Aumenta número de pacientes de menos de 60 anos com Covid-19 nas UTIs de Porto Alegre

Aumenta número de pacientes de menos de 60 anos com Covid-19 nas UTIs de Porto Alegre

Média de idade nas solicitações de internação caiu para 58,6 anos nos últimos 7 dias

Gabriel Guedes

Em relação à Santa Casa, Kalil observa que a taxa de ocupação nos leitos de internação também segue alta, com todos 64 leitos ocupados

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Pacientes infectados pela Covid-19, com idades inferiores a 60 anos, estão ocupando cada vez mais leitos nos hospitais de Porto Alegre desde a semana passada, inclusive nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). É o que indica a análise do coordenador de Atenção Hospitalar da Secretaria da Saúde de Porto Alegre (SMS), médico Márcio Rodrigues, também observadas em pelo menos duas instituições hospitalares da Capital. No Grupo Hospitalar Conceição (GHC), que é público, por exemplo, triplicou o número de hospitalizações de 30 a 39 anos, e na faixa dos 40 a 49 anos, aumentou 50%. No Hospital Moinhos de Vento (HMV), privado, aumentou em 48% as internações de pessoas com idades entre 40 a 59 anos.

De acordo com Rodrigues, a média de idade nas solicitações de internação caiu para 58,6 anos nos últimos 7 dias, contra 62,6 anos nos 50 dias anteriores. Se considerar apenas as UTIs, também houve uma redução nesta última semana, passando dos 63,9 para 59,8 anos. “Essa diferença medida é estatisticamente significativa. Essa variação é gigante na realidade, pois são quatro anos de diferença na média de mais de 5 mil pessoas. A probabilidade de isso ocorrer aleatoriamente é de 0,0000008778. Essa medida é corroborada com observação da mudança das proporções entre as diferentes faixas etárias. Essa mudança é de interesse clínico e aponta uma possível mudança de comportamento do vírus”, explica o médico da SMS.

A gerente médica do Moinhos de Vento, Gisele Nader, afirma que na quinta-feira foi superado o recorde de internações da pandemia. Em agosto, o pico foi de 123 pacientes e na quinta, a instituição estava com 127 internados. Mas este novo recorde chega com uma mudança no perfil dos pacientes. “Ao longo deste tempo todo, continuamos tendo pacientes acima dos 60 anos. Mas da semana passada para cá aumentou 48% os com idade de 40 a 59 anos, mas com as mesmas comorbidades”, constata.

Nos hospitais do GHC, segundo a coordenadora do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia, Ivana Varela, esta mudança foi observada de forma súbita nos primeiros 19 dias de fevereiro. “As internações para a faixa dos 30 a 39 anos vinha oscilando de 5% a 4% nos meses anteriores e passou para 13% em fevereiro. De 40 a 49 anos, em junho era 15%. Em setembro tinha chegado a 14%. Agora em fevereiro está em 16%”, aponta a epidemiologista. Ivana acrescenta que as hospitalizações de pessoas com 60 anos ou mais também teve oscilações no ano passado, sendo outubro o mês com a maior proporção: 66%. Entretanto, desde dezembro, vem caindo, passando de 59% para 51% até o momento.

“As causas são multifatoriais, mas entendemos que as aglomerações são cada vez maiores. A sensação causada pela chegada da vacina fez parte da população relaxar nos cuidados”, acredita Gisele. Segundo ela, o aumento nas internações pode não estar associada à variante P.1, observada pela primeira vez no Amazonas, e mais infecciosa. “Estamos avaliando fazer um estudo genômico, mas por enquanto não temos nada definido”, adianta a médica do Moinhos de Vento. “Nos mais novos é uma mudança bem importante. Quando dobra, eles estão internando mais. Então, se está aumentando a proporção de hospitalizados nesta população, esta faixa etária está se infectando mais que os outros. E estamos observando na Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar. É a faixa etária mais atendida na UPA. Mas se fosse uma variante, não pouparia outras idades. Então está mais associado ao comportamento das pessoas com estas idades”, explica Ivana.

Rodrigues defende que este tipo de levantamento é importante para que se definam políticas de enfrentamento à doença, bem como as instituições se preparem de forma adequada. “Esse tipo de monitoramento é importante para previsões de ocupações de leito, tentando sempre detectar o mais precocemente possível as mudanças, para os ajustes necessários na rede de saúde visando garantir assistência à população”, conclui. 


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