettenon reforçou a necessidade de treinamento para as salas de vacinação; Maria Denise Schimith, da Universidade de Santa Maria, que apontou a necessidade de investimento em pesquisas no país; o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações e representante da Sociedade de Pediatria do RS, Juarez Cunha que manifestou preocupação com a ameaça de retorno de doenças já controladas; e Jaime Ziegler, do Conselho Estadual de Saúde.


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