Aumento da gasolina e falta de reajuste no preço das corridas desanimam motoristas de aplicativo

Aumento da gasolina e falta de reajuste no preço das corridas desanimam motoristas de aplicativo

Situação também preocupa os taxistas de Porto Alegre

Eduardo Andrejew

Motoristas do RS reclamam que as empresas não estão realizando reajustes no preço das corridas

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A pandemia não está mais na sua fase crítica e a vida em Porto Alegre volta lentamente ao normal. Isso é uma boa notícia para diferentes setores do comércio e dos serviços. Porém, a situação não é muito animadora para quem ganha vida como motorista de aplicativo. Apesar de a demanda voltar a crescer, os trabalhadores do setor enfrentam dois entraves importantes. Um deles é o preço do litro da gasolina, que não fica abaixo dos R$ 6,00. Além disso, as empresas de aplicativos não estão realizando reajustes no preço das corridas, o que reduziu a margem de ganhos dos motoristas. 

O presidente da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos do Rio Grande do Sul (Alma), Joe Moraes, faz a comparação para apontar as perdas. “Em 2017, o quilômetro percorrido valia R$ 1,21, hoje é de no máximo R$ 0,90”, ilustra. “Em uma corrida de 5 km, o motorista paga para trabalhar”, diz. A situação, acrescenta, é pior para quem trabalha com carro alugado. Com o valor elevado dos insumos e a falta de reajuste de preços, muitos estão deixando de trabalhar em transporte por aplicativo, revela Moraes. 

Carina Trindade, secretária-geral da Alma, e presidente do Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativos do Rio Grande do Sul (Sintrapli-RS), avalia que o maior problema para os trabalhadores do setor não é mais a pandemia, pois a procura aumentou significativamente nos últimos meses. “O maior problema é o valor da corrida que está muito baixo”, esclarece.

“Temos que calcular a distância e a trajetória até o cliente para saber se vale a pena fazer a corrida”, conta. Carina Trindade se queixa do fato de que a Uber, uma das empresas do setor, teria feito reajustes em outros estados do País, mas no Rio Grande do Sul nada mudou até agora.

Escolhas

A situação preocupa os motoristas. Gian Carpes, que está há um ano e meio trabalhando no setor, admite que muitas vezes precisa escolher a corrida que vai fazer para não entrar em prejuízo. “Já estava ruim no ano passado por causa da pandemia, mas piorou com o aumento da gasolina”, lamenta.

Um pouco mais tranquilo está Luís Gonçalves de Sousa. A razão está no fato de que seu carro é movido a GNV. “Mas para o pessoal que usa gasolina, como meu sogro e o meu cunhado, está muito complicado”, admite. E mesmo com um combustível mais barato, Carpes explica que precisa ficar no trabalho por cerca de 10 horas.

A Uber, por meio de nota, explica que até 2018, a taxa de serviço cobrada dos motoristas parceiros pela intermediação de viagens era fixa em 25%. A partir daí tornou-se variável visando maior flexibilidade para usar esse valor em descontos aos usuários e promoções aos parceiros.

“Em qualquer viagem, o motorista parceiro sempre fica com a maior parte do valor pago pelo usuário - dúvidas entre os parceiros sobre o valor da taxa podem surgir porque em algumas viagens ele pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir”, diz a nota. A empresa acrescenta que todos os motoristas recebem semanalmente, por e-mail, um compilado sobre os seus ganhos durante a semana.

Para taxistas, situação está “menos pior”

Os taxistas de Porto Alegre se mostram mais otimistas neste mês de setembro. Depois de um período de perdas acentuadas, a percepção geral é de que os piores dias da pandemia já se foram, mas há preocupação com o futuro, que permanece incerto.

O presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari, salienta, entretanto, que a situação está longe do patamar ideal. “Resumidamente, está menos pior, mas a nossa expectativa é de que as coisas melhorem mais”, define. Por outro lado, Nozari entende que a categoria nunca mais poderá recuperar os ganhos de outros anos, mesmo com o fim da pandemia. O motivo, segundo ele, é a chegada dos aplicativos, que seguirão sendo uma concorrência importante. 

Recuperação suave 

O diretor-administrativo do Sintáxi, Adão Ferreira de Campos, vê também uma recuperação “suave” do mercado para os taxistas. Ele calcula um acréscimo de 20% nos ganhos, em relação a 2020. Porém, lembra que este crescimento parte de um patamar muito baixo. “Em 2020 estávamos a zero”, explica. Em relação à concorrência com os aplicativos, Campos avalia que o táxi está reconquistando ao menos parte do espaço perdido. “Além disso, o taxista melhorou a qualidade de seu serviço neste período”, salienta. 

Nozari também destaca essa melhoria de qualidade. Segundo ele, no período mais difícil da pandemia e das restrições ao comércio e serviços, acabou ocorrendo uma depuração no setor. “Praticamente é o proprietário quem trabalha agora com o táxi”, observa. Outro fato apontado pelo presidente do Sintáxi é que a tarifa do serviço se mantém a mesma há cerca de quatro anos e isso tem atraído mais clientes nesta fase mais branda da pandemia na cidade. 

"Melhoradinha"

A percepção de Luiz Nozari e de Adão Campos é compartilhada por outros taxistas em Porto Alegre. Ou seja, já esteve pior, mas ainda não está bom. “Deu uma melhoradinha, mas a gente não sabe se vai se manter”, avalia Daniel Heineck, que tem seu ponto no Centro Histórico da Capital. “Mas não se adquire muita coisa com os ganhos no momento, é só pra gente sobreviver”, acrescenta.

Outro profissional que atua no mesmo local, André Azevedo da Silva, reconhece que a situação começou a ficar mais viável a partir do momento em que o comércio na cidade reabriu. Com o maior número de pessoas circulando, a demanda por alternativas de transporte cresceu também. 

Outro fator sempre lembrado pelos taxistas é que os motoristas de aplicativo não estão mais conseguindo fazer o mesmo número de corridas por conta do preço elevado do combustível. “Sei de muitos clientes que desistiram de usar aplicativo e estão retornando para o táxi”, afirma André Silva.

O taxista Davson Medeiros, por sua vez, acredita que a situação está melhor e vai continuar melhorando nos próximos meses. No entanto, também não acredita que os ganhos voltarão a ser como antes, mesmo com o fim da pandemia e a total normalização das atividades em Porto Alegre. Para ele, o mercado de transporte individual de passageiros já mudou.

Foto: Alina Souza


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