Audiência Pública discute situação da Carris e do transporte de Porto Alegre

Audiência Pública discute situação da Carris e do transporte de Porto Alegre

O prefeito Sebastião Melo assinou projeto de lei que autoriza a desestatização, por meio de privatização ou extinção, da Companhia

Jessica Hubler

Gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan adquiriu 98 novos ônibus, que ainda estão sendo pagos

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A Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa debateu em audiência pública virtual, nesta quinta-feira, a situação da Companhia Carris Portalegrense (Carris), empresa pública de transporte coletivo de passageiros de Porto Alegre. O encontro foi solicitado pela deputada Sofia Cavedon (PT). No último dia 15, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, assinou projeto de lei que autoriza a desestatização, por meio de privatização ou extinção, da Companhia Carris Porto-Alegrense (Carris). O projeto foi encaminhado para a Câmara de Vereadores.

O evento na Assembleia Legislativa reuniu parlamentares, vereadores, os secretários municipais de Parcerias, Ana Pellini, e o de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Zachia; o ex-secretário dos Transportes de Porto Alegre e ex-presidente da Carris, Mauri Cruz; a vereadora Claudia Araújo (PSD); o presidente da Carris, Maurício Cunha; Rosangela Machado, integrante do ATTROPA (Associação dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Passageiros de Porto Alegre), servidores da Carris, estudantes e usuários.

Debate transparente

Para a deputada Sofia Cavedon, antes da privatização da Carris, deve ocorrer um debate onde sejam transparentes os números da câmara de compensação do sistema. "Precisamos também pensar no que vamos oferecer ao usuário, linhas que deixam de existir,  poucos horários e carros velhos e sem conforto?", questionou. A deputada defendeu o transporte coletivo com conforto e acessibilidade. Sofia disse também que vai propor à Comissão de Segurança e Serviços Públicos a realização de um seminário para discutir o tema.

O secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Zachia, discorreu sobre a falência do sistema de transporte urbano da cidade. Ele comentou que, desde 2015, o número de usuários de ônibus vem caindo, principalmente pela concorrência dos aplicativos de transporte individual de passageiros. Ele reforçou que atualmente 44 mil carros de aplicativos trafegam em Porto Alegre.

Conforme o secretário, essa mudança de modal de Transportes, acrescidos de bicicletas e motos, levou o sistema de transporte coletivo a ter enormes prejuízos, especialmente por diminuição de demanda. "Em 2015 transportávamos diariamente cerca de 1,5 milhão de usuários, hoje estamos com 350 mil pessoas. Temos que alterar o sistema e cuidar do valor da passagem", declarou. Zachia afirmou, ainda, que a Carris tem um custo 21% maior que a média do sistema.

Papéis importantes

O ex-secretário dos Transportes, Mauri Cruz disse que a empresa cumpre papéis importantes dentro do transporte de passageiros como a operação de linhas transversais e circulares e a introdução de avanços tecnológicos. A crise nos transportes não é causada pela empresa. "A crise é do sistema e ocorre em todo o Brasil, além da questão financeira, há ainda que se redesenhar o sistema", acrescentou.

Para Mauri, é inviável que o transporte de passageiros se sustente apenas pela tarifa. "O orçamento público deveria sustentar as isenções", argumentou. O ex-secretário destacou que a Carris tem uma frota de ônibus relativamente nova, enquanto que entre as empresas privadas a frota está envelhecendo.

A secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini, disse que não é papel do município administrar uma empresa de transporte coletivo. Ela confirmou que nos últimos dez anos a prefeitura repassou a Carris cerca de meio bilhão. "Com esses recursos a prefeitura poderia construir 10 clínicas de saúde da família", calculou. Pellini apresentou o resultado de uma auditoria na empresa que apontou gastos superlativos com combustíveis, pessoal, mecânica e ainda um passivo trabalhista de R$ 30 milhões.


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