Aumento de gestantes com Covid-19 gera mais cesárias para salvar mães e bebês em Porto Alegre

Aumento de gestantes com Covid-19 gera mais cesárias para salvar mães e bebês em Porto Alegre

Parte dos casos ocorrem com mulheres que possuem algum tipo de comorbidade considera risco ao vírus

Christian Bueller

Parte dos casos ocorrem com mulheres que possuem algum tipo de comorbidade

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O momento de um nascimento é um dos mais esperados por grande parte das famílias, mas a pandemia tem invertido a lógica, trazendo riscos às futuras mamães e aos bebês que, em algumas situações, já chegam ao mundo carregando consigo o vírus da Covid-19. Os hospitais de Porto Alegre têm registrado aumento na demanda de gestantes que chegam para os partos contaminadas. Segundo o Ministério da Saúde, gestantes e puérperas até o 14º dia de pós-parto devem ser consideradas grupo de risco para a doença.

No Grupo Hospitalar Conceição, o número aumentou 50%, de janeiro de 2021 (oito casos) para fevereiro (12). Segundo o diretor técnico do GHC, Francisco Zancan Paz, a situação é pior em março. “Tem ocorrido, pelo menos, uma situação dessas por dia”, revelou. A elevação dos casos em gestantes era esperada, diz o diretor, já que as infecções na população geral também subiram. Mas o grande número de mulheres grávidas que chegam ao hospital preocupa. “As emergências, enfermarias e UTIs estão lotadas.

Estamos pedindo às que não são de risco que busquem outros centros obstétricos”, diz Paz, lembrando que, no Conceição, ocorrem mais de 300 partos por mês. O diretor alerta que 70% das gestações de risco, que incluem, por exemplo, mães diabéticas, hipertensas ou que apresentem sangramento. “Os outros 30%, são casos habituais, em que não necessitam de cuidados diferenciados”, esclarece. Os médicos têm recorrido a cesarianas para salvar bebês e mães, que reduzem a média etária de pacientes contaminados Brasil afora por estarem em idade fértil. Paz recorda que a última gestante a passar por este procedimento tem 27 anos e se salvou. Outra, de 37 anos, não teve a sorte. “Ela faleceu chegando no hospital e tinha comorbidades. A criança, prematura, por nascer com pouco mais de dois quilos, testou positivo para Covid-19, mas sobreviveu”.

O diretor recomenda que as gestantes não descuidem dos protocolos sanitários da pandemia. “Evitar aglomerações, lavar as mãos e usar máscaras é o básico. A situação é tensa e tende a piorar nos próximos dias”, frisou. Conforme a responsável pelo Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do GHC, Ivana Varella, três mulheres que se dirigiram ao hospital para darem à luz, de março de 2020 até aqui. “Se cria uma expectativa de aumentar a família e irem todos para casa, então, quando acontece um óbito desencadeia um cenário que ninguém espera”, desabafa, que apela às gestantes que se preservem e evitem sair de casa para não correrem o risco de se contaminarem. Ontem (quarta-feira), oito gestantes e/ou puérperas estavam hospitalizadas, das quais, três estavam na UTI.

Cuidado com a obesidade

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), não é diferente. Em 2020, 38,5% das 91 grávidas sintomáticas tiveram diagnóstico comprovado para Covid-19. Este ano, o número pulou para 71%. “Desde agosto, fazemos exames de rotina em todas as gestantes que entram na maternidade. Isso nos mostrou a prevalência das infecções nestas pessoas. Dobrou o número nas assintomáticas também”, revelou o professor do serviço de ginecologia e coordenador do grupo de ensino do HCPA, José Geraldo Lopes Ramos.

No Clínicas, recentemente uma gestante perdeu a vida. “A comorbidade mais prevalente para a mortalidade materna é a obesidade, contribuindo com infecções mais graves. Ela se une aos outros fatores, como diabete e hipertensão. A paciente, de 29 anos, tinha tudo isso, infelizmente”, lamenta Ramos, acrescentando que a taxa de prematuridade acaba aumentando. A transmissão materno-fetal de Covid-19 é rara, segundo o professor, mas já ocorreu no HCPA, na semana passada. “É mais frequente ocorrer no pós-parto, via respiratória. Inclusive, o leite materno não transmite”, informa o professor.

Ramos, assim como os especialistas anteriores, orienta às gestantes que sigam as restrições que a sua condição e a pandemia exigem. “Não existe mágica ou remédio milagroso. A mulher grávida ainda não entrou no grupo prioritário para a vacinação, o que esperamos que aconteça ainda este mês”.


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