Casos de Covid-19 no Centro Histórico aumentam 220% em menos de 20 dias

Casos de Covid-19 no Centro Histórico aumentam 220% em menos de 20 dias

Petrópolis tem 83 casos e continua sendo o bairro de Porto Alegre com mais moradores diagnosticados com a doença

Henrique Massaro

Centro Histórico de Porto Alegre teve crescimento expressivo de casos confirmados da Covid-19 nos últimos dias

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Em menos de 20 dias, os números nos bairros com mais moradores com coronavírus em Porto Alegre chegaram a aumentar 220%. É o caso do Centro Histórico, que, de 20 maio para 7 de junho, foi de 15 confirmados com a Covid-19 para 48, saindo da 11ª posição para o segundo lugar entre as regiões com mais infectados. O bairro com o maior número de residentes com a doença continua sendo o Petrópolis, que foi de 43 para 83, um aumento de 93%. A quantidade de bairros que não tinha confirmações diminuiu de oito para três: Pedra Redonda e Extrema, na zona Sul, e Anchieta, na zona Norte. Apesar disso, a prefeitura avalia que não há crescimento anormal em nenhuma região.

O secretário-adjunto da Saúde em Porto Alegre, Natan Katz, explicou que uma taxa de dobra - número de dias que demora para dobrar os casos em determinado local – de 14 dias é considerada bastante baixa. “Significa que cada pessoa que estava ali transmitiu para mais uma só, quer dizer que a infecção está supercontrolada”, diz. De 20 de maio a 3 de junho, o Centro, por exemplo, havia tido um aumento de 160%, enquanto o Petrópolis não havia chegado a duplicar (74%). De acordo com ele, o aumento do número de casos em um mesmo bairro pode ter relação com a transmissão ocorrendo dentro de casa, de uma pessoa infectada passando para algum familiar, por exemplo.

Para a situação de um bairro específico se tornar preocupante, explica Katz, os números precisariam ser maiores. Na avaliação dele, que é epidemiologista, o vírus parece estar mais se espalhando pela Capital do que se concentrando em determinados territórios. Segundo o secretário-adjunto, diferentemente da dengue, que tem o mosquito como vetor e é mais facilmente identificada por regiões, a Covid-19 é uma doença respiratória que se espalha entre as pessoas e, a partir do momento em que há transmissão comunitária, ela acaba acometendo toda a cidade. Ele lembrou ainda que o levantamento considera o endereço das pessoas com a doença, o que não quer dizer que um local tenha mais coronavírus que outro. Uma pessoa que mora do Petrópolis pode estar internada em um hospital do Centro, por exemplo, mas a contagem vai para o bairro onde reside. 

Bairro Petrópolis segue com a maior quantidade de casos confirmados da Covid-19 em Porto Alegre | Foto: Ricardo Giusti

O maior número na região central de Porto Alegre tem relação com o fato de o vírus começar a surgir nos locais com moradores de maior poder aquisitivo e que, portanto, viajavam mais para o exterior. A tendência, no entanto, é de que o mapa geral se torne mais homogêneo à medida que a doença se dissemina para as regiões periféricas.

Apesar disso, Katz ressalta que o mapeamento de Porto Alegre não está corrigido por nenhuma taxa populacional e que bairros mais populosos, como o Petrópolis, por exemplo, tendem a ter mais casos. O crescimento dos números pode ter relação com a flexibilização do isolamento social, mas também com outros fatores, como o aumento da testagem. Atualmente, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, todas as pessoas com sintomas em Porto Alegre são testadas.

Mestre e doutor em Epidemiologia, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry, concorda que o crescimento dentro dos bairros e de um bairro para outro possa ser natural, mas chama a atenção para o fato de que, independente da densidade populacional, o número absoluto de casos tem mais que dobrado em bairros como o Centro Histórico e ficado próximo disso em outros. “Não se pode negar que há um aumento. Se comparar entre bairros, aí, sim, a densidade populacional é importante, mas quando se olha só o bairro e tem aumento, é um alerta”, observa. Ele também cita que o aumento da testagem e a flexibilização do isolamento são fatores importantes, mas não considera ser o momento de retomar restrições porque é necessário se levar em conta as responsabilidades individuais das pessoas, como uso de máscara e álcool gel.

Defasagem

Os dados referentes à distribuição de casos de coronavírus pelos bairros de Porto Alegre têm uma defasagem. A última atualização do mapeamento virtual da Diretoria Geral de Vigilância em Saúde é do dia 7 de junho, somando 1.538 pessoas com a doença. A contagem oficial, no entanto, já considera até o dia 9 de junho, quando havia 1.761 casos na Capital. A diferença de acordo com a SMS se dá porque os números na plataforma de distribuição territorial do coronavírus precisam ser adicionados semanalmente de forma manual a partir do monitoramento do e-SUS. A ideia é que, nos próximos dias, os sistemas sejam integrados, o que possibilitará uma atualização automática.

Incidência

Apesar de ser o bairro de Porto Alegre com maior número de pessoas com Covid-19, o Petrópolis não tem ficado nem entre os dez com a maior incidência da doença. Desde que o mapeamento começou a ser divulgado pela Diretoria Geral de Vigilância em Saúde, em 20 de maio, até a atualização do dia 3 de junho, o Jardim Europa vinha sendo o primeiro território da lista feita pela Rede Urbanismo Contra o Corona. Utilizando como fonte os dados disponibilizados pela prefeitura e o Censo de 2010 do IBGE, o diferencial desse levantamento é analisar a taxa de incidência a cada 100 mil habitantes.

Uma das arquitetas responsáveis pelo mapeamento, Camila Bellaver, explica que muitas vezes o número absoluto de casos de um bairro pode ser alto, mas acaba diluído diante do tamanho da população. O Petrópolis, por exemplo, apesar de ter um número absoluto de confirmados maior do que os outros, está entre as regiões mais populosas de Porto Alegre, com 37.496 habitantes. O mesmo ocorre com o Centro Histórico, que tem 39.154 residentes. 

O Bela Vista e o Rio Branco, por sua vez, empatados em terceiro na lista com mais infectados, com 48 casos, também têm entrado para a listagem de maior incidência por serem um pouco menos populosos: 11.787 e 17.531 habitantes, respectivamente. Já o Jardim Europa, que, em números absolutos, fica muito atrás - 18 casos de Covid-19, de acordo com a última atualização do Executivo -, tem somente 2.299 moradores, fazendo com que o número se torne mais significativo.

Depois do Jardim Europa, a maior incidência se dá nos bairros Três Figueiras, Jardim São Pedro, Bela Vista, Mon'Serrat, Farroupilha, Rio Branco, Moinhos de Vento, Santa Maria Goretti e Chácara das Pedras. A lista da Rede Urbanismo Contra o Corona, contudo, ainda não foi corrigida com a última divulgação, de 7 de junho, o que deve ocorrer em breve. O grupo pretende manter o mapeamento sempre que a prefeitura atualizar os dados. 


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