Campanha busca reforçar doação de órgãos no Rio Grande do Sul

Campanha busca reforçar doação de órgãos no Rio Grande do Sul

Hospital São Lucas teve desempenho 30% melhor em 2018, mas Estado tem redução expressiva

Eduardo Amaral

Peça teatral faz parte de campanha de conscientização

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Estado que já foi referência no transplante e doação de órgãos, o Rio Grande do Sul enfrenta hoje um problema grave na área. Enquanto os hospitais e profissionais seguem entre os mais prestigiados do país, o número de doadores é cada vez mais baixo. Dados da Secretaria Estadual da Saúde divulgados no início do ano apontaram uma queda de 20% no número de doadores em 2018 na comparação com o ano anterior.

O cenário tem levado diversas entidades a reforçarem as campanhas de doação, como a Assembleia Legislativa, que em maio deste ano lançou uma Frente Parlamentar de Estímulo à Doação de Órgãos. Nesta sexta-feira, foi a vez do Hospital São Lucas (HSL) da PUCRS iniciar uma campanha sobre o assunto.

Na contramão dos dados estaduais, o Hospital viu crescer o número de doadores, que neste ano subiram em 30%. Mesmo com os bons resultados, a direção do hospital decidiu tentar aumentar mais esses número, com o lançamento da campanha Meu Legado Salva Vidas. Durante todo o mês de setembro serão realizadas diversas atividades de conscientização e esclarecimento sobre os procedimentos que envolvem a doação de órgãos.

As ações ocorrerão nas redes sociais e site da instituição, além de atividades voltadas a pacientes, médicos e público geral. As primeiras foram a exibição do documentário Meu Legado Salva, que conta com depoimentos de transplantados, e com a peça Começar Outra Vez. O primeiro ator do espetáculo teatral foi o ator Norton Nascimento. Morto em 2007, ele precisou de um transplante de coração quatro anos antes, e sua luta em busca de um doador ganhou os jornais de todo país. No texto, os personagens Adão e Eva mostram a importância do diálogo entre casais e a necessidade para que doadores consigam ver seu desejo realizado pós morte.

Responsável pela Organização de Procura de Órgãos do HSL, Dagoberto Rocha, destaca que o fato de doadores não comunicarem seus familiares sobre o desejo é um dos principais entraves para que os órgãos cheguem a quem precisa. “Hoje no Brasil quem autoriza a doação de órgãos é a família, não é preciso deixar mais nada escrito, então o momento que eu comunico meu desejo de ser doador com certeza faz com que a decisão seja mais confortável.”

Mas Rocha ressalta que este não é o único, nem principal entrave para mais doações. Ele conta que a campanha Meu Legado Salva Vidas é desconstruir mitos relacionados à morte cerebral. “A sociedade tem muitos tabus em relação à doação de órgãos ligados à morte encefálica. A principal razão para as famílias não autorizarem a doação de órgãos é a não compreensão da morte encefálica, por achar que o paciente em morte encefálica é o mesmo do que em coma. Quando pensamos em alguém que faleceu o que se pensa é na pele fria e sem batimentos cardíacos, isso é o que todos imaginam, mas na condição de morte encefálica está com o coração batendo, têm sinais vitais e está aquecido.”

Rocha acredita que com a campanha será possível iniciar um processo de esclarecimento sobre como funciona a morte cerebral. “Essa campanha tem o objetivo de capacitar e levar informação para os profissionais da saúde, principalmente em acolhimento à essas famílias que passam por esse momento triste dentro de um hospital.” Ele ressalta ainda que outro foco é quanto a entraves religiosos, impostos por algumas famílias. “Não existem religiões contra a doação de órgãos, isso está mais ligado às crenças do que com a religião”, afirma. Atualmente, no Rio Grande do Sul, 40% das famílias não autorizam a doação de órgãos.


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