Com a necessidade do distanciamento na pandemia, telemensagens repassam carinho e reconhecimento

Com a necessidade do distanciamento na pandemia, telemensagens repassam carinho e reconhecimento

Demanda pelo serviço aumentou com a necessidade das pessoas permanecerem isoladas mesmo nas ocasiões mais especiais

Gabriel Guedes

Rodrigo não reclama do movimento durante a pandemia e tem se desdobrado para atender a todos os pedidos agendados

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O ramo de telemensagens, aparentemente apagado com o advento das redes sociais e encontros pessoais, ganhou um fôlego inesperado com a pandemia de Covid-19. Com a necessidade de as pessoas permanecerem distantes e nem poderem confraternizar, para evitar o contágio do novo coronavírus, alguns empreendedores foram surpreendidos com um aumento de até 100% nos pedidos, mas após sofrer um susto no início da pandemia, que teve até cancelamentos.

Hoje, quem está trabalhando no segmento, não consegue praticamente parar e chega a apresentar até 16 mensagens por dia e nos mais variados horários. Se antes os recados eram rodados da noite em diante e aos finais de semana, agora as homenagens com locução, vídeo, flores e cestas de presente ocorrem até mesmo pelas manhãs nos dias de semana.

Desde que iniciou o distanciamento social, o que mais foi notado pelos empreendedores é a mudança no perfil de público. Antes contratados por moradores de bairros mais populares e periféricos, agora as telemensagens chegam em lugares de grande poder aquisitivo de Porto Alegre. “Mudou bastante o público. Bastante clientes novos desde o isolamento”, avalia Rodrigo Gut, 40 anos, que atua há cerca de 20 anos com telemensagens. “Bairros que a gente não ia, como Moinhos de Vento e Montserrat, fomos neste ano”, confirma outro empreendedor, Luis Antonio Masil, 43 anos, que já faz telemensagens desde 1999.

Segundo Masil, foi esta mudança no público que permitiu aumentar a demanda, que antes da pandemia era de cerca de 100 telemensagens para 200 desde o início da pandemia. “Nos primeiros dias, com tudo parando, foi aquele susto e aí tivemos que demitir funcionários e ficamos eu e minha esposa”, conta.

A demanda frenética por pedidos faz com que nunca falte serviço, mas é preciso correr. As empresas têm atendido clientes em toda Grande Porto Alegre. Adriana, 43 anos, esposa de Masil, que antes atuava na administração da empresa, acabou tendo que atuar na linha de frente das mensagens. Já Gut conta com a força do filho, Rodrigo Júnior, de 13 anos, para auxiliá-lo a dar conta.

“Tem dia em que a gente fez 16 mensagens. Antes da Covid-19, era partir das 20h, 21h. Agora faço até de manhã”, lembra Gut. “Todos os dias temos eventos. Hoje, por exemplo, tenho mensagens às 20h em Viamão, 21h no São João, 22h no Partenon e 22h45min na Lomba do Pinheiro. Há dias em que começamos às 17h e terminamos às 3h30 da madrugada”, relata Masil.

Para enfrentar o preconceito que havia com o serviço, Gut afirma que foi necessário fazer um bom investimento no veículo utilizado para a entrega das mensagens e somar forças com a tecnologia.

“Tenho uma tela no porta-malas de carro. Aí recebo pelo WhatsApp vídeos com recados de quem está homenageando e reproduzo na TV. Foi o que fizemos recentemente para um casal que está com Covid-19 num condomínio do Sarandi”, relata. “Antigamente as pessoas achavam até brega. As empresas se qualificaram. É raro ver um veículo mais antigo. Também têm boa aparelhagem de som e luz”, destaca Masil.

Junto às mensagens, as empresas também têm apostado ainda na entrega de cestas, flores e quadros com fotos, bem como nos valores dos pacotes, que vão dos 100 aos quase 700 reais. Mas se ainda isso tudo não for o suficiente para substituir o abraço que falta, Masil lembra que é preciso também mais a quem contrata o serviço.

“Costumo brincar que qualquer um pode fazer evento: tem que saber, ler, escrever, não errar grafia e não ter vergonha de falar em público. Mas é fundamental que se saiba expressar o texto com a mensagem que se quer passar”, conclui.


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