Cientista chinês diz ter criado os primeiros bebês editados geneticamente
Descoberta divulgada em vídeo recebeu enxurrada de críticas, inclusive de outros especialistas
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O desenvolvimento foi divulgado no domingo em um artigo publicado pela revista MIT Technology Review, que fez referência a documentos médicos postados on-line pela equipe de pesquisa de He para recrutar casais para os experimentos. O vídeo de He foi então publicado on-line, provocando um debate acalorado na comunidade científica, desde especialistas que lançam dúvidas sobre o avanço alegado até outros que o depreciaram como uma forma moderna de eugenia.
O cientista disse que os bebês, conhecidos como "Lulu" e "Nana", embora não sejam seus nomes verdadeiros, nasceram através da fertilização in vitro regular, mas usando um óvulo que foi especialmente modificado antes de ser inserido no útero. "Logo após injetar o esperma do marido no óvulo, um embriologista injetou uma proteína CRISPR/Cas9 encarregada de modificar um gene para proteger as meninas de uma futura infecção pelo HIV", disse o pesquisador.
A edição genética é uma correção potencial de doenças hereditárias, mas é extremamente controversa porque as mudanças seriam passadas para as gerações futuras e poderiam eventualmente afetar todo o pool genético. A MIT Technology Review alertou que esta "tecnologia é eticamente carregada". As reivindicações chegam antes de uma conferência de especialistas mundiais em Hong Kong esta semana, na qual He deve falar na quarta e quinta-feira. Mas ainda não há verificação independente de suas alegações, que não foram publicadas em um periódico revisado por pares.
"Altamente problemático"
A pesquisa foi fortemente criticada por cientistas e instituições chinesas. A universidade onde He trabalha disse que ele estava em licença não remunerada desde fevereiro e que sua pesquisa é uma "grave violação da ética e das normas acadêmicas". "Este trabalho de pesquisa foi realizado pelo professor He Jiankui fora da escola", disse a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul em um comunicado nesta segunda-feira.
Uma declaração conjunta de um grupo de 100 cientistas na China criticou os resultados e pediu uma melhor legislação sobre a fertilização in vitro. "É um grande golpe para a reputação global e o desenvolvimento da pesquisa biomédica na China", disse o comunicado postado na plataforma de mídia social Weibo. "É extremamente injusto para a grande maioria dos acadêmicos chineses que são diligentes em pesquisa científica e inovação".
Outros cientistas em todo o mundo também foram críticos. Alguns disseram que um vídeo do YouTube era uma maneira inadequada de anunciar descobertas científicas, e outros alertaram que a exposição de embriões e crianças saudáveis à edição genética era irresponsável. Joyce Harper, professora de genética e embriologia humana na UCL de Londres, disse: "O relatório de hoje de edição genética de embriões humanos para a resistência ao HIV é prematuro, perigoso e irresponsável".
A questão da edição do DNA humano é altamente controversa, e só é permitida nos EUA em pesquisas de laboratório - embora cientistas americanos tenham dito no ano passado que editaram com sucesso o código genético de leitões para remover infecções virais latentes. Mas esta não é a primeira vez que pesquisadores chineses experimentam com a tecnologia de embriões humanos.
Em setembro deste ano, cientistas da Universidade Sun Yat-sen usaram uma versão adaptada da edição genética para corrigir uma mutação causadora de doenças em embriões humanos. Há também uma história de fraude dentro da comunidade acadêmica da China - incluindo um escândalo no ano passado que levou à retirada de 100 trabalhos acadêmicos "comprometidos".
He Jiankui não respondeu a um pedido de comentários da AFP. Também não houve qualquer resposta de consultas aos organizadores da conferência de Hong Kong, e não está claro se eles estavam cientes do trabalho de He. Em um vídeo publicado no site da conferência, o biólogo e presidente da cúpula internacional David Baltimore afirma: "Nós nunca fizemos nada que mudará os genes da raça humana, e nunca fizemos nada que terá efeitos que persistirão através das gerações".