Carta-Testamento de Getúlio Vargas é furtada pela terceira vez em Porto Alegre

Carta-Testamento de Getúlio Vargas é furtada pela terceira vez em Porto Alegre

Ataques a monumentos históricos estão cada vez mais frequentes na Capital. Prefeitura reforça patrulhamento em espaços públicos da cidade

Christian Bueller

Guarda Municipal garante que os patrulhamentos aumentaram em parques e praças da Capital visando a proteção dos equipamentos públicos

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Uma placa com a reprodução da Carta-testamento de Getúlio Vargas, escrita momentos antes de ele cometer suicídio, afixada na Praça da Alfândega, está desaparecida pela terceira vez. O monumento foi furtado da rocha em frente ao prédio do Banco Safra onde foi inaugurada em agosto de 1955, um ano depois da morte do ex-presidente. Levada em 1966, a peça de bronze foi substituída em 1975 por uma placa de aço até ser roubada em 2014.

Três anos depois, o monumento que contém no texto uma das frases mais famosas de Getúlio (“serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”) foi reinaugurado no local, feita de latão, um material comercial mais barato, porém de maior resistência. É este que foi retirado da rocha desta vez. “É muito triste tratarem assim um objeto histórico”, lamentou o professor de Educação Física Edison Rocha, que passeava com o filho e percebeu o vão de 1,25 m por 75 centímetros na rocha.

Segundo o diretor de Patrimônio e Memória da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, Nelson Boeira, a situação envolve dois ângulos, o do roubo de bens públicos e um outro problema, também considerado complexo. “Diz respeito à educação patrimonial (e política) da sociedade. Que visa desenvolver entre os cidadãos a importância do respeito aos bens públicos que guardam nossa memória coletiva, os episódios e os personagens que contribuíram para a criação de nossa identidade coletiva. Que guardam os valores, as ideias e as imagens que constituem as pessoas que somos”, opina. Para ele, este é um processo educativo que deve ser permanente e ajustado às características de “cada geração, cada camada social e cada grupo cultural”. 

Boeira acredita que, “se não distinguirmos claramente a dimensão legal-policial do espectro cultural, não seremos capazes, por exemplo, de entender a diferença entre, de um lado, o roubo-receptação-comercialização ilegal e, de outro, a grafitagem de vários tipos, da artística à destrutiva. O diretor de Patrimônio e Memória informa que a prefeitura está no início de um projeto, em parceria com entidades, sobre educação patrimonial.

O outro ponto destacado por Boeira sobre o tema se relaciona com a segurança. “Existe o aspecto do crime, puro e simples, isto é, do roubo de bens públicos para comercialização ilegal, cujo enfrentamento requer ações policiais, como identificação dos ladrões, dos receptadores, dos compradores, repressão dos culpados e responsabilização legal”, contextualiza. Ele reafirma o posicionamento do prefeito Sebastião Melo, que se manifestou na semana passada sobre medidas “que serão tomadas mais imediatamente e examinando as dificuldades que sua execução enfrentará”. “As iniciativas de embelezamento da paisagem edificada que a prefeitura está tomando são um primeiro, mas muito importante, passo no processo de educação patrimonial”, enfatiza.

Ações

Segundo o comandante da Guarda Municipal de Porto Alegre (GM), Marcelo do Nascimento Silva, os patrulhamentos aumentaram em parques e praças visando a proteção dos equipamentos públicos, tantos os relacionados a serviços quanto os de valor histórico e cultural. “Além disso, a prefeitura, de forma integrada com o governo estadual, promove diversas operações, visando inibir a receptação destes equipamentos”, informou. Nascimento lembrou de uma ação da Brigada Militar, dos Bombeiros e da Polícia Civil ocorrida na quarta-feira neste sentido. “Fechamos três ferros-velhos que estavam com problemas de documentação e que, provavelmente, recebiam estes materiais furtados.

O chefe da GM reitera que o Município está atento ao problema. “Não estamos parados e, sim, aperfeiçoando o nosso trabalho e acredito que, em breve, vamos diminuir os índices destes roubos com uma maior presença, tanto da Guarda Municipal quanto dos outros órgãos de segurança do RS nas ruas da Capital”, garantiu Nascimento. 
Para auxiliar na redução de crimes e agilizar a atuação dos agentes de segurança, a prefeitura vem reiterando nas redes sociais a importância do recebimento de denúncias pelos canais 153 e 156, que também podem ser feitas de forma anônima.


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